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DE SANTA MARTA

Decapitados por serem cristãos

por Papa Francisco
19/02/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 17 de fevereiro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 8 de 19 de Fevereiro de 2015

“Ofereçamos esta missa pelos nossos vinte e um irmãos coptas, decapitados só porque eram cristãos”, disse o Papa Francisco na celebração presidida na manhã de terça-feira 17 de Fevereiro na capela da Casa de Santa Marta. “Rezemos por eles — acrescentou — a fim de que o Senhor os acolha como mártires, pelas suas famílias, pelo meu irmão Tawadros que sofre muito”. Precisamente com o patriarca da Igreja ortodoxa copta, Tawadros II, o Papa falou por telefone na tarde de segunda-feira, manifestando-lhe a sua profunda participação na dor pelo bárbaro assassinato cometido pelos fundamentalistas islâmicos, garantindo também a sua oração por ocasião do funeral.

Repetindo as palavras da antífona da entrada tiradas do salmo 31, 3-4, o Papa Francisco iniciou a homilia. O trecho do Livro do Gênesis sobre o dilúvio (6, 5-8; 7, 1-5.10), proposto pela liturgia do dia “faz-nos pensar — disse o Pontífice — na capacidade de destruição que o homem tem: ele é capaz de destruir tudo o que Deus fez” quando “pensa que é mais poderoso do que Deus”. “Deus pode fazer coisas boas mas o homem é capaz de destruir todas”.

Também “na Bíblia, nos primeiros capítulos, encontramos muitos exemplos, desde o início”. Por exemplo, explicou Francisco, “o homem chama o dilúvio por causa da sua maldade: é ele quem o evoca!”. “O homem atrai o fogo do céu, em Sodoma e Gomorra, pela sua maldade”. “O homem cria a confusão, a divisão da humanidade — Babel, a Torre de Babel — pela sua maldade”. Enfim, “o homem é capaz de destruir, somos capazes de destruir”.

Não é questão de ser demasiado negativo, frisou o Papa, porque “esta é a verdade”. A tal ponto que “somos capazes de destruir inclusive a fraternidade”, como demonstra a história de “Caim e Abel nas primeiras páginas da Bíblia”. Um episódio que “destrói a fraternidade é o início das guerras: os ciúmes, as invejas, muita avidez de poder, de conquistar mais poder”. Sim, afirmou Francisco, “isto parece negativo, mas é realista”. De resto, acrescentou, é suficiente ler “um jornal qualquer” para ver “que mais de noventa por cento das notícias são de destruição: mais de noventa por cento! Vemos isto todos os dias!”.

Mas então “o que acontece no coração do homem?” interrogou-se o Papa. “Uma vez, Jesus advertiu os seus discípulos de que o mal não entra no coração do homem porque ele come algo que não é puro, mas porque sai do coração”. “Do coração do homem sai toda a maldade”. De fato, “o nosso coração débil está ferido”. Há “sempre a vontade de autonomia” que leva a dizer: “Faço o que quero e se eu tiver vontade de algo, faço! E se quero fazer uma guerra, faço-a! E se quiser destruir a minha família, destruo-a! Se quiser matar o vizinho, mato-o!”. Mas precisamente “são estas as notícias diárias” frisou o Papa, observando que “os jornais não nos dão notícias de vida de santos”.

Por conseguinte, continuou repropondo a questão central, “por que somos assim?”. A resposta é direta: “Porque temos esta possibilidade de destruição, este é o problema!”. E fazendo deste modo, depois “nas guerras, no tráfico de armas somos empresários de morte!”. “Há países que vendem armas a um que está em guerra com outro, e também a este outro, para que continuem a guerra”. O problema é precisamente a “capacidade de destruição, que não vem do próximo, mas de nós mesmos”.
“Todos os nossos pensamentos e desejos tendem sempre e unicamente para o mal”, disse Francisco, recordando que “nós temos esta semente dentro, esta possibilidade”. Mas “temos também o Espírito Santo que nos salva”. Trata-se portanto de escolher a partir das “pequenas coisas”. Assim, “quando uma mulher vai ao mercado e se encontra com uma amiga, começam a conversar, a fofocar da vizinha, esta mulher mata, é malvada”. Acontece “no mercado” mas também “na paróquia, nas associações: quando há ciúmes, invejas, vão até ao pároco para dizer ‘mas isto não, isto sim, este faz’”. Também “isto é maldade, a capacidade que todos temos de destruir”.

É sobre este ponto que “hoje a Igreja, nas vésperas da Quaresma, nos faz refletir”. O convite do Papa é para que nos perguntemos a razão disto, a partir do trecho evangélico de Marcos (8, 14-21). “No Evangelho Jesus reprova os discípulos que discutiam: ‘mas tu devias trazer o pão — Não, tu!’”. Os doze “como sempre, discutiam entre si”. E Jesus dirige-lhes “uma bonita palavra: ‘Prestai atenção, evitai o fermento dos fariseus e o fermento de Herodes’”. “Cita o exemplo de duas pessoas: Herodes é malvado, assassino, e os fariseus são hipócritas”. Mas o Senhor menciona também o “fermento” e eles não compreendem.

Como narra Marcos, o fato é que os discípulos “falavam de pão, deste pão, e Jesus diz: ‘mas aquele fermento é perigoso, que temos dentro e que nos leva a destruir. Evitai-o, prestai atenção!’”. Depois, Jesus indica a outra porta: “Tendes o coração endurecido? Não vos recordais de quando multipliquei os cinco pães, a porta da salvação de Deus?”. Com efeito, “através dessa via da discussão — disse — nunca faremos algo de bom, haverá sempre divisões, destruição!”. E continuou: “Pensai na salvação, no que Deus fez por nós, e escolhei bem!”. Mas os discípulos “não compreendiam, porque o coração estava endurecido por esta paixão, por esta maldade de discutir entre si e ver quem era o culpado do esquecimento do pão”.
Em seguida, Francisco exortou a levar “a sério esta mensagem do Senhor”. Com a consciência de que “estas não são coisas estranhas, não é o discurso de um marciano”, ao contrário, são “coisas que acontecem na vida”. E para verificá-lo, repetiu, basta ler “o jornal, nada mais!”.

Contudo, acrescentou, “o homem é capaz de praticar o bem: pensemos em madre Teresa, por exemplo, uma mulher do nosso tempo”. Mas se “todos somos capazes de fazer tanto bem” somos também “capazes de destruir no macro e no micro, na mesma família: destruir os filhos, não os deixando crescer em liberdade, não os ajudando a crescer bem” e de qualquer maneira anulando-os. E dado que temos “esta capacidade”, para nós “é necessária a meditação contínua: a oração, o confronto entre nós” exatamente “para não cair nesta maldade que destrói tudo”.
E “temos a força” para fazê-lo, como “nos recorda Jesus”. “Recordai-vos de mim, que derramei o meu sangue por vós; recordai-vos de mim que vos salvei; recordai-vos de mim que tenho a força de vos acompanhar no caminho da vida, não pela via da maldade mas pelo caminho da bondade, da prática do bem aos outros; não pela estrada da destruição mas da edificação: construir uma família, uma cidade, uma cultura, uma pátria, cada vez mais!”.

A reflexão deste dia levou Francisco a pedir ao Senhor, “antes de começar a Quaresma”, a graça de “escolher sempre bem o caminho com a sua ajuda e de não nos deixarmos enganar pelas seduções que nos levarão pelo caminho errado”.

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