Homilia de 14 de abril, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 16 de 16 de Abril de 2015
Três graças a pedir para as comunidades cristãs: a harmonia, a pobreza e a paciência. Dando continuidade à reflexão sobre a narração do diálogo noturno entre Jesus e Nicodemos — no centro da liturgia da palavra — o Papa Francisco dedicou a homilia ao tema do “renascimento”, que para a Igreja significa “renascer no Espírito”.
O bispo de Roma retomou as leituras do dia anterior, recordando que elas convidavam a “refletir sobre uma das muitas transformações” que o Espírito realiza: dar “coragem”, transformando o homem “de covarde e temeroso” em “corajoso, com uma coragem forte para anunciar Jesus, sem medo”. Do indivíduo o Papa passou a considerar “o que o Espírito realiza numa comunidade”.
Relendo o trecho dos Atos dos apóstolos (4, 32-37) que descreve as primeiras comunidades cristãs, parece quase que nos encontramos diante da descrição de um mundo ideal: “todos eram amigos, punham tudo em comum, ninguém discutia”. Uma narração que é “como um resumo, como se a vida parasse um momento e o Espírito de Deus nos fizesse entrever o que poderia fazer numa comunidade, como poderia transformar uma comunidade: uma comunidade diocesana, paroquial, religiosa ou familiar”.
Nesta descrição o Pontífice evidenciou dois sinais característicos do “renascimento numa comunidade”. Antes de tudo, a harmonia: “A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma”. Isto é, quem renasce pelo Espírito tem a “graça da unidade, da harmonia”. De fato, o Espírito Santo é “o único que pode nos dar a harmonia” porque “também ele é harmonia entre o Pai e o Filho”. Depois, o segundo sinal é o do “bem comum”. Lê-se na escritura: “Com efeito, entre eles não havia ninguém necessitado, pois todos os que possuíam terras ou casas não consideravam sua propriedade o que lhes pertencia”.
Neste ponto o Papa frisou que estes dois aspectos são só “um passo” no caminho da comunidade renascida. De fato, ela começa a viver também alguns “problemas”. Por exemplo, o caso “do matrimonio de Ananias e Safira”, os quais, quando entraram na comunidade “procuraram enganá-la”. Uma experiência negativa que se pode comparar com os nossos dias: é semelhante, explicou Francisco, aos “padrões dos benfeitores que se aproximam da Igreja, entram para a ajudar e usam-na para os próprios negócios”. Depois, há “as perseguições” que, de resto, foram “anunciadas por Jesus”: em relação a isto o Pontífice evocou a “última bem-aventurança de Mateus: ‘Bem-aventurados quando vos insultarem e perseguirem por minha causa... Alegrai-vos’”. E recordou também que Jesus “promete muitas coisas boas, a paz, a abundância: ‘Tereis cem vezes mais com as perseguições’”.
Tudo isto se encontra “na primeira comunidade renascida pelo Espírito Santo”, à qual Pedro explicou: “Irmãos não vos admireis por estas perseguições, este incêndio que explodiu entre vós”. Na “imagem do incêndio”, explicou o Pontífice, encontramos a do “fogo que purifica o ouro”, isto é: o “ouro de uma comunidade renascida pelo Espírito Santo é purificado das dificuldades, das perseguições”.
Em seguida, o Papa introduziu um terceiro elemento importante, recordando o “conselho que Jesus” deu a quem se encontra “no meio de dificuldades, de perseguições: ‘Tende paciência, porque com a paciência salvareis as vossas vidas, as vossas almas’”. É preciso “paciência na suportação: suportar os problemas, suportar as dificuldades, suportar as maledicências, as calúnias, as doenças, a dor da perda de um filho, da esposa, do marido, da mãe, do pai... a paciência”.
Portanto, eis os três elementos: uma comunidade cristã “mostra que renasceu no Espírito Santo, quando é uma comunidade que busca a harmonia” e não a divisão interna, “quando busca a pobreza”, e “não a acumulação de riquezas — com efeito, as riquezas ‘são para o serviço’ — e quando há paciência, ou seja, quando “não se enraivece imediatamente diante das dificuldades nem se sente ofendida”, porque “o servo de Javé, Jesus, é paciente”.
À luz do que foi dito, o Papa concluiu a sua reflexão exortando todos, “nesta segunda semana de Páscoa” durante a qual se celebram os mistérios pascais, a “pensar nas nossas comunidades”, quer sejam diocesanas, paroquiais, familiares ou de outro tipo qualquer, e pedir três graças: “a harmonia, que é mais do que unidade”, “a pobreza” — que não significa “a miséria”: de fato, especificou Francisco, quem possui algo “deve administrá-lo bem para o bem comum e com generosidade” — e por fim “a paciência”. Devemos entender que não só “cada um de nós” recebeu a graça de “renascer no Espírito”, mas que esta graça é também para “as nossas comunidades”.
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