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DE SANTA MARTA

Harmonia, pobreza, paciência

por Papa Francisco
20/04/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 14 de abril, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 16 de 16 de Abril de 2015

Três graças a pedir para as comunidades cristãs: a harmonia, a pobreza e a paciência. Dando continuidade à reflexão sobre a narração do diálogo noturno entre Jesus e Nicodemos — no centro da liturgia da palavra — o Papa Francisco dedicou a homilia ao tema do “renascimento”, que para a Igreja significa “renascer no Espírito”.

O bispo de Roma retomou as leituras do dia anterior, recordando que elas convidavam a “refletir sobre uma das muitas transformações” que o Espírito realiza: dar “coragem”, transformando o homem “de covarde e temeroso” em “corajoso, com uma coragem forte para anunciar Jesus, sem medo”. Do indivíduo o Papa passou a considerar “o que o Espírito realiza numa comunidade”.

Relendo o trecho dos Atos dos apóstolos (4, 32-37) que descreve as primeiras comunidades cristãs, parece quase que nos encontramos diante da descrição de um mundo ideal: “todos eram amigos, punham tudo em comum, ninguém discutia”. Uma narração que é “como um resumo, como se a vida parasse um momento e o Espírito de Deus nos fizesse entrever o que poderia fazer numa comunidade, como poderia transformar uma comunidade: uma comunidade diocesana, paroquial, religiosa ou familiar”.

Nesta descrição o Pontífice evidenciou dois sinais característicos do “renascimento numa comunidade”. Antes de tudo, a harmonia: “A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma”. Isto é, quem renasce pelo Espírito tem a “graça da unidade, da harmonia”. De fato, o Espírito Santo é “o único que pode nos dar a harmonia” porque “também ele é harmonia entre o Pai e o Filho”. Depois, o segundo sinal é o do “bem comum”. Lê-se na escritura: “Com efeito, entre eles não havia ninguém necessitado, pois todos os que possuíam terras ou casas não consideravam sua propriedade o que lhes pertencia”.

Neste ponto o Papa frisou que estes dois aspectos são só “um passo” no caminho da comunidade renascida. De fato, ela começa a viver também alguns “problemas”. Por exemplo, o caso “do matrimonio de Ananias e Safira”, os quais, quando entraram na comunidade “procuraram enganá-la”. Uma experiência negativa que se pode comparar com os nossos dias: é semelhante, explicou Francisco, aos “padrões dos benfeitores que se aproximam da Igreja, entram para a ajudar e usam-na para os próprios negócios”. Depois, há “as perseguições” que, de resto, foram “anunciadas por Jesus”: em relação a isto o Pontífice evocou a “última bem-aventurança de Mateus: ‘Bem-aventurados quando vos insultarem e perseguirem por minha causa... Alegrai-vos’”. E recordou também que Jesus “promete muitas coisas boas, a paz, a abundância: ‘Tereis cem vezes mais com as perseguições’”.

Tudo isto se encontra “na primeira comunidade renascida pelo Espírito Santo”, à qual Pedro explicou: “Irmãos não vos admireis por estas perseguições, este incêndio que explodiu entre vós”. Na “imagem do incêndio”, explicou o Pontífice, encontramos a do “fogo que purifica o ouro”, isto é: o “ouro de uma comunidade renascida pelo Espírito Santo é purificado das dificuldades, das perseguições”.

Em seguida, o Papa introduziu um terceiro elemento importante, recordando o “conselho que Jesus” deu a quem se encontra “no meio de dificuldades, de perseguições: ‘Tende paciência, porque com a paciência salvareis as vossas vidas, as vossas almas’”. É preciso “paciência na suportação: suportar os problemas, suportar as dificuldades, suportar as maledicências, as calúnias, as doenças, a dor da perda de um filho, da esposa, do marido, da mãe, do pai... a paciência”.

Portanto, eis os três elementos: uma comunidade cristã “mostra que renasceu no Espírito Santo, quando é uma comunidade que busca a harmonia” e não a divisão interna, “quando busca a pobreza”, e “não a acumulação de riquezas — com efeito, as riquezas ‘são para o serviço’ — e quando há paciência, ou seja, quando “não se enraivece imediatamente diante das dificuldades nem se sente ofendida”, porque “o servo de Javé, Jesus, é paciente”.

À luz do que foi dito, o Papa concluiu a sua reflexão exortando todos, “nesta segunda semana de Páscoa” durante a qual se celebram os mistérios pascais, a “pensar nas nossas comunidades”, quer sejam diocesanas, paroquiais, familiares ou de outro tipo qualquer, e pedir três graças: “a harmonia, que é mais do que unidade”, “a pobreza” — que não significa “a miséria”: de fato, especificou Francisco, quem possui algo “deve administrá-lo bem para o bem comum e com generosidade” — e por fim “a paciência”. Devemos entender que não só “cada um de nós” recebeu a graça de “renascer no Espírito”, mas que esta graça é também para “as nossas comunidades”.

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