Homilia de 11 de maio, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 20 de 14 de maio de 2015
“Os coptas degolados por serem cristãos” morreram “com o nome de Jesus nos lábios”, pois tinham compreendido profundamente “o escândalo da cruz”. Mas “o caminho do martírio” faz parte da vida quotidiana de cada cristão, também na família, na defesa dos direitos das pessoas, na experiência da doença. E é o Espírito Santo que nos ajuda a saber dar testemunho e acolher “toda a verdade”. Afirmou o Papa Francisco recordando também que telefonou, no domingo, ao patriarca copta Tawadros, por ocasião do dia da amizade entre coptas e católicos, segundo aniversário do encontro que se realizou no Vaticano a 10 de Maio de 2013.
“Na primeira oração de hoje” no início da missa, disse o Pontífice, “pedimos a graça de tornar sempre presente, em cada momento, a fecundidade da Páscoa”. E com efeito “a Páscoa é fecunda” porque “é a vida que Jesus Cristo, o Senhor, nos deu através da sua cruz e da sua ressurreição”. Mas “como se atua esta fecundidade?”. A resposta, observou Francisco, encontramo-la precisamente no Evangelho de João (15, 26-16.4) proposto hoje pela liturgia.
Em prática, “o Senhor prepara os seus discípulos para o futuro” e “há uma palavra que pode parecer um pouco estranha: escandalizar”. Diz Jesus, conforme quanto refere João: “Tenho-vos dito estas coisas para que não vos escandalizeis”. A questão a ser compreendida é a seguinte: “de qual escândalo fala Jesus? Do escândalo das perseguições que se verificarão, do escândalo da cruz?”.
O Senhor “acrescenta uma promessa” dizendo: “Quando vier o Paráclito, o Espírito da verdade, ele dará testemunho”. E a seguir, “sempre no mesmo discurso”, afirma ainda: “Eu tenho muitas coisas para vos dizer, mas neste momento vós não sois capazes de carregar o seu peso; mas quando vier o Paráclito, o Espírito da verdade, ele vos guiará rumo à verdade plena”. Em síntese, explicou o Santo Padre, Jesus “fala-nos do futuro, da cruz que está à nossa espera e fala do Espírito, que nos prepara para dar testemunho cristão”.
Aliás, prosseguiu Francisco, “nestes dias a Igreja faz-nos refletir muito sobre o Espírito Santo: Jesus diz que o Espírito Santo que virá, que Ele enviará, nos guiará rumo à verdade plena, ou seja, nos ensinará as coisas que eu ainda não ensinei, estas coisas que ele — acrescentou o Papa, citando o trecho evangélico hodierno — deve dizer e cujo peso, os discípulos, ainda não são capazes de carregar”. Além disso, o Senhor afirma também que o “Espírito vos fará recordar as coisas que disse e que com a vida caíram no esquecimento”. Eis, explicou Francisco, “aquilo que faz o Espírito: faz-nos recordar as palavras de Jesus e ensina-nos as coisas que Jesus ainda não pôde dizer, porque não éramos capazes de compreendê-las”.
“Assim a vida da Igreja é um caminho guiado pelo Espírito que nos recorda e nos ensina, que nos leva à verdade plena”, sublinhou. E “este Espírito, que é companheiro de viagem, defende-nos também do escândalo da cruz”. São Paulo, falando aos Coríntios, diz: “Mas a Cruz é uma loucura, para aqueles que caem na perdição”. Depois acrescenta: “os judeus pedem sinais”. E “quantas vezes no Evangelho os judeus, os doutores da lei, pediram a Jesus” para que lhes desse “um sinal”. Por sua vez, “os gregos, ou seja, os pagãos, pedem paciência, ideias novas”. Mas “nós pregamos só Cristo crucificado, escândalo para vós — para os judeus — e loucura para os pagãos”.
Portanto, a cruz de Cristo é o escândalo. Por esta razão, esclareceu o Papa, “Jesus prepara o coração dos seus discípulos com a promessa do Paráclito, para aquilo que lhes acontecerá”. E diz: “Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis” com a cruz de Cristo. João cita estas palavras do Senhor: “Expulsar-vos-ão das sinagogas, e virá a hora em que todo aquele que vos tirar a vida julgará prestar culto a Deus”. E nós hoje, constatou o Pontífice, “somos testemunhas destes que matam os cristãos em nome de Deus, porque são descrentes, segundo eles”. Esta “é a cruz de Cristo”. Eis a atualidade das palavras de Jesus no Evangelho da liturgia do dia: “Procederão deste modo porque não conheceram o Pai, nem a mim”. Portanto, Jesus recorda que quanto aconteceu a ele, acontecerá a nós: “as perseguições, as tribulações”. Por isso não devemos escandalizar-nos, cientes de que “será o Espírito que nos guiará e nos ajudará a compreender”.
“Ontem — confidenciou portanto Francisco — tive a alegria de telefonar ao patriarca copta Tawadros, porque era o dia da amizade copta-católica: falamos sobre algumas questões”. Mas, acrescentou, “eu recordei os seus fiéis, que foram degolados na praia porque eram cristãos. Estes fiéis, graças à força que o Espírito Santo lhes deu, não se escandalizaram. Morreram com o nome de Jesus nos lábios. É a força do Espírito. O testemunho. É verdade, este é precisamente o martírio, o testemunho supremo”.
Há também, continuou o Papa, “o testemunho de cada dia, o testemunho de tornar presente a fecundidade da Páscoa — que pedimos hoje no início da missa — aquela fecundidade que nos dá o Espírito Santo, que nos guia rumo à verdade plena, à verdade total, e nos faz recordar o que Jesus nos diz”.
Por conseguinte, frisou Francisco, “um cristão que não leva a sério esta dimensão ‘do martírio’ da vida ainda não compreendeu o caminho que Jesus nos ensinou: caminho “do martírio” de cada dia; caminho “do martírio” para defender os direitos das pessoas; caminho “do martírio” para defender os filhos: o pai e a mãe que defendem a sua família; caminho “do martírio” de muitos, numerosos doentes que sofrem por amor de Jesus. Todos nós temos a possibilidade de levar em frente esta fecundidade pascal por este caminho “do martírio”, sem nos escandalizar”.
Ao prosseguir a celebração eucarística — “memorial daquela cruz” na qual “se torna presente a fecundidade pascal” — o Pontífice pediu “ao Senhor a graça de receber o Espírito Santo que nos fará recordar as coisas de Jesus, que nos guiará rumo à verdade total e nos preparará todos os dias para dar este testemunho, para oferecer este pequeno martírio de cada dia ou um grande martírio, segundo a vontade do Senhor”.
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón