Vai para os conteúdos

DE SANTA MARTA

Não fecheis aquela porta

por Papa Francisco
21/03/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 17 de março, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 12 de 19 de Março de 2015

A Quaresma é o tempo propício para pedir ao Senhor “para todos nós, para a Igreja inteira”, a “conversão à misericórdia de Jesus”, porque muitas vezes os cristãos “são especialistas em fechar as portas às pessoas” que, debilitadas pela vida e pelos seus erros, estariam dispostas a recomeçar, “pessoas cujo coração o Espírito Santo anima a ir em frente”. A lei do amor esteve no centro da reflexão do Papa, que, partindo da primeira leitura do dia (Ez 47, 1-9.12), na qual se fala da água que brota do templo, “uma água benta, abundante como a graça de Deus”, que “cura as nossas feridas”.

A água volta no Evangelho (Jo 5, 1-16) onde se fala de uma piscina junto da qual “havia muitos enfermos” e sobre a qual, “segundo a tradição”, de vez em quanto descia um anjo” que movia as águas e os doentes que nela entrassem “eram curados”. Ali havia também “um homem doente há 38 anos”. Jesus perguntou-lhe: “Queres ser curado?”. O enfermo respondeu: “Senhor, não tenho ninguém que me ajude a entrar na piscina... e outros antecipam-me”. Era “um homem derrotado” que “tinha perdido a esperança”, era “não só paralítico” mas sofria também de acídia. “A acídia tornava-o triste, indolente”. Outra pessoa “teria encontrado um modo de chegar a tempo”. Mas ele “não queria ser curado”; não tinha “força”, mas sentia “amargura na alma: ‘Os outros chegam antes e deixam-me de lado’”, e “também um ressentimento”. Era “uma alma triste”.

“Jesus tem misericórdia” daquele homem e diz: “Levanta-te, pega na tua maca e caminha”. Depois, o Papa acrescentou: “Aquele homem ficou curado, pegou na sua maca e começou a caminhar, mas estava tão doente que não conseguia crer”. Mas “era sábado e o homem encontrou alguns doutores da lei”, que lhe perguntaram: “Por que carregas isto? Não podes, hoje é sábado”. O homem respondeu: “Fui curado! Aquele que me curou disse-me: ‘Pega na tua maca’”. Em vez de se alegrar, os doutores começam “uma investigação”: “Vejamos o que aconteceu, pois existe a lei... que devemos seguir”. O homem continua a caminhar “um pouco triste”. Mas o Papa comentou: “Sou mau, mas às vezes penso no que teria acontecido se o homem tivesse dado um bom cheque aos doutores. Teriam respondido: ‘Vai em frente, sim, desta vez vai em frente! ’”.

Continuando a leitura do Evangelho, vemos Jesus que “volta a encontrar aquele homem e diz: ‘Foste curado, não voltes a pecar para que não te aconteça algo pior’”. Assim, ele vai até os doutores da lei e diz: “O homem que me curou chama-se Jesus”. E “por isso os judeus começaram a persegui-lo, porque fazia tais coisas no dia de sábado”.

Esta história, disse o Papa, “acontece muitas vezes: um homem, uma mulher que se sente doente na alma, triste, cometeu muitos erros na vida, num certo momento sente que águas se movem, é o Espírito Santo”. E reage: “Gostaria de ir!”. E “com coragem, vai”. Ma “quantas vezes hoje encontra as portas fechadas nas comunidades cristãs”. Talvez lhe digam: “Não pode; errou e por isso não pode entrar. Se quiser, vem à missa de domingo”; “o que o Espírito faz no coração das pessoas, os cristãos destroem-no com psicologia de doutores da lei”.

Mas o Pontífice disse que a Igreja “é a casa de Jesus, e Ele não só acolhe mas vai ao encontro das pessoas”. “E se alguém está ferido, o que faz Jesus? Repreende-o? Não, carrega-o às costas”. Isto “chama-se misericórdia”. O próprio Deus “alerta o povo: quero misericórdia, não sacrifício! ’”.

Francisco concluiu, sugerindo um compromisso na vida diária: “Na Quaresma, devemos converter-nos”. Alguém poderia admitir: “Padre, há muitos pecadores na rua: roubam, vivem em acampamentos de ciganos... e nós desprezamos esta gente”. Mas, “e você, quem é você que fecha a porta do seu coração a um homem que quer melhorar, voltar ao povo de Deus, porque o Espírito Santo agiu no seu coração?”. Ainda hoje há cristãos que se comportam como os doutores da lei e “fazem como faziam a Jesus”: “Ele diz uma heresia, isto não se pode fazer, é contrário à disciplina da Igreja, contra a lei”. Assim, fecham as portas a muitas pessoas. Por isso, “peçamos hoje ao Senhor” a “conversão à misericórdia de Jesus”: só assim “a lei será cumprida, porque a lei consiste em amar a Deus e ao próximo como a nós mesmos”.

© Copyright - Libreria Editrice Vaticana

Outras notícias

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

Volta ao início da página