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DE SANTA MARTA

A cada qual o seu encontro

por Papa Francisco
04/05/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 24 de abril, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 18 de 30 de Abril de 2015

Cada homem tem um encontro pessoal com o Senhor. Um encontro verdadeiro, concreto, que pode mudar radicalmente a vida. O segredo não consiste só em tomar consciência dele, mas também em nunca dele perder a memória, para preservar o seu vigor e beleza. Foi o que afirmou o Papa, dando alguns “deveres para casa” e duas sugestões práticas: rezar para pedir a graça de recordar e depois reler o Evangelho para se reconhecer nos tantos encontros de Jesus.

A primeira leitura (Atos 9, 1-20), observou Francisco, narra precisamente “a história de Saulo — Paulo”, do seu estar “convicto da sua doutrina, até zeloso”. Mas “este zelo levava-o a perseguir este novo caminho que tinha nascido ali, ou seja os cristãos”. Assim Saulo “pediu as letras para as sinanogas de Damasco a fim de ser autorizado a acorrentar os cristãos”. E “fazia isto com o zelo de Deus”.

Depois, explicou o Papa, “aconteceu o que ouvimos e que todos sabemos: aquela visão, e ele caiu do cavalo”. Naquele ponto, recordou Francisco, “o Senhor fala-lhe: Saulo, Saulo, por que me persegues? — Quem és Senhor? — ,Eu sou Jesus,”. Trata-se “do encontro de Paulo com Jesus”.

Até àquele momento Paulo “pensava que tudo o que os cristãos diziam eram histórias”. Mas “eis que se encontra com Ele e nunca esquecerá esse encontro: muda a sua vida e o faz crescer no amor deste Senhor que antes perseguia e agora ama”. Um encontro, acrescentou o Papa, que leva Paulo “a anunciar ao mundo como instrumento de salvação o nome de Jesus”. Eis portanto o que aconteceu e o que significou “o encontro de Paulo com Jesus”.

Na Bíblia — afirmou Francisco — há tantos encontros”. Também “no Evangelho”. E são “todos diversos” entre si. E assim realmente “cada qual tem o próprio encontro com Jesus”. Pensemos, sugeriu o Papa, “nos primeiros discípulos que seguiam Jesus e permaneceram com Ele toda a noite — João e André, o primeiro encontro — e sentiram-se felizes por isso”. A ponto que “André vai até seu irmão Pedro — naquele tempo chamava-se Simão — e diz: ,Encontramos o Messias!,”. É “outro encontro entusiasta, feliz, e conduz Pedro até Jesus”. Por conseguinte, segue-se “o encontro de Pedro com Jesus” que “fitou nele o olhar”. E Jesus diz-lhe: “Tu és Simão, filho de João. Serás chamado Cefas”, isto é, “pedra”.

Os “encontros”, afirmou Francisco, são muitos. Por exemplo, há “o de Nataniel, o céptico”. Imediatamente “com duas palavras o desmoraliza”. A ponto que o intelectual admite: “Mas tu és o Messias!”. Há depois “o encontro da Samaritana que, num certo momento, se sente em dificuldade e tenta ser teóloga: ‘Mas este monte, o outro...’”. E Jesus responde-lhe: “Mas teu marido, a tua verdade”. A mulher “no próprio pecado encontra Jesus e vai anunciá-lo à cidade: ‘Disse-me tudo o que fiz; será porventura o Messias?’”.

Francisco quis também reviver “o encontro daquele leproso, um dos dez curados, que volta para agradecer”. E, ainda, “o encontro daquela mulher doente havia dezoito anos que pensava: ‘Mas se conseguisse pelo menos tocar o manto curar-me-ia’ e encontra Jesus”. E por fim “o encontro daquele endemoninhado o qual Jesus liberta de tantos demônios” e depois “quer segui-lo e Jesus diz-lhe: ‘Não, permanece em tua casa, mas diz a todos o que te aconteceu’”.

Assim, sintetizou o Pontífice, “podemos ver tantos encontros na Bíblia, porque o Senhor nos procura para fazer um encontro conosco” e “cada um de nós tem o seu encontro com Jesus”. Talvez, observou o Papa, “o esqueçamos, percamos a memória” até ao ponto de nos perguntarmos: “Mas quando encontrei Jesus ou quando Jesus me encontrou?”. Certamente, esclareceu Francisco, Jesus “encontrou você no dia do batismo: é verdade, era criança”. E com o batismo, acrescentou, lhe justificou e fez de você parte do seu povo”.

Todos nós — afirmou — tivemos na nossa vida algum encontro com Ele”, um encontro verdadeiro no qual “senti que Jesus olhava para mim”. Não é uma experiência só “para santos”. E “se não nos recordamos, seria bom recordar e pedir ao Senhor que nos conceda a memória, porque Ele recorda-se do encontro”. A propósito Francisco referiu-se ao livro de Jeremias onde se lê: “Recordo-me de ti, do afeto da tua juventude, do amor no tempo do teu noivado,”. Portanto, fala “daquele encontro entusiasta do início, daquele encontro novo: Ele nunca esquece, mas nós esquecemos o encontro com Jesus”.

Um “bom dever para fazer em casa”, sugeriu Francisco, seria precisamente reconsiderar “quando senti verdadeiramente o Senhor próximo de mim”, em “quando senti que tinha que mudar de vida ou ser melhor ou perdoar uma pessoa”, em “quando encontrei o Senhor”.

Com efeito, a nossa fé “é um encontro com Jesus”. Isto é o fundamento da fé: encontrei Jesus como Saulo segundo quando narra o trecho dos Atos dos apóstolos proposto na liturgia.

E assim, prosseguiu Francisco, se alguém diz a si mesmo “não me recordo” do encontro com o Senhor, é oportuno que peça a graça: “Senhor, quando te encontrei em consciência? Quando me disseste algo que mudou a minha vida ou me convidaste a dar aquele passo em frente na vida?”. E, recomendou o Papa, “esta é uma bonita oração, faça-a todos os dias”. E depois quando “se recordare, rejubila naquela recordação que é uma recordação de amor”.

Outro “bom dever”, propôs Francisco, seria “pegar no Evangelho” e reler as muitas histórias que ele contém para “ver como Jesus se encontra com o povo, como escolhe os apóstolos”. E talvez, dar-se conta que alguns encontros “se parecem com o meu”, porque “cada um tem o seu” encontro.

Eis, então, as duas sugestões práticas e concretas, “que nos farão bem”, oferecidas pelo Papa. Antes de mais, “rezar e pedir a graça da memória”. Perguntemos: “Quando, Senhor, foi aquele encontro, aquele primeiro amor?”. Para “não ouvir aquela reprovação que o Senhor faz no Apocalipse: ,Tenho isto contra ti que te esqueceste do primeiro amor,”.

A segunda sugestão do Papa é, precisamente, “pegar no Evangelho e ver os muitos encontros de Jesus com tantas pessoas diversas”. É evidente, explicou, que “o Senhor nos quer encontrar, quer que a relação conosco seja direta”. Certamente “na nossa vida houve um encontro forte que nos levou a mudar um pouco a vida e a ser melhores,”.

Precisamente a celebração eucarística, concluiu o Pontífice, é “outro encontro com Jesus, para fazer o que ouvimos” no Evangelho (João 6, 52-59): “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele”. Sim, precisamente para permanecer assim “no Senhor, encaminhemo-nos agora para aquele encontro diário”.

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