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DE SANTA MARTA

Três estilos de vida

por Papa Francisco
10/06/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 29 de maio, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 23 de 04 de junho de 2015

“Três modos de levar a vida”. Indicou-os o Papa Francisco, partindo do trecho evangélico de Marcos (11, 11-25) que propõe precisamente três atitudes relacionadas com igual número de figuras: “da figueira”, dos “comerciantes sem escrúpulos do templo” e “do homem de fé”.

Já na celebração do dia anterior, o Papa Francisco tinha esboçado as características de três tipos de discípulos de Jesus — os “que não ouviam o grito de ajuda” do cego, os que “afastavam o povo de Jesus” e, por fim, “os que ajudavam as pessoas que tinham necessidade de encontrar Jesus” — convidando todos a fazer um exame de consciência para encontrar o grupo ao qual pertenciam. No dia seguinte voltou a uma reflexão semelhante, inspirada no trecho evangélico de Marcos.

A figueira, explicou a este propósito, “representa a esterilidade, ou seja, uma vida estéril, incapaz de produzir alguma coisa”. Isto é, uma vida que não dá frutos, “incapaz de fazer o bem”, porque aquele tipo de homem “vive para si; tranquilo, egoísta”, não quer “problemas”. No trecho evangélico Jesus amaldiçoa a figueira porque é estéril, “porque não fez o que devia para dar fruto”, tornando-se assim o símbolo da “pessoa que nada faz para ajudar, que vive sempre para si mesma, a fim de que nada lhe falte”.

Estas pessoas, prosseguiu o Papa, no final “tornam-se neuróticas”. E “Jesus condena a esterilidade espiritual, o egoísmo espiritual” de quem pensa: “Eu vivo para mim: que nada me falte, os outros que se virem!”.

Há depois um segundo “modo de levar a vida”, que é “o dos exploradores, dos comerciantes sem escrúpulos do templo”. Eles “exploram até o lugar sagrado de Deus para fazer negócios: trocam as moedas, vendem os animais para o sacrifício, até entre eles têm uma espécie de sindicato para se defenderem”. Um estilo “não só tolerado, mas também autorizado pelos sacerdotes do templo”. Para fazer compreender melhor, o Pontífice recordou um episódio “muito feio”, narrado na Bíblia, que descreve “os que fazem da religião um negócio”: é a história do sacerdote cujos filhos “convidavam as pessoas a fazer ofertas e ganhavam muito, até dos pobres”. Sobre estes “Jesus não poupa as palavras” e diz aos mercantes no templo: “A minha casa será chamada casa de oração. Vós, ao contrário, fizeste dela um covil de ladrões!”. Palavras severas, sobre as quais o Papa se prolongou: as pessoas “iam em peregrinação ali para pedir a bênção do Senhor, para fazer um sacrifício” e justamente ali “eram exploradas”; os sacerdotes “não ensinavam a rezar, não lhes faziam catequese... Era um covil de ladrões”. Não lhes interessava se havia devoção verdadeira: “pague, entre...”. Cumpriam os ritos ”verdadeira devoção”. E referindo-se a isto Francisco convidou a uma reflexão: “Não sei se nos fará bem pensar se acontece conosco algo deste gênero em algum lugar”: isto é “utilizar as coisas de Deus para o próprio proveito”.

Por fim, há uma terceira tipologia, a “que Jesus aconselha, isto é, a vida de fé”. Para a descrever, o Pontífice retomou a leitura do Evangelho de Marcos e recordou que quando os discípulos viram a figueira seca desde a raiz “porque Jesus a tinha amaldiçoado”, Pedro diz-lhe: “Mestre, repara! A figueira que amaldiçoaste secou!”. E Jesus aproveitando a ocasião para indicar o justo “estilo de vida” respondeu: “Tende fé em Deus. Se alguém dissesse a este monte: ‘levanta-te e lança-te ao mar’, sem ter a mínima dúvida, mas acreditando que o que diz acontece, isso acontecerá. Tudo o que pedirdes na oração, tende fé que o obtereis e acontecerá”. Em seguida, explicou o Papa, “acontecerá exatamente o que nós pedimos com fé: é o estilo de vida da fé”.

Alguém poderia perguntar: “Pai, que devo fazer para isto?”. A resposta segundo Francisco é simples: “Pede-o ao Senhor, que lhe ajude a fazer coisas boas, mas com fé”. Simples, mas com “uma condição” ditada pelo próprio Jesus: “Quando rezar pedindo isto, se tiver alguma coisa contra alguém, perde. É a única condição, para que também o seu Pai que está nos céus lhe perdoe as suas culpas”.

Viva “a fé para ajudar os outros, para se aproximar de Deus”, a fé “que faz milagres”, é o terceiro estilo de vida sugerido. O Pontífice resumiu os três caminhos possíveis que se apresentam ao cristão: o primeiro é o da “pessoa estéril” que não deseja “dar frutos na vida” e leva “uma vida cômoda, tranquila, sem problemas e vai embora”: o estilo de quem não se preocupa em praticar o bem. Depois há os “que exploram os outros, também na casa de Deus; os exploradores, os comerciantes sem escrúpulos do templo”, os que Jesus “afasta” com o chicote. Por fim o estilo de quem tem “confiança em Deus” e sabe que aquilo que pede ao Senhor com fé, “acontecerá”. E é precisamente isto “que Jesus nos aconselha: o caminho de Jesus” que se pode percorrer sob uma única condição: “perdoe, perdoe os outros, para que o seu Pai lhe perdoe muitas coisas”.

Ao concluir, o Papa convidou todos a pedir ao Senhor — no sacrifício da Eucaristia — que ensine a “cada um de nós, à Igreja” a nunca cair “na esterilidade e nos negócios sem escrúpulos”.

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