Há uma palavra “mais do que mágica”, capaz de abrir “a porta da esperança que nem sequer vemos” e restituir o nome a quem o perdeu por ter confiado apenas em si mesmo e nas forças humanas. Esta palavra é “Pai” e deve ser pronunciada com a certeza de ouvir a voz de Deus que nos responde chamando-nos “filhos”. Evoca a essencialidade da fé a meditação quaresmal proposta pelo Papa Francisco na missa celebrada na manhã de 20 de março na capela de Santa Marta.
O convite a “confiar sempre no Senhor” vem, disse o Pontífice na homilia, dos textos da liturgia. Com efeito, “a primeira leitura de hoje (Jr 17, 5-10) começa com uma maldição: “Maldito o homem que confia no homem”. Por outro lado, “bendito é o homem que confia no Senhor” porque – diz a Escritura – “se assemelha à árvore plantada perto da água, que estende as suas raízes rumo ao regato; quando vem o calor, ela não teme, e a sua folhagem permanecerá verdejante; não a preocupa a seca de um ano, e continua a produzir frutos”.
“Esta imagem faz-nos pensar nas palavras de Jesus sobre a casa: feliz é o homem que edifica a sua casa na rocha e infeliz é aquele que a constrói na areia”. “Esta Palavra de Deus ensina-nos que só no Senhor encontramos a nossa confiança segura: outras confianças não nos salvam, não nos dão vida nem alegria, mas morte”.
Todos estamos de acordo com este ensinamento, mas “o nosso problema é que temos um coração infiel”, como diz a Escritura. Assim, embora saibamos que erramos, “gostamos de confiar em nós mesmos, num amigo, numa situação positiva, numa ideologia”, pondo “o Senhor um pouco de lado”.
Mas “por que é maldito o homem que confia no homem, em si mesmo? Porque tal confiança o fecha em si mesmo sem horizontes”, sem salvação, porque “não pode salvar-se a si mesmo”.
Depois, o Papa citou o trecho do Evangelho de Lucas (16, 19-31), que narra a história de “um homem rico que se vestia de púrpura e linho finíssimo, e que todos os dias se banqueteava”, sem se dar conta de que “à porta da sua casa havia um homem chamado Lázaro, todo coberto de chagas: um mendigo com os cães”. Lázaro “matava a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico”.
Estas palavras propõem uma reflexão: “Sabemos que o mendigo se chamava Lázaro, mas como se chama o homem rico? Não tem nome!”. “Esta é a maldição mais forte” para a pessoa que “confia em si mesma, nos homens e não em Deus: perder o nome!”. A tal ponto que à pergunta “come te chamas?” responde não com o seu nome, mas com “o número da conta bancária”, ou indicando “propriedades, coisas, ídolos”.
E “pensando nestas duas pessoas” – “o pobre que tem um nome e confia no Senhor, e o rico que perdeu o nome e só confia em si mesmo” – “dizemos: devemos confiar no Senhor!”. Mas “todos temos a fragilidade de depositar as nossas esperanças em nós, nos amigos, esquecendo-nos do Senhor”. É uma atitude que nos leva “pelo caminho da infelicidade”, como o rico do Evangelho que “no fim é infeliz porque se condena a si mesmo”.
É uma meditação apropriada para a quaresma, disse o Papa. “Hoje devemos perguntar: onde está a minha confiança? No Senhor ou nos ídolos que eu construí?”.
Referindo-se ainda ao Evangelho, Francisco disse que “há uma porta de esperança para todos aqueles que perderam o seu nome”, como testemunha o rico que, “quando se deu conta que perdeu o nome, eleva o olhar e pronuncia uma só palavra: “Pai!”. E a resposta de Deus é uma só: “Filho!”“, como é para todos aqueles que na vida apostam só na autoconfiança.
No final, o Pontífice pediu “ao Senhor a graça de conceder a todos nós a sabedoria de confiar unicamente nele”.
Fonte: L’Osservatore Romano
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