Homilia de 26 de março, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 14 de 2 de abril de 2015
Alegria e esperança são as características do cristão. É triste encontrar um crente que não sabe rejubilar, amedrontado no seu apego à doutrina fria. Portanto, foi um verdadeiro hino à alegria que o Papa Francisco entoou durante a missa. No início recordou a “hora de oração pela paz” promovido em todas as comunidades carmelitas. “Queridos irmãos e irmãs”, disse depois da saudação litúrgica, “sábado, 28 de Março, celebra-se o quinto centenário de nascimento de Santa Teresa de Jesus, Virgem Doutora da Igreja”. E “a pedido do Prepósito-Geral dos Carmelitas Descalços, hoje presente aqui juntamente com o Padre Vicari, naquele dia terá lugar em todas as comunidades carmelitas do mundo um momento de oração pela paz. Uno-me de coração — afirmou Francisco — a esta iniciativa, a fim de que o fogo do amor de Deus vença os incêndios de guerra e violência que afligem a humanidade e prevaleça em toda parte o diálogo sobre o conflito armado”. E concluiu: “Santa Teresa de Jesus interceda por esta nossa súplica”.
“Nas duas leituras” da liturgia propostas hoje, frisou o Pontífice, “fala-se de tempo, de eternidade, de anos, de futuro e de passado” (Gn 17, 3-9 e Jo 8, 51-59). A ponto que precisamente “o tempo parece ser a realidade mais importante na mensagem litúrgica desta quinta-feira”. Mas Francisco preferiu “indicar outra palavra” que, sugeriu, “penso que seja exatamente a mensagem na Igreja hoje”. E são as palavras de Jesus citadas pelo evangelista João: “O vosso pai, Abraão, exultou com a ideia de ver o meu dia; viu-o e rejubilou”.
Portanto, a mensagem central de hoje é “a alegria da esperança, da confiança na promessa de Deus, a alegria da fecundidade”. “Abraão, no tempo do qual fala a primeira leitura tinha noventa e nove anos e o Senhor apareceu-lhe e garantiu a aliança” com estas palavras: “Quanto a mim, a minha aliança é contigo: tornar-te-ás pai”.
Abraão, recordou Francisco, “tinha um filho de doze ou treze anos: Ismael”. Mas, Deus garantiu-lhe que se tornaria “pai de uma multidão de nações”. E “deu-lhe o nome”. Depois “continuou e pediu-lhe que fosse fiel à aliança”, dizendo: “Estabelecerei a minha aliança contigo e com a tua descendência e depois de ti, de geração em geração, como aliança perene”. Praticamente, Deus diz a Abraão “dou-te tudo, dou-te o tempo: dou-te tudo, serás pai”.
Certamente Abraão, disse o Papa, “estava feliz por isto, rejubilou” ouvindo a promessa do Senhor: “Daqui a um ano terás outro filho”. Certamente, com essas palavras “Abraão riu, diz a Bíblia em seguida: mas como, com cem anos um filho?”. Sim, “gerou Ismael com oitenta e sete anos, mas com cem anos um filho é muito, não se pode compreender!”. E “riu”. Mas “aquele sorriso, aquele riso foi o início da alegria de Abraão”. Portanto, eis o sentido das palavras de Jesus repropostas hoje pelo Papa como mensagem central: “Abraão, vosso pai, exultou na esperança”. De fato, “não ousava crer e disse ao Senhor: ‘Mas se pelo menos Ismael vivesse na tua presença?’”. Recebendo esta resposta: “Não, não será Ismael. Será outro”.
Por conseguinte, para Abraão “a alegria era plena” afirmou o Papa. Mas “também a sua esposa Sara, depois riu: estava meio escondida atrás das cortinas da entrada, ouvindo o que diziam os homens”. E “quando estes enviados de Deus deram a Abraão a notícia do filho, também ela riu”. Isto mesmo, afirmou Francisco, “o início da grande alegria de Abraão”. Sim “a grande alegria: exultou na esperança de ver este dia; viu-o e rejubilou”. E o Papa convidou a olhar para “este bonito ícone: Abraão diante de Deus, que se prostra com a face no chão: ouviu a promessa e abriu o coração à esperança e rejubilou”.
Precisamente isto “não entendiam os doutores da lei”, frisou Francisco. “Não entendiam a alegria da promessa; a alegria da esperança; a alegria da aliança. Não compreendiam”. “Não sabiam alegrar-se porque tinham perdido o sentido da alegria que vem só com a fé”. Ao contrário, explicou o Papa, “o nosso pai Abraão foi capaz de se alegrar porque tinha fé: tornou-se justo pela fé”. Os doutores da lei “tinham perdido a fé: eram doutores da lei, mas sem fé!”. E ainda mais: “tinham perdido a lei! Porque o centro da lei é o amor a Deus e ao próximo”. Contudo, eles “possuíam só um sistema de doutrinas exatas que aperfeiçoavam cada dia mais para que ninguém as tocasse”.
Eram “homens sem fé, sem lei, apegados a doutrinas que se tornavam também uma atitude casuísta”. Depois Francisco citou exemplos concretos: “Pode-se pagar os impostos a César, não? A mulher que se casou sete vezes, quando for para o céu será esposa daqueles sete?”. E “esta casuística era: o seu mundo abstrato, sem amor, sem fé, sem esperança, sem confiança, sem Deus”. E por isso mesmo “não podiam alegrar-se”.
E não se alegravam nem sequer quando faziam festas para se divertir: a ponto que, afirmou o Papa, certamente “abriram algumas garrafas quando Jesus foi condenado”. Mas sempre “sem alegria”, aliás, “com medo porque um deles, talvez enquanto bebiam”, terá lembrado a promessa “de que Jesus teria ressuscitado”. E então “imediatamente, com medo, foram até o procurador para dizer ‘por favor, providenciai isto, que não haja um engano’”. Tudo isto porque “tinham medo”.
Mas “esta é a vida sem fé em Deus, sem confiança em Deus, sem esperança em Deus” afirmou o Papa. “A vida deles — acrescentou — que só depois de entenderam que não tinham razão”, pensaram que a única saída era pegar em pedras para lapidar Jesus. “O seu coração estava petrificado”. Com efeito, “é triste ser crente sem alegria — explicou Francisco — e não há alegria se não houver fé, esperança, lei, mas só prescrições, doutrina fria”. Em contraposição, o Papa apresentou de novo a “alegria de Abraão, o lindo gesto do sorriso de Abraão” quando ouviu a promessa de ter “um filho com cem anos”. E “também o sorriso de Sara, um sorriso de esperança”. Porque “a alegria da fé, do Evangelho é o termo de comparação da fé de uma pessoa: sem alegria essa pessoa não é um crente verdadeiro”.
Na conclusão, Francisco convidou a fazer próprias as palavras de Jesus: “O vosso pai, Abraão, exultou com a ideia de ver o meu dia; viu-o e rejubilou”. E pediu “ao Senhor a graça de exultar na esperança, a graça de poder ver o dia de Jesus quando nos encontrarmos com Ele e a graça do júbilo”.
© Copyright - Libreria Editrice Vaticana
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón