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DE SANTA MARTA

Muito movimento

por Papa Francisco
08/05/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 8 de maio, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 20 de 14 de maio de 2015

No dia da festa de nossa Senhora de Luján, padroeira da Argentina, o Papa Francisco ofereceu precisamente pela sua pátria a missa celebrada em Santa Marta. E convidou a saber seguir os movimentos provocados em cada um de nós e em toda a Igreja pelo Espírito Santo: movimentos que aparentemente parecem causar confusão mas ao contrário desembocam sempre na unidade.

Logo no início da homilia o Papa recordou que “Jesus tinha prometido aos apóstolos o Espírito Santo e disse que o Espírito Santo lhes teria ensinado muitas coisas e recordado o que tinha ensinado”. Assim “desde o primeiro momento da vinda do Espírito Santo, no mesmo dia da sua vinda, as águas começaram a mover-se: teve início um movimento na Igreja”. Os discípulos, por seu lado, “estavam fechados, um pouco por medo, mas ali começou um movimento: saíram e Pedro fez o primeiro discurso ao povo”.

Todos ouviam as palavras de Pedro na própria língua: cada um na sua. Ao ouvi-las, muitos “converteram-se e depois foram anunciar esta boa nova: Jesus estava vivo, o Senhor tinha ressuscitado”. E começou portanto este movimento pelo mundo. E fez assim também o “apóstolo Filipe com aquele ‘ministro da economia’ da Etiópia, que era um judeu, um prosélito judeu: anuncia-lhe a mensagem de Jesus, batiza-o e vai à sua terra anunciar o Evangelho”.

Francisco percorreu aqueles primeiros passos da evangelização narrados pelos Atos. “Os apóstolos — disse — começam a pregar em Jerusalém e, depois da cura daquele paralítico, que pedia esmola” diante da porta do templo chamada “Bela”, Pedro e João “são chamados a juízo, são reprovados: começam as perseguições”. E assim “desencadeia-se, depois da morte de Estêvão, outro forte movimento: as perseguições”.

A este ponto, afirmou o Papa, surge “mais um problema”. Ou seja, os primeiros discípulos, como Paulo e Pedro, puseram-se a caminho para pregar indo “visitar os judeus, mas encontraram também os pagãos”. E “Pedro é o primeiro, porque foi a casa de Cornélio”. Precisamente lá “começa outro movimento na Igreja e Pedro, o chefe, é criticado: ‘Mas ele é um pouco herege porque entrou na casa de um pagão, é impuro!”. Por isso “Pedro sente esta falta de confiança de alguns da comunidade”. E “são estes movimentos dentro da Igreja; movimentos de grupos que têm diversos pontos de vista”.

Por seu lado, “Paulo começa a pregar a conversão também aos pagãos e estes ouvem a boa nova e convertem-se”. Mas o grupo cristão que era “fechado, não compreendia”, repetia: “Não, os pagãos não!”. Chegando a lapidar Paulo e deixando-o “como se estivesse morto”. Depois “procuram também ajuda no poder da sociedade: em Antioquia até as mulheres piedosas da nobreza e aos homens de alto nível para tentar esta ação contra os apóstolos”.

Assim — prosseguiu o Papa — chegamos a este ponto, ao capítulo 15 dos Atos dos Apóstolos (22-31), onde se movem precisamente as águas em Antioquia, porque um grupo de cristãos, muito apegados à lei judaica, pretende impor as condições do judaísmo aos novos cristãos antes de os batizar: por exemplo a circuncisão, e outras coisas”. Mas “Paulo diz não”. Eis que começa então “aquela luta interna entre eles, as águas movem-se”. Com efeito, lê-se que eles faziam discussões afervoradas. “Discutiam com vigor porque era preciso muito movimento” explicou o Papa. E “como resolvem o problema? Reúnem-se e cada um dá a sua opinião; discutem, mas como irmãos e não como inimigos: não formam grupinhos para vencer; não vão até os poderes civis para se impor; não matam para triunfar: procuram o caminho da oração e do diálogo”. E assim, aqueles “que tinham posições contrárias dialogavam e punham-se de acordo: esta é obra do Espírito Santo”.

O capítulo 15 dos Atos, afirmou Francisco, narra “o processo que termina” precisamente no trecho da liturgia de hoje, “com o primeiro concílio ecumênico, o concílio de Jerusalém”. Assim, prosseguiu, “enviaram uma carta a quantos não sabiam o que fazer por esta pregação dos fechados: “Aos apóstolos e aos anciãos, vossos irmãos, aos irmãos de Antioquia, da Síria e da Cilícia que provêm dos pagãos, saúde! Soubemos que alguns de nós, aos quais não tínhamos dado encargo algum, vieram turvar-vos com discursos que arrasaram as vossas almas”. Na prática “semearam joio”, acrescentou o Papa, prosseguindo a leitura do texto: “‘Pareceu-nos bem, por isso, que todos concordam em escolher algumas pessoas e enviá-las a vós juntamente com os nossos caríssimos Barnabé e Paulo’ — que tinham sido considerados hereges — ‘homens que arriscaram a sua vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Enviamos portanto Judas e Sila, que vos referirão também diretamente estas coisas’”. Ao ler estas palavras o Pontífice frisou que no fim todos concordavam; e também que Barnabé e Paulo “tinham sido julgados hereges”.

Depois Francisco leu, sempre dos Atos, “esta fórmula que é uma expressão solene: ‘Aprouve, pois, ao Espírito Santo e a nós não vos impor outra obrigação a não ser estas que são necessárias: abstende-vos das carnes oferecidas aos ídolos, do sangue, dos animais sufocados e das uniões ilegítimas”. A propósito o Papa frisou que “tinha sido Pedro a pressionar para isto” com uma frase dita anteriormente: “Por que quereis tentar Deus, impondo um jugo que nem sequer nós, nem os nossos pais, fomos capazes de suportar?”. Contudo o processo termina e “todos estão de acordo”.
É precisamente “este — disse Francisco — o caminho do Espírito Santo, é esta a obra do Espírito Santo”. Porque é ele “que move as águas, que faz um pouco de desordem, que parece que há tempestade, tormentas — pensai no dia de Pentecostes — e depois faz a harmonia, a unidade: tem estas duas características”. E “numa Igreja onde nunca há problemas deste gênero — acrescentou — faz-me pensar que o Espírito não esteja muito presente”. Certamente “numa Igreja na qual se discute sempre e se formam grupinhos e os irmãos se atraiçoam uns aos outros, ali não está o Espírito Santo”. Com efeito “o Espírito é o que faz a novidade, que move a situação para ir em frente, que cria novos espaços, que dá a sabedoria que Jesus prometeu: ‘Ele vos ensinará’. Por conseguinte, o Espírito move mas também cria a unidade harmoniosa entre todos”.

Eis quanto “nos ensina a leitura de hoje, e o primeiro concílio ecumênico”, recapitulou Francisco repetindo de novo a fórmula com a qual o Espírito pôs todos de acordo. E prosseguindo a celebração, o Papa pediu “ao Senhor Jesus, que está presente entre nós, que nos envie sempre o Espírito Santo, a cada um de nós; que o envie à Igreja e que a Igreja saiba ser fiel aos movimentos que o Espírito Santo provoca”.

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