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DE SANTA MARTA

O salário de Jesus

por Papa Francisco
08/06/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 26 de maio, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 22 de 28 de maio de 2015

O “salário” do cristão é “assemelhar-se a Jesus”: não há recompensa em dinheiro nem em poder para quem segue verdadeiramente o Senhor, porque o caminho é só de serviço e na gratuidade. Ao contrário, procurando um “bom negócio” mundano, com “a riqueza, a vaidade e o orgulho”, cria-se “uma cauda de pavão” e dá-se inclusive um “contra-testemunho” na Igreja. Foi contra esta tentação que o Papa Francisco alertou.

Foi o “diálogo entre Pedro e Jesus” que sugeriu a meditação do Pontífice, iniciada precisamente pelo trecho de Marcos (10, 28-31) proposto pela liturgia do dia. Um diálogo, explicou, que se realiza depois do encontro com “aquele jovem que queria seguir Jesus: era bom, Jesus amou-o”, como narra o Evangelho. Contudo o Senhor “disse-lhe que lhe faltava algo: que vendesse tudo o que possuía”, que desse o dinheiro “aos pobres: ‘terás um tesouro no céu’ “. Mas “a estas palavras — afirmou o Papa — o jovem ficou abatido e foi embora entristecido”.

Assim “Jesus retomou o discurso e disse aos discípulos: ‘Como é difícil para quem possui riquezas entrar no reino de Deus’ “. E “os discípulos ficaram desconcertados com suas palavras”. Mas “Jesus replicou: “Filhos, como é difícil entrar no reino de Deus. É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino do céu’ “.

E eis o trecho evangélico da liturgia com Pedro que garante a Jesus: “Nós deixamos tudo e seguimos-te”. Como quem diz: “E a nós, o quê? Qual será o nosso salário? Deixamos tudo”. Em poucas palavras, “os ricos que nada deixaram — o jovem que não queria deixar as suas riquezas — não entrarão no reino de Deus, mas nós? Qual será o nosso ganho?”.

A questão, frisou Francisco, é que “os discípulos entendiam Jesus pela metade, porque o conhecimento pleno de Jesus aconteceu quando o Espírito Santo desceu”. E de fato Jesus responde-lhes: “Em verdade vos digo: quem tiver deixado a casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou campos por minha causa e por causa da boa nova receberá cem vezes mais agora, no tempo presente em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, juntamente com perseguições”. Praticamente “Jesus responde indicando outra direção” e não promete “as mesmas riquezas que tinha o jovem”. Precisamente “este ter muitos irmãos, irmãs, mães, pais, bens é a herança do reino, mas com a perseguição, com a cruz. E isto muda”.

Eis porque, explicou o Papa “quando um cristão é apegado aos bens, faz a má figura de quem quer duas coisas: o céu e a terra”. E “o termo de comparação é exatamente o que diz Jesus: a cruz, as perseguições, negar-se a si mesmo, sofrer a cruz todos os dias”.

Por sua vez “os discípulos sentiam esta tentação: seguir Jesus mas depois qual será o fim deste bom negócio?”. E, acrescentou Francisco, “pensemos na mãe de Tiago e João quando pediu um lugar para os seus filhos: “Ah, que este seja primeiro-ministro, e este ministro da economia’ “. Era “o interesse mundano no seguir Jesus”: mas depois “o coração desses discípulos foi-se purificando até ao Pentecostes, quando entenderam tudo”.

“A gratuidade no seguir Jesus é a resposta à gratuidade do amor e da salvação que nos dá Jesus” esclareceu o Pontífice. “Quando se quer seguir Jesus e o mundo, quer com a pobreza quer com a riqueza”, verifica-se “um cristianismo a metade, que deseja um ganho material: é o espírito da mundanidade”. E “aquele cristão, dizia o profeta Elias, “coxeia das duas pernas’ “ porque “não sabe o que quer”.

Assim, sugeriu Francisco, “a chave para entender este discurso de Jesus — sim, cem vezes mais, mas com a cruz — é a última palavra: “Muitos dos primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros’ “. E “eis o que diz do serviço: ‘Quem se considera ou é o maior de entre vós, faça-se servo: o menor’ “. Não foi por acaso, recordou o Papa, que dizendo estas palavras Jesus “pegou naquela criança e a mostrou”.

“Seguir Jesus sob o ponto de vista humano não é um bom negócio: é servir” insistiu o Pontífice. De resto foi exatamente o que “fez ele: e se o Senhor te der a possibilidade de ser o primeiro, tu deves comportar-te como o último, isto é no serviço. Se o Senhor te der a possibilidade de possuir bens, deves comportar-te no serviço, isto é, para os outros”.

“São três os aspectos, os degraus que nos afastam de Jesus: as riquezas, a vaidade e o orgulho” afirmou o Papa. “Por isto — explicou — as riquezas são tão perigosas: levam-te a ser vaidoso e a pensar que és importante”; mas “quando te consideras importante, crias a cauda de pavão e perdes-te”. Eis porque Jesus nos recorda o caminho: “Muitos dos primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros, e quem for o primeiro entre vós seja o servo de todos”. É “um caminho de despojamento”, o mesmo que “ele percorreu”.

“Esta obra de catequizar os discípulos levou tanto tempo porque não entendiam bem o que Jesus dizia”. Assim hoje, recomendou Francisco, “também devemos pedir-lhe: que nos ensine este caminho, esta ciência do serviço, a ciência da humildade, a ciência de ser os últimos para servir os irmãos e as irmãs da Igreja”.

Para o Pontífice “é desagradável ver um cristão — leigo, consagrado, sacerdote ou bispo — que quer as duas coisas: seguir Jesus e os bens, seguir Jesus e a mundanidade”. É “um contra-testemunho e afasta as pessoas de Jesus”. Antes de prosseguir com a celebração da Eucaristia, o Papa convidou a pensar de novo na pergunta de Pedro: “Nós deixamos tudo: como nos pagarás?”. E ter presente a resposta de Jesus porque “o preço que ele nos dá é ser semelhante a ele: este será o ‘salário’ “. E “assemelhar a Jesus”, concluiu, é um “grande salário”.

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