Homilia de 8 de janeiro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 3 de 15 de Janeiro de 2015
Foi em apoio pelas vítimas do cruel atentado terrorista cometido em Paris que o Papa Francisco celebrou a missa, disse ele mesmo no início do rito, manifestando toda a sua dor por este gesto feroz e vil, exprimindo uma proximidade especial aos familiares das vítimas e rezando para que transforme o coração dos agressores. “O atentado de ontem em Paris — afirmou — nos faz pensar em toda a crueldade humana, em todo o terrorismo, quer isolado, quer de Estado, na crueldade de que o homem é capaz! Oremos nesta missa pelas vítimas de tal crueldade, rezando também pelos cruéis, para que o Senhor mude o seu coração”.
Nestes dias, disse o Papa, “a palavra-chave na liturgia e na Igreja é ‘manifestação’: o Filho de Deus manifestou-se na festa da Epifania aos gentios; no Batismo, quando desce sobre Ele o Espírito Santo; nas bodas de Caná, quando transforma milagrosamente a água em vinho”: “são estes os três sinais que a liturgia apresenta nestes dias para nos falar da manifestação de Deus que se faz conhecer”. Mas “a pergunta é esta: como podemos conhecer Deus?”. Assim, colocamo-nos imediatamente diante — afirmou o Papa, referindo-se à primeira Leitura (1 Jo 4, 7-10) — “do argumento do apóstolo João na primeira Carta: o conhecimento de Deus”. Portanto, “como se pode conhecer Deus?”.
A esta pergunta, disse, “uma primeira resposta seria: podemos conhecer Deus com a razão”. Mas “posso conhecer Deus com a razão? Em parte sim”. Com efeito, “com o meu intelecto, raciocinando, observando as coisas do mundo, podemos primeiro compreender que existe um Deus e a sua existência pode ser entendida em alguns vestígios da personalidade de Deus”. Porém, esclareceu o Papa, “isto é insuficiente para conhecer Deus”, dado que “Deus se conhece totalmente no encontro com Ele, e para o encontro só a razão não é suficiente, é necessário algo mais: a razão nos ajuda a ir só até a um certo ponto”.
Na sua carta “João diz claramente o que é Deus: é amor”. Por isso, “só pelo caminho do amor podemos conhecer Deus”. Sim, “amor razoável, acompanhado da razão, mas amor”. Talvez possamos perguntar: “como posso amar quem eu não conheço?”. A reposta é clara: “Ama o teu próximo”, “esta é a doutrina dos dois mandamentos: o mais importante é amar a Deus, porque Ele é amor”, e o segundo “é amar o próximo, mas para chegar ao primeiro devemos subir pela escada do segundo”. Em síntese, “através do amor ao próximo chegamos a conhecer Deus, que é amor”.
Depois, o Papa quis repetir as palavras de são João: “Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus. Quem ama foi gerado por Deus”. Mas “não podes amar se Deus não puser o amor dentro de ti, se gerar em ti este amor”, pois “quem ama conhece Deus”. São João escreve: “quem não ama não conheceu Deus, porque Deus é amor”. Não nos referimos a um “amor de telenovela” mas, antes, a um “amor sólido, forte, eterno, que se manifesta no seu Filho que veio para nos salvar”. Então, é um “amor concreto, feito de obras e não de palavras”. Assim, “para conhecer Deus é necessária uma vida inteira: um caminho de amor, de conhecimento, de amor ao próximo, de amor a quem nos odeia, de amor a todos”.
Foi o próprio Jesus que “nos deu o exemplo do amor”: “não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos amou e nos enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados”. Por isso, “na pessoa de Jesus podemos contemplar o amor de Deus”. E “fazendo o que Jesus nos ensinou sobre o amor ao próximo chegamos ao conhecimento de Deus, que é amor”.
Depois, o Papa referiu-se a outro trecho da Escritura (Jr 1, 11-12), citando-o literalmente: Deus diz: “Que vês, Jeremias? Vejo um ramo de amendoeira. Viste bem, porque velo sobre a minha palavra para que se cumpra”. E “o ramo de amendoeira é o primeiro que floresce na primavera”. Isto significa que “o Senhor vigia”, é sempre “o primeiro, como a amendoeira, ama-nos primeiro”. Também nós “teremos sempre esta surpresa: quando nos aproximamos de Deus pelas obras de caridade, da oração, da Comunhão e da Palavra de Deus, vemos que já está ali à nossa espera”. E “como a flor de amendoeira, é o primeiro”.
Nesta perspectiva está também o trecho do Evangelho de Marcos (6, 34-44 ) proposto pela liturgia. “Diz-se que Jesus se compadeceu da multidão, é o seu amor: viu tantas pessoas, como ovelhas sem pastor, desorientadas”. Mas também hoje há “muita gente desnorteada nas nossas cidades e países”. Quando “Jesus viu a multidão desorientada, compadeceu-se: começou a ensinar-lhes a doutrina e as pessoas ouviam-no porque falava bem, falava ao seu coração”.
Mas depois Jesus deu-se conta de que cinco mil pessoas não tinham o que comer e chamou os discípulos. É Cristo que “vai primeiro ao encontro do povo”. Por sua vez, talvez “os discípulos tenham se enervado e a sua resposta foi forte: devemos ir comprar duzentos denários de pão para lhes dar de comer?”. “Os discípulos não tinham entendido nada!”. Mas “o amor de Deus é assim: espera-nos sempre, surpreende-nos sempre”. É “o nosso Pai que nos ama muito e está sempre disposto e perdoar-nos”. Não uma vez, mas “setenta vezes sete: sempre, como um Pai cheio de amor”. Assim, “para conhecer este Deus que é amor devemos subir a escada do amor ao próximo, pelas obras de caridade e de misericórdia que o Senhor nos ensinou”.
O Papa concluiu com uma oração: “Nestes dias que a Igreja nos faz pensar na manifestação de Deus, o Senhor nos conceda a graça de conhecê-Lo pelo caminho do amor”.
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