Homilia de 10 de março, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 11 de 12 de Março de 2015
“Pedir perdão não é um simples pedido de desculpa”. Não é fácil, assim como “não é fácil receber o perdão de Deus: não porque ele não queira conceder a nós, mas porque fechamos a porta sem perdoar” os outros. A reflexão teve início a partir do trecho da primeira leitura, tirada do livro do profeta Daniel (3, 25.34-43), no qual se lê sobre o profeta Azarias que “estava na provação e recordou a provação do seu povo, que era escravo”. Mas, esclareceu o Pontífice, o povo “não era escravo por acaso: mas porque tinha abandonado a lei do Senhor, tinha pecado”. Portanto Azarias reza assim: “Não nos abandoneis, por amor do teu nome! Não nos deixeis sem a tua misericórdia! Tornamo-nos pequenos, pecamos. Hoje somos humilhados. Pedimos misericórdia”. Isto é, Azarias “arrepende-se. Pede perdão pelos pecados do seu povo”. O profeta, portanto, “na provação não se lamenta diante da Deus”, não diz: “Mas você é injusto conosco, olha o que acontece agora...”. Ao contrário, ele afirma: “Pecamos e merecemos isto”. O detalhe fundamental: Azarias “tinha o sentido do pecado”.
Depois, o Papa frisou que Azarias não diz ao Senhor: “Desculpa, erramos”. De fato, “pedir perdão é outra coisa, é diferente de pedir desculpa”. Trata-se de duas atitudes diversas: a primeira limita-se ao pedido de desculpa, a segunda implica o reconhecimento de ter pecado.
Com efeito, o pecado “não é um simples erro. O pecado é idolatria”, é adorar os “muitos ídolos que possuímos”: o orgulho, a vaidade, o dinheiro, o “eu mesmo”, o bem-estar. O motivo pelo qual Azarias não pede simplesmente desculpa mas “pede perdão”.
Por conseguinte, o trecho litúrgico do Evangelho de Mateus (18, 21-35) levou Francisco a enfrentar a outra face do perdão: do perdão pedido a Deus ao perdão concedido aos irmãos. Pedro pergunta a Jesus: “Senhor, se o meu irmão comete culpas contra mim, quantas vezes lhe devo perdoar?”. No Evangelho “não há muitos momentos em que uma pessoa pede perdão”, explicou o Papa, recordando alguns desses episódios. Por exemplo, “a pecadora que chora sobre os pés de Jesus, molhando-os com as suas lágrimas, enxugando-os com os seus cabelos”: nesse caso, disse o Pontífice, “a mulher pecou muito, amou muito e pede perdão”. Poderíamos lembrar também o episódio no qual Pedro, “depois da pesca milagrosa, diz a Jesus: ‘Afasta-te de mim, que sou um pecador’”: contudo, ele “dá-se conta de que não errou, que há outra coisa dentro de si”. Podemos lembrar “quando Pedro chora, na noite de quinta-feira santa, quando Jesus olha para ele”.
Contudo, são “poucos os momentos em que se pede perdão”. Mas no trecho proposto pela liturgia Pedro pergunta ao Senhor a medida do nosso perdão: “Sete vezes, só?”. Ao apóstolo “Jesus responde com um jogo de palavras que significa ‘sempre’: setenta vezes sete, isto é, deves perdoar sempre”.
Francisco frisou que aqui fala-se de “perdoar”, não simplesmente de um pedido de desculpas por um erro: perdoar “quem me ofendeu, que me fez sofrer, que com a sua maldade feriu a minha vida, o meu coração”.
A pergunta então, para cada um de nós: “Qual é a medida do meu perdão?”. A resposta pode vir da parábola narrada por Jesus, do homem “ao qual tudo foi perdoado, muito dinheiro, muitos milhões”, e depois, muito “contente” pelo seu perdão, sai e “encontra uma pessoa que lhe devia talvez 5 euros e manda-o para a prisão”. O exemplo é claro: “Se eu não for capaz de perdoar, não sou capaz de pedir perdão”. Portanto “Jesus ensina-nos a rezar ao Pai: ‘Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido’”.
Que significa isto concretamente? O Papa Francisco respondeu imaginando o diálogo com um penitente: “Padre, mas confesso-me... — E que você faz antes de se confessar? — Penso nas coisas más que pratiquei — Muito bem — depois peço perdão ao Senhor e prometo que não as volto a cometer... — Muito bem. E depois vai até o sacerdote?”. Mas antes “falta-lhe algo: perdoou os que fizeram sofrer?”. Se a oração que nos foi sugerida é: “Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, sabemos que “o perdão que Deus nos concederá” exige “o perdão que você dá aos outros”.
Concluindo, Francisco resumiu a meditação: antes de tudo, “pedir perdão não é um simples pedido de desculpa” mas “é estar ciente do pecado, da idolatria que pratiquei, das muitas idolatrias”; em segundo lugar, “Deus perdoa sempre”, mas requer também que eu perdoe, porque “se não perdoar”, num certo sentido é como se fechasse “a porta ao perdão de Deus”. Uma porta que, ao contrário, devemos manter aberta: deixemos entrar o perdão de Deus a fim de que possamos perdoar os outros.
© Copyright - Libreria Editrice Vaticana
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón