Homilia de 22 de maio, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 22 de 28 de maio de 2015
"Como olha Jesus para mim hoje?". A pergunta sugerida por Francisco alcança e interpela diretamente cada cristão com a mesma força dos "três olhares que o Senhor dirigiu a Pedro". Olhares que contam "o entusiasmo da vocação, o arrependimento e a missão", explicou o Papa.
O trecho que narra o diálogo entre Jesus e Pedro, observou o Pontífice, “está quase no fim do Evangelho de João” (21, 15-19). “Recordamos sempre — prosseguiu — a história daquela noite de pesca”, quando “os discípulos não pescaram peixe algum, nada”. E por isso estavam um pouco “zangados”. Mas “quando se aproximaram das margens” e um homem lhes perguntou se tinham “de comer”, eles, “zangados”, responderam: “Não!”. Porque de fato “nada tinham pescado”. Mas este homem ordenou-lhes que lançassem as redes do outro lado: os discípulos fizeram-no “e a rede encheu-se de peixes”.
É “João, o amigo mais próximo, quem reconhece o Senhor”. Por seu lado “Pedro, entusiasmado, lança-se ao mar para chegar mais depressa junto do Senhor”. Esta é verdadeiramente “uma pesca milagrosa”, observou Francisco, mas “quando chegaram — começa aqui o trecho do Evangelho de hoje — veem que Jesus tinha preparado o pequeno almoço: na grelha estava o peixe”. Assim comem juntos. Depois “de terem comido, começa o diálogo entre Jesus e Pedro”.
“Hoje na oração — confidenciou o Papa — vinha ao meu coração, via como era o olhar de Jesus sobre Pedro”. E no Evangelho, acrescentou, “vi três olhares diferentes de Jesus sobre Pedro”.
“O primeiro olhar”, frisou Francisco, encontra-se “no início do Evangelho de João, quando André vai até seu irmão Pedro e lhe diz: ‘Vimos o Messias’“. E “conduzindo-o a Jesus”, o qual “fixa nele o olhar e lhe diz: ‘Tu és Simão, filho de Jonas. Serás chamado Pedro’“. É “o primeiro olhar, o olhar da missão que, mais adiante em Cesareia de Filipe, explica a missão: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”: será esta a tua missão”.
“Entretanto — afirmou o Pontífice — Pedro tinha se entusiasmado com Jesus: seguia Jesus. Recordemos aquele trecho do sexto capítulo do Evangelho de João, quando Jesus fala de comer o seu corpo e muitos discípulos naquele momento diziam: ‘Mas isto é duro, é uma palavra difícil’“. A ponto que “começaram a retirar-se”. Então “Jesus olha para os discípulos e diz: “Também vós vos quereis retirar?”. É “o entusiasmo de Pedro que responde: ‘Não! Para onde iremos? Só tu tens palavras de vida eterna!’“. Por conseguinte, explicou Francisco, “há o primeiro olhar: a vocação e um primeiro anúncio da missão”. E “como é a alma de Pedro naquele primeiro olhar? Entusiasta”. É “o primeiro tempo de andar com o Senhor”.
Depois, acrescentou o Papa, “pensei no segundo olhar”. Encontramo-lo “na noite funda da Quinta-Feira Santa, quando Pedro quer seguir Jesus e se aproxima de onde ele está, na casa do sacerdote, na prisão, mas é reconhecido: ‘Não, eu não o conheço! ’“. Renega-o “três vezes”. Depois “ouve o canto do galo e recorda-se: renegou o Senhor. Perdeu tudo. Perdeu o seu amor”. Precisamente “naquele momento Jesus é conduzido para outro ambiente, através de um pátio, e olha para Pedro”. O Evangelho de Lucas diz que “Pedro chorou amargamente”. Assim “aquele entusiasmo de seguir Jesus tornou-se choro, porque ele pecou, renegou Jesus”. Mas “aquele olhar muda o coração de Pedro, mais que antes”. Por conseguinte “a primeira mudança é trocar o nome e também a vocação”. Ao contrário “é este segundo olhar que muda o coração e trata-se de uma mudança de conversão ao amor”.
“Não sabemos qual foi o olhar naquele encontro, sozinhos, depois da ressurreição” afirmou Francisco. “Sabemos que Jesus se encontrou com Pedro, diz o Evangelho, mas não sabemos o que disseram”. E assim aquela narração na liturgia de hoje “é um terceiro olhar: a confirmação da missão; mas também o olhar no qual Jesus pede a confirmação do amor de Pedro”. Com efeito “por três vezes — três vezes! — Pedro tinha renegado”; e agora o Senhor “por três vezes pede a manifestação do seu amor”. E “quando Pedro diz que sim, que o ama, ele confia-lhe a missão: ‘Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas’ “. Mais, à terceira pergunta — “Simão, filho de João, tu amas-me?” — Pedro “entristeceu-se, quase chorou”. Está triste porque “pela terceira vez” o Senhor “lhe pergunta “Tu amas-me?”“. E responde-lhe: “Senhor, tu sabes tudo, tu bem sabes que te amo”. E Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas”. Eis “o terceiro olhar: o olhar da missão”.
Em seguida, Francisco repropôs a essência dos “três olhares” do Senhor sobre Pedro: “O primeiro, o olhar da escolha, com o entusiasmo de seguir Jesus; o segundo, o olhar do arrependimento no momento daquele pecado tão grave de ter renegado Jesus; o terceiro é o olhar da missão: ‘Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas’ “. Mas “não termina ali. Jesus vai mais adiante: tu fazes tudo isto por amor e depois? Serás coroado rei? Não”. Aliás, o Senhor afirma claramente: “Digo-te: quando eras mais jovem, vestias-te sozinho e ias onde querias. Mas quando fores velho, estenderás as tuas mãos e outro te vestirá e te levará onde tu não queres”. Como se dissesse: “Também tu, como eu, estarás naquele pátio no qual eu fixei em ti o olhar: perto da cruz”.
Precisamente sobre isto o Papa propôs um exame de consciência. “Também podemos pensar: qual é hoje o olhar de Jesus sobre mim? Como olha para mim Jesus? Com uma chamada? Com um perdão? Com uma missão?”. Tenhamos a certeza de que “no caminho que ele percorreu, todos estamos sob o olhar de Jesus: ele olha para nós sempre com amor, pede-nos algo, perdoa-nos algo e confia-nos uma missão”.
Antes de prosseguir a celebração — “agora Jesus vem sobre o altar” recordou — Francisco convidou a rezar: “Senhor, tu estás aqui entre nós. Fixa o teu olhar sobre mim e diz-me o que devo fazer; como devo chorar os meus erros, os meus pecados; qual é a coragem com que ir em frente pelo caminho que percorreste primeiro”. E “durante este sacrifício eucarístico”, é oportuno “que haja este nosso diálogo com Jesus”. Depois, concluiu, “nos fará bem pensar durante todo o dia no olhar de Jesus sobre nós”.
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