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DE SANTA MARTA

A salvação vem do descarte

por Papa Francisco
13/06/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 01 de junho, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 23 de 04 de junho de 2015

Deus dá sempre vida a uma “história de amor” com cada um de nós. E apesar de parecerem ser “falhas”, pequenas e grandes, no final aquele “sonho de amor”vence. Justamente este nosso caminho por uma “estrada difícil”, com um Deus que salva através do que é descartado, foi reproposto por Francisco.

Para o Papa, a parábola dos camponeses e do dono da vinha, narrada por Marcos no trecho evangélico (12, 1-12) proposto pela liturgia, “é uma síntese da história da salvação que Jesus faz — como ouvimos — aos chefes dos sacerdotes, aos escribas e aos anciãos: ou seja, à liderança do povo de Israel, aos que governavam o povo, aos destinatários da promessa de Deus”.

E “é uma parábola bonita”, realçou o Pontífice, que “começa com um sonho, um projeto de amor: aquele homem que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar” e edificou uma torre. Foi “feito tudo com amor”. De fato, o homem “amava este rebento de vinha” e, consequentemente, “aluga-a, entrega-a” para que dê fruto. Depois, “no momento oportuno manda um servo aos vinhateiros, para receber deles uma parte do produto da vinha e daí começa tudo o que ouvimos: um foi espancado, outro ferido e o terceiro morto”. Por fim, “envia o seu filho” mas aqueles camponeses “matam-no: assim termina a história”.

Afinal de contas, explicou o Papa, “esta história que parece uma história de amor, que devia ir em frente com passos de amor entre Deus e o seu povo”, ao contrário, mostra-se “uma história de falhas”. A ponto que “Deus — o Pai do povo, que elege este povo para si porque é um povo pequeno e o ama, sonha com amor — parece falhar”. E “esta história de salvação pode ser chamada história da falência”. Mas “a falência — disse o Pontífice — inicia desde o primeiro momento e também nesta falência do sonho de Deus, desde o começo, há o sangue — o sangue de Abel — e a partir dali continua: o sangue de todos os profetas que foram falar ao povo, que ajudaram a preservar a vinha, até ao sangue do seu Filho”. Contudo, acrescentou Francisco, “há no final uma palavra de Deus, que nos faz pensar”.

“O que fará portanto o dono da vinha?”, questionou-se Francisco. E respondeu: “Virá e colocará o povo diante do julgamento”. A este propósito Jesus diz uma palavra que parece um pouco fora do lugar: ‘Não lestes esta Escritura? A pedra que os construtores descartaram tornou-se a pedra angular. Isto foi feito pelo Senhor e é uma maravilha aos nossos olhos’. Em seguida, o Papa esclareceu que “aquela história de falência se inverte e o que foi descartado torna-se força”. Assim “os profetas, os homens de Deus que falaram ao povo, que não foram ouvidos, que foram descartados, serão a sua glória”. E “o filho, o último enviado, que foi realmente descartado, julgado, não ouvido e assassinado, tornou-se a pedra angular”. Eis então que “esta história, que começa com um sinal de amor e se assemelha a uma história de amor, mas depois parece findar numa história de falência, acaba com o grande amor de Deus, que do descarte tira a salvação; mediante o seu Filho descartado, salva a todos”.

Para o Pontífice foi uma bela experiência “ler na Bíblia várias lamentações de Deus”. Aliás, “quando Deus fala ao seu povo diz: ‘Mas por que faz isto? Lembra-se de tudo o que foi feito por você: como o escolhi, como o libertei. Mas por que me faz isto?’. E “no final” há justamente aquele pranto de Jesus sobre Jerusalém: ‘Jerusalém, Jerusalém, que mata os seus profetas’. Esta, explicou, “é a história de um povo que não consegue libertar-se daquele desejo que semeou Satanás nos primeiros pais: tornarem-se deuses”. É “um povo que não sabe obedecer a Deus, porque por sua vez quer ser deus”.

Esta atitude torna-o “um povo fechado, um povo no qual os ministros se endurecem”. Portanto, observou o Papa, “o final deste trecho, que lemos, é triste”, porque sobressai “a rigidez daqueles sacerdotes, daqueles doutores da lei: tentavam capturar Jesus para matá-lo, mas tiveram medo da multidão”. Com efeito, “compreenderam que ele tinha pronunciado aquela parábola contra eles”. E, portanto, “deixaram-no e foram embora”.

“O caminho da nossa redenção é uma estrada na qual não faltam falhas”, reconheceu o Pontífice. A ponto que “também a última, a da Cruz, é um escândalo: mas precisamente ali o amor vence”. E “aquela história que começa com um sonho de amor, e continua com uma história de falências, finda na vitória do amor: a cruz de Jesus”. O Papa Francisco convidou a “não esquecer este caminho”, embora seja “um percurso difícil”. Mas “também o nosso” é sempre um caminho difícil. Assim, “se cada um de nós fizer um exame de consciência, verá quantas vezes mandou embora os profetas; quantas vezes disse a Jesus: “Vai embora!”: quantas vezes quis salvar-se a si mesmo; quantas vezes pensou que era justo”.

“O amor de Deus para o seu povo manifesta-se no sacrifício do seu Filho que agora vamos celebrar outra vez, verdadeiramente”, disse Francisco antes de retomar a celebração eucarística. “E quando Ele descer sobre o altar e nós o oferecermos ao Pai — acrescentou —-nos fará bem recordar esta história de amor que parece falhar, mas no final vence”. Logo, é importante “fazer memória, na história da nossa vida, daquela semente de amor que Deus lançou em nós”. E, “fazer o que fez Jesus em nosso nome: humilhou-se”. E assim também a nós, concluiu, “fará bem humilhar-nos diante deste Senhor que agora vem para celebrar conosco o memorial da sua vitória”.

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