Homilia de 9 de fevereiro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 7 de 12 de Fevereiro de 2015
Deus está sempre em ação por amor e cabe a nós responder-lhe com responsabilidade e com espírito de reconciliação, deixando espaço ao Espírito Santo. Foi o convite dirigido pelo Papa durante a missa celebrada na capela da Casa de Santa Marta.
“A liturgia da Palavra de hoje — explicou imediatamente Francisco referindo-se ao trecho do Gênesis (1, 1-19) — leva-nos a pensar, a meditar sobre as obras de Deus: Deus age”. A ponto que “o próprio Jesus disse: ‘Meu Pai ainda trabalha, ainda está em ação; Eu também!’“. E assim, recordou o Papa, “alguns teólogos medievais explicavam: primeiro Deus, o Criador, cria o universo, cria os céus, a terra, os vivos. Ele cria. O trabalho de criação”. Porém “a criação não acaba: Ele sustenta constantemente o que criou, age para sustentar o que criou para que possa ir em frente”.
Precisamente no Evangelho de Marcos (6, 53-56), observou o Papa “vemos ‘a outra criação’ de Deus” ou seja “a de Jesus que vem para ‘recriar’ quando foi arruinado pelo pecado”. E “vemos Jesus no meio das pessoas”. Escreve com efeito Marcos: “Assim que saíram da barca, o povo o reconheceu. Percorrendo toda aquela região, começaram a levar, em leitos, os que padeciam de algum mal, para o lugar onde ouviam dizer que ele se encontrava; e todos os que tocavam em Jesus ficavam sãos”. É “A ‘re-criação’“ e “a liturgia exprime a alma da Igreja nisto, quando se recita uma oração bonita: ‘Oh Deus Tu que tão maravilhosamente criaste o universo, mas ainda mais maravilhosamente o criaste na redenção’“. Portanto, “esta ‘segunda criação’ é mais maravilhosa do que a primeira, este segundo trabalho é mais maravilhoso”.
Há também, prosseguiu Francisco, “outro trabalho: o trabalho da perseverança na fé, e Jesus afirma que quem o realiza é o Espírito Santo: ‘Eu enviar-vos-ei Paráclito e Ele ensinar-vos-á e recordar-vos-á o que eu disse’“. É “o trabalho do Espírito dentro de nós, para revigorar a palavra de Jesus, para conservar a criação, para garantir que esta criação não venha a faltar”. Portanto “a presença do Espírito torna viva a primeira criação e a segunda”.
Em síntese “Deus age, continua a trabalhar e nós podemos perguntar-nos como devemos responder a esta criação de Deus, que nasceu do amor porque Ele trabalha por amor”. Assim “à ‘primeira criação’ devemos responder com a responsabilidade que o Senhor nos dá: ‘A terra é vossa, ocupai-vos dela; deixai que cresça!’“. Por conseguinte “nós também temos a responsabilidade de fazer crescer a terra, de fazer crescer a criação, de preservá-la e fazer crescer segundo as suas leis: nós somos senhores da criação, não donos”. E não devemos “nos apoderar da criação, mas fazer com que ela possa ir em frente, fiéis às suas leis”. É esta precisamente “a primeira resposta à obra de Deus, trabalhar para preservar a criação, para a fazer frutificar”.
Nesta perspectiva, afirmou o Papa, “quando nós ouvimos que as pessoas fazem reuniões para pensar em como preservar a criação, podemos dizer: ’Mas não, são os ambientalistas!’“. Ao contrário, realçou, “não são os ambientalistas: é uma atitude cristã!”. E “é a nossa resposta à ’primeira criação’ de Deus, é a nossa responsabilidade!”. De fato, “um cristão que não preserva a criação que não a faz crescer, é um cristão ao qual não interessa a obra de Deus, aquele trabalho que nasceu do amor de Deus por nós”. E “esta é a resposta imediata à primeira criação: preservar a criação, fazê-la crescer”.
Mas “como respondemos à ‘segunda criação’?” perguntou Francisco, relevando que, a este propósito, “o apóstolo Paulo nos diz uma palavra justa, que é a verdadeira resposta: ‘Deixai-vos reconciliar com Deus’“. Trata-se, explicou, daquela “atitude interior aberta para percorrer constantemente o caminho da reconciliação interior, da reconciliação comunitária, porque a reconciliação é obra de Cristo”. E Paulo diz ainda: “Deus reconciliou o mundo em Cristo”. E “esta é a segunda resposta”. Portanto, “à ‘segunda criação’ nós dizemos: ‘Sim, devemos deixar-nos reconciliar com o Senhor’“.
Francisco propôs também outra questão: “E como respondemos ao trabalho que o Espírito Santo faz em nós, recordando-nos as palavras de Jesus, explicando, fazendo-nos compreender o que Jesus disse?”. Foi precisamente “Paulo quem disse” para não entristecer “o Espírito Santo que está em vocês! Não entristeça o Espírito Santo”. E isto “porque nós acreditamos num Deus pessoal. Deus é pessoa: é pessoa Pai, pessoa Filho e pessoa Espírito Santo”. Aliás, “os três estão envolvidos nesta criação, nesta recriação, nesta perseverança na re-criação”. Assim “aos três nós respondemos: preservar e fazer crescer a criação, deixar-nos reconciliar com Jesus, com Deus em Jesus, em Cristo, todos os dias, e não entristecer o Espírito Santo, não afastá-lo: é o hóspede do nosso coração, que nos acompanha, nos faz crescer”.
Ao concluir o Papa rezou a fim de que “o Senhor nos dê a graça de compreender que Ele está em ação; e nos dê a graça de responder justamente a esta obra de amor”.
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