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DE SANTA MARTA

Salvação privatizada

por Papa Francisco
05/02/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 29 de janeiro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 6 de 5 de Fevereiro de 2015

Deus salva-nos “pessoalmente”, “com nome e sobrenome”, mas sempre inseridos num “povo”, o Papa alertou contra o risco de “privatizar a salvação”: “existem formas e condutas que são erradas, modelos equívocos de levar a vida cristã”. Relendo o trecho da Carta aos Hebreus proposto pela liturgia (10, 19-25), o Pontífice realçou que se é verdade que Jesus “inaugurou um caminho novo e vivo” e “nós devemos segui-lo”, também é verdade que “devemos segui-lo como o Senhor quer, segundo a forma que Ele deseja”. E um modelo errôneo é aquele que tende a “privatizar a salvação”.

Jesus “salvou-nos todos, mas não genericamente. Todos, cada um, com nome e sobrenome. Esta é a salvação pessoal”: cada um de nós pode dizer “para mim”, pois “o Senhor olhou para mim, deu a sua vida por mim, abriu esta porta, esta vida nova para mim”. Todavia, há o “perigo de esquecer que Ele nos salvou individualmente, mas num povo”: “o Senhor salva sempre no povo”. Quando o Senhor “chama Abraão, promete que dele fará um povo”. Por isso, na Carta aos Hebreus lê-se: “Prestemos atenção uns aos outros”. Se, insistiu o Papa, eu interpreto a salvação “como salvação só para mim”, “erro o caminho: a privatização da salvação é uma via equívoca”.

Então, “quais são os critérios para não privatizar a salvação?”. Encontram-se no trecho da carta. “Antes de tudo, o critério da fé” explicou. “A fé em Jesus purifica-nos”: “aproximemo-nos com o coração sincero, na plenitude da fé, com o coração purificado de toda a má consciência”. O primeiro critério é “o sinal da fé, o caminho da fé”. Há outro critério, que reside “numa virtude muito esquecida: a esperança”. Devemos manter “sem vacilar a profissão da nossa esperança”, que é “como a serva: é ela que nos leva em frente, que nos faz considerar as promessas e progredir”. Enfim, o terceiro critério é a “caridade”: devemos “prestar atenção uns aos outros para nos estimular reciprocamente na caridade e nas boas obras”. Um exemplo concreto, disse, pode vir da vida numa paróquia ou comunidade: quando posso “privatizar a salvação”, “ser só um pouco social”. Para evitar este risco, “devo perguntar se falo, se comunico a fé; se falo, se comunico a esperança; se falo, se pratico e comunico a caridade”, pois “se numa comunidade não se fala, não se dá coragem uns aos outros nestas três virtudes, os membros de tal comunidade privatizaram a fé”.

Eis o erro: “cada qual procura a sua salvação, não a salvação de todos, a salvação do povo”. Mas “Jesus salvou cada um, num povo, numa Igreja”. Neste ponto, acontece que “tu és salvo, mas não como o Senhor te salvou”. A este respeito, o autor da Carta aos Hebreus “dá um conselho muito importante: não evitemos as reuniões”. Um conselho “prático” que o Papa quis explicar, pois “quando participamos numa reunião — na paróquia, no grupo — e julgamos o outro” dizendo: “Não gosto disto... venho porque devo vir, mas não gosto”, acabamos por “desertar”. E sobressai “uma espécie de desprezo pelo outro. Não é esta a porta, a via nova e viva que o Senhor abriu”.

Isto acontecia também nos primeiros anos de vida da Igreja. Por exemplo, Paulo “critica aqueles que vão às reuniões para servir a Eucaristia mas levam algo para comer só entre si, deixando os outros de lado. Desprezam os outros; evitam a comunidade total; evitam o povo de Deus”: “privatizaram a salvação” pensando: “a salvação é para mim, para o meu grupo, não para todo o povo de Deus”.

Este é, recordou, um erro muito grande. É o que chamamos e vemos: “as elites eclesiais”. Acontece quando “no povo de Deus se criam grupinhos”, os quais “pensam que são bons cristãos” e talvez até tenham “boa vontade, mas são grupinhos que privatizaram a salvação”.

Portanto, resumiu o Papa, os critérios para reconhecer “se estou na minha paróquia, no meu grupo, na minha família, se sou um verdadeiro filho da Igreja, filho de Deus salvo por Jesus no seu povo: se falo da fé, da esperança, da caridade”. Mas atenção: “quando num grupo se fala de muitos assuntos, mas não se encorajam uns aos outros, não se praticam boas ações, acaba-se por evitar o grupo grande para criar grupinhos de elite”. Mas Deus “salva-nos num povo, não nas elites, que criamos com as nossas filosofias ou o nosso modo de entender a fé”. Por isso, devemos perguntar: “Tenho a tendência a privatizar a salvação para mim, para o meu grupinho, para a minha elite, ou não evito todo o povo de Deus e estou sempre na comunidade, em família, com a linguagem da fé, da esperança e das obras de caridade?”. O Papa concluiu com os votos “de que o Senhor nos conceda a graça de nos sentirmos sempre povo de Deus, salvos pessoalmente”, pois é verdade que “Ele nos salva com nome e sobrenome”, mas “num povo, não no grupinho que crio para mim”.

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