Homilia de 29 de maio, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 23 de 04 de junho de 2015
“Três modos de levar a vida”. Indicou-os o Papa Francisco, partindo do trecho evangélico de Marcos (11, 11-25) que propõe precisamente três atitudes relacionadas com igual número de figuras: “da figueira”, dos “comerciantes sem escrúpulos do templo” e “do homem de fé”.
Já na celebração do dia anterior, o Papa Francisco tinha esboçado as características de três tipos de discípulos de Jesus — os “que não ouviam o grito de ajuda” do cego, os que “afastavam o povo de Jesus” e, por fim, “os que ajudavam as pessoas que tinham necessidade de encontrar Jesus” — convidando todos a fazer um exame de consciência para encontrar o grupo ao qual pertenciam. No dia seguinte voltou a uma reflexão semelhante, inspirada no trecho evangélico de Marcos.
A figueira, explicou a este propósito, “representa a esterilidade, ou seja, uma vida estéril, incapaz de produzir alguma coisa”. Isto é, uma vida que não dá frutos, “incapaz de fazer o bem”, porque aquele tipo de homem “vive para si; tranquilo, egoísta”, não quer “problemas”. No trecho evangélico Jesus amaldiçoa a figueira porque é estéril, “porque não fez o que devia para dar fruto”, tornando-se assim o símbolo da “pessoa que nada faz para ajudar, que vive sempre para si mesma, a fim de que nada lhe falte”.
Estas pessoas, prosseguiu o Papa, no final “tornam-se neuróticas”. E “Jesus condena a esterilidade espiritual, o egoísmo espiritual” de quem pensa: “Eu vivo para mim: que nada me falte, os outros que se virem!”.
Há depois um segundo “modo de levar a vida”, que é “o dos exploradores, dos comerciantes sem escrúpulos do templo”. Eles “exploram até o lugar sagrado de Deus para fazer negócios: trocam as moedas, vendem os animais para o sacrifício, até entre eles têm uma espécie de sindicato para se defenderem”. Um estilo “não só tolerado, mas também autorizado pelos sacerdotes do templo”. Para fazer compreender melhor, o Pontífice recordou um episódio “muito feio”, narrado na Bíblia, que descreve “os que fazem da religião um negócio”: é a história do sacerdote cujos filhos “convidavam as pessoas a fazer ofertas e ganhavam muito, até dos pobres”. Sobre estes “Jesus não poupa as palavras” e diz aos mercantes no templo: “A minha casa será chamada casa de oração. Vós, ao contrário, fizeste dela um covil de ladrões!”. Palavras severas, sobre as quais o Papa se prolongou: as pessoas “iam em peregrinação ali para pedir a bênção do Senhor, para fazer um sacrifício” e justamente ali “eram exploradas”; os sacerdotes “não ensinavam a rezar, não lhes faziam catequese... Era um covil de ladrões”. Não lhes interessava se havia devoção verdadeira: “pague, entre...”. Cumpriam os ritos ”verdadeira devoção”. E referindo-se a isto Francisco convidou a uma reflexão: “Não sei se nos fará bem pensar se acontece conosco algo deste gênero em algum lugar”: isto é “utilizar as coisas de Deus para o próprio proveito”.
Por fim, há uma terceira tipologia, a “que Jesus aconselha, isto é, a vida de fé”. Para a descrever, o Pontífice retomou a leitura do Evangelho de Marcos e recordou que quando os discípulos viram a figueira seca desde a raiz “porque Jesus a tinha amaldiçoado”, Pedro diz-lhe: “Mestre, repara! A figueira que amaldiçoaste secou!”. E Jesus aproveitando a ocasião para indicar o justo “estilo de vida” respondeu: “Tende fé em Deus. Se alguém dissesse a este monte: ‘levanta-te e lança-te ao mar’, sem ter a mínima dúvida, mas acreditando que o que diz acontece, isso acontecerá. Tudo o que pedirdes na oração, tende fé que o obtereis e acontecerá”. Em seguida, explicou o Papa, “acontecerá exatamente o que nós pedimos com fé: é o estilo de vida da fé”.
Alguém poderia perguntar: “Pai, que devo fazer para isto?”. A resposta segundo Francisco é simples: “Pede-o ao Senhor, que lhe ajude a fazer coisas boas, mas com fé”. Simples, mas com “uma condição” ditada pelo próprio Jesus: “Quando rezar pedindo isto, se tiver alguma coisa contra alguém, perde. É a única condição, para que também o seu Pai que está nos céus lhe perdoe as suas culpas”.
Viva “a fé para ajudar os outros, para se aproximar de Deus”, a fé “que faz milagres”, é o terceiro estilo de vida sugerido. O Pontífice resumiu os três caminhos possíveis que se apresentam ao cristão: o primeiro é o da “pessoa estéril” que não deseja “dar frutos na vida” e leva “uma vida cômoda, tranquila, sem problemas e vai embora”: o estilo de quem não se preocupa em praticar o bem. Depois há os “que exploram os outros, também na casa de Deus; os exploradores, os comerciantes sem escrúpulos do templo”, os que Jesus “afasta” com o chicote. Por fim o estilo de quem tem “confiança em Deus” e sabe que aquilo que pede ao Senhor com fé, “acontecerá”. E é precisamente isto “que Jesus nos aconselha: o caminho de Jesus” que se pode percorrer sob uma única condição: “perdoe, perdoe os outros, para que o seu Pai lhe perdoe muitas coisas”.
Ao concluir, o Papa convidou todos a pedir ao Senhor — no sacrifício da Eucaristia — que ensine a “cada um de nós, à Igreja” a nunca cair “na esterilidade e nos negócios sem escrúpulos”.
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