Homilia de 28 de abril, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 18 de 30 de Abril de 2015
Pedir ao Senhor “a graça de não ter medo quando o Espírito, com segurança, me diz para dar mais um passo em frente”. E pedir a “coragem apostólica de dar vida e não fazer da nossa vida cristã um museu de recordações”. Foi a dupla recomendação com a qual o Papa Francisco concluiu a homilia.
Comentando as leituras do dia, o Pontífice refletiu em particular sobre a primeira, tirada dos Atos dos apóstolos (11, 19-26), na qual — recordou — se narra que “depois dos primeiros tempos de alegria, após a efusão do Espírito Santo, havia na Igreja momentos bons, mas também muitos problemas”. Um deles era que alguns pregavam “o Evangelho aos gregos, aos pagãos, aos que não eram israelitas”. Com efeito, explicou Francisco, “isto era muito estranho, parecia uma doutrina nova”. De resto, frisou, já “tinha acontecido o episódio de Pedro na casa de Cornélio” o qual suscitou indignação: “Mas foste lá, entraste numa casa pagã! Tornaste-te impuro”, assim o reprovaram.
Agora acontecia algo semelhante: “depois da perseguição, após o martírio de Estêvão” os discípulos dispersaram-se e permaneceram em Jerusalém só os apóstolos. Alguns dos discípulos “chegaram a Antioquia e pregaram nas sinagogas, aos judeus”. Mas “outros, provenientes de Chipre e Cirene, começaram a falar também aos gregos, anunciando que Jesus é o Senhor: ‘E a mão do Senhor estava com eles e assim um grande número acreditou e converteu-se’”.
Assim, quando “esta notícia ‘chegou aos ouvidos da Igreja de Jerusalém’, provocou inquietação”. A ponto que os apóstolos “enviaram uma espécie de ‘visita canônica’, dizendo a Barnabé: ‘Vai, faz uma visita lá e depois vemos o que fazer’”. Contudo “quando Barnabé chegou e viu aquela graça de Deus, ficou feliz e restituiu tranquilidade e paz à Igreja de Jerusalém”. Em síntese, para o Papa o episódio narrado nos Atos fala mais uma vez de “novidades”, que irrompem “naquela mentalidade” segundo a qual Jesus veio só “para salvar o seu povo, o povo escolhido pelo Pai”. Uma mentalidade ainda incapaz de perceber que “outros povos fazem parte” do plano divino de salvação.
“Mas — advertiu o Pontífice, citando o livro de Isaías — estava nas profecias”. No entanto, “eles não compreendiam. Não entendiam que Deus é o Deus das novidades: ‘Renovo todas as coisas’, disse-nos”; não compreendiam “que o Espírito santo veio precisamente por isso, para nos renovar e age continuamente para nos renovar”. Aliás, constatou, “isto é assustador. Na história da Igreja podemos ver desde então até hoje quantos temores suscitaram as surpresas do Espírito Santo. É o Deus das surpresas”. E a quem quisesse objetar: “Mas, padre, há novidades e novidades! Algumas, vê-se que são de Deus, outras não”, Francisco respondeu com as palavras de Pedro aos irmãos de Jerusalém, quando foi repreendido por ter entrado na casa de Cornélio: “Quando vi que a eles foi dado o que tínhamos recebido, quem era eu para negar o batismo?”.
Esta ideia está também presente no trecho da liturgia do dia sobre Barnabé, definido “homem virtuoso” e “cheio do Espírito Santo”. Evidenciando que “nos dois há o Espírito Santo, que faz ver a verdade”. O que, ao contrário, “sozinhos” não podemos fazer. “Com a nossa inteligência não podemos”, afirmou o Papa, explicando: “Podemos estudar toda a história da salvação, a teologia inteira, mas sem o Espírito nada podemos entender. É precisamente o Espírito que nos faz compreender a verdade ou – utilizando as palavras de Jesus – é o Espírito que nos faz conhecer a voz de Jesus: ‘As minhas ovelhas ouvem a minha voz, conheço-as, e elas seguem-me’”.
Para Francisco “a Igreja vai em frente graças à obra do Espírito Santo. É ele que age”. O próprio “Jesus disse aos apóstolos: ‘Enviar-vos-ei o dom do Pai, que vos fará recordar e vos ensinará’”. Como? Evocando o que Jesus disse e referindo-se às profecias: “Por isso, nos primeiros discursos, inclusive no de Estêvão, há uma releitura – esclareceu o Pontífice – de todas as profecias. É obra do Espírito Santo, que faz recordar a história na óptica de Jesus ressuscitado: ‘e ele ensinar-vos-á o caminho’”.
A propósito o Papa sugeriu também “como fazer” para ter a certeza de que a voz que ouvimos é a de Jesus e o que temos vontade de fazer é obra do Espírito Santo. É preciso, afirmou, “rezar. Sem oração, não há espaço para o Espírito”; é necessário “pedir a Deus que nos envie este dom: ‘Senhor, dá-nos o Espírito Santo para que possamos discernir em cada tempo o que devemos fazer’”. Prestando atenção ao fato de que isto “não significa repetir sempre a mesma coisa. A mensagem é a mesma: mas a Igreja vai em frente com estas surpresas, com estas novidades do Espírito Santo”.
Portanto, “é necessário discerni-las e para as discernir é preciso rezar, pedir esta graça”. Como fez Barnabé, que “estava cheio do Espírito Santo e entendeu imediatamente”, e Pedro, que “viu e disse: ‘Mas quem sou eu para negar aqui o batismo?’”. De fato, o Espírito Santo “não nos deixa errar”.
Também neste caso o Papa disse que está ciente das objeções que poderiam ser feitas a este raciocínio: “Mas, padre, por que levantar tantos problemas? Façamos tudo como sempre fizemos, assim estamos certos”. E a resposta foi que esta hipótese poderia ser “uma alternativa” mas seria “estéril; de ‘morte’”. Mas é muito melhor, concluiu, “arriscar, com a oração, a humildade, aceitar o que o Espírito nos pede para mudar de acordo com o tempo no qual vivemos: este é o caminho”.
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