Homilia de 23 de janeiro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 5 de 29 de Janeiro de 2015
A confissão não é um “juízo” nem uma “lavanderia” que tira as manchas dos pecados, mas o encontro com um Pai que perdoa sempre, perdoa tudo, esquece as culpas do passado e depois até festeja. E foi precisamente a realidade do abraço de reconciliação com Deus que o Papa propôs. Na celebração estavam presentes também representantes da comunidade filipina residente em Roma, que ao redor de Francisco quiseram reviver a alegria da recente viagem pastoral.
Em Cristo, Deus reconciliou o mundo consigo e confiou-nos a palavra reconciliação: eis o ponto de partida escolhido por Francisco para a sua meditação: “É bom este trabalho de Deus: reconciliar” frisou o Papa, pondo logo em evidência que Deus confia “também a nós esta tarefa” ou seja “reconciliar, reconciliar sempre”. Não há dúvida, observou o Papa, que “o cristão é homem ou mulher de reconciliação, não de divisão”. De resto “o pai da divisão é o diabo”. Depois, é o próprio Deus que dá “este exemplo de reconciliação do mundo, das pessoas”. A referência é “ao que ouvimos na primeira leitura”, tirada da carta aos Hebreus (8, 6-13), em particular àquela “promessa tão bela”: “Farei uma nova aliança”. Uma questão tão decisiva que, disse o bispo de Roma, neste trecho “se fala cinco vezes de aliança”. Com efeito, “é Deus quem reconcilia, mas estabelecendo uma nova relação conosco, uma nova aliança”. E “por isso envia Jesus; o Deus que reconcilia e perdoa”.
O trecho da carta aos Hebreus, prosseguiu Francisco, “acaba com aquela bonita promessa: “E não me recordarei mais dos seus pecados”. É “o Deus que perdoa: o nosso Deus perdoa, reconcilia, renova a aliança e perdoa”. Mas “como perdoa Deus? Antes de tudo, Deus perdoa sempre! Nunca se cansa de perdoar. Somos nós que nos cansamos de pedir perdão. Mas ele nunca se cansa de perdoar”. A ponto que “quando Pedro pergunta a Jesus: quantas vezes devo perdoar, sete vezes?”, a resposta que recebe é eloquente: “Não sete vezes mas setenta vezes sete”. Ou seja, “sempre”, porque é precisamente “assim que Deus perdoa: sempre”. Por conseguinte “se vive uma vida com tantos pecados, tantas coisas más, mas no fim, fica um pouco arrependido, pede perdão, ele lhe perdoa imediatamente. Ele perdoa sempre”.
“Outra coisa” importante que o Pontífice quis reafirmar foi que Deus não só “perdoa sempre”, mas também que perdoa “tudo: não há pecado que ele não perdoe”. E “muitas vezes não lhe deixa falar: começas a pedir perdão e ele lhe faz sentir aquela alegria do perdão antes que você tenha acabado de dizer tudo”. Precisamente “como aconteceu com aquele filho que, depois de ter esbanjado todo o dinheiro da herança, com uma vida imoral”, depois “arrependeu-se” e preparou um discurso para se apresentar diante do pai. Mas “quando chegou o pai não o deixou falar, abraçou-o: porque ele perdoa tudo”.
Certamente o abraço é um sinal do perdão. Mas “há outra coisa que Deus faz quando perdoa: festeja!”. E “esta — esclareceu o Pontífice — não é uma imagem, é Jesus que diz: Haverá festa no Céu quando um pecador vem ao Pai”. Portanto “Deus festeja muito”. Assim “quando sentimos o nosso coração sobrecarregado com os pecados, podemos dizer: vamos até o Senhor e dar-lhe a alegria para que me perdoe e festeje”. Deus “faz assim: festeja sempre porque reconcilia”.
Prosseguindo a meditação sobre a carta aos Hebreus, o Papa propôs as palavras conclusivas. Que, explicou, sugerem “um aspecto bom sobre o modo de perdoar de Deus: Deus esquece”. Por outras palavras, também diz o profeta Isaías: “Os teus pecados lançá-los-ei ao mar e se forem vermelhos como o sangue, tu tornar-te-ás branco como o cordeirinho”.
À luz desta reflexão o Papa recordou que “quando um de nós — um sacerdote, um bispo — vai se confessar, deve pensar sempre: “estou disposto a perdoar tudo? Estou disposto a perdoar sempre? Estou disposto a alegrar-me e a festejar? Estou disposto a esquecer os pecados daquela pessoa?”. Assim “se não está disposto, é melhor que naquele dia não vá se confessar: que vá outro, porque você não tem o coração de Deus para perdoar”. Com efeito, “na confissão, é verdade, há um juízo, porque o sacerdote julga” dizendo: “errou nisto, fez...”. Mas explicou o Papa “é mais do que um juízo: é um encontro, um encontro com o Deus bom que perdoa sempre, que perdoa tudo, que sabe festejar quando perdoa e que esquece os seus pecados quando lhe perdoa”. E “nós, sacerdotes, devemos ter esta atitude: fazer encontrar”. Mas “muitas vezes as confissões parecem uma prática, uma formalidade”, onde tudo é “mecânico”, mas assim, questionou o Pontífice, onde está “o encontro com o Senhor que reconcilia, que abraça e faz festa? É este o nosso Deus, tão bom”.
É importante também, evidenciou o Papa, “ensinar a confessar-se bem, de modo que as nossas crianças, os nossos jovens, aprendam” e recordem que “ir confessar-se não significa ir à lavanderia para que tirem uma mancha”: confessar-se “significa ir ao encontro do Pai que reconcilia, perdoa e festeja”.
Concluindo, Francisco convidou a “pensar nesta aliança que o Senhor faz todas as vezes que pedimos perdão”. Os votos, disse ainda o Papa, são por que “o Senhor nos conceda a graça de nos sentirmos contentes hoje por ter um Pai que perdoa sempre, que perdoa tudo, que festeja quando perdoa e que se esquece da nossa história de pecado”.
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