Homilia de 11 de junho, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 25 de 18 de junho de 2015
A caminho de Deus e do próximo, no serviço e na pobreza. Assim se poderia resumir a meditação do Papa. Ao comentar o trecho bíblico (Mt 10, 7-13) no qual “Jesus envia os seus discípulos a anunciar a boa nova, o evangelho da salvação”, o Pontífice frisou “três palavras-chave para entender o que Jesus quer dos seus discípulos” e “de todos nós que O seguimos”. São elas: “caminho, serviço e gratuidade”. Antes de tudo, Jesus envia “por um caminho”, que não é um simples “passeio”; é “o envio com uma mensagem: anunciar o evangelho, sair para levar a salvação, o evangelho da salvação”. Esta é “a tarefa que Jesus dá aos discípulos”. Assim, quem “permanece parado e não sai, não dá ao próximo o que recebeu no batismo, não é um verdadeiro discípulo de Jesus” porque “lhe falta a missionariedade”, “o sair de si mesmo para dar algo de bom aos outros”. Mas há outro “percurso do discípulo de Jesus”, “o percurso interior” do “discípulo que procura o Senhor todos os dias na oração, na meditação”. E não é algo secundário: “O discípulo deve fazer também este percurso, pois se não procurar sempre a Deus, o evangelho que ele leva aos outros será frágil, diluído, sem força”. Há um “duplo caminho que Jesus quer dos seus discípulos”. Então, a primeira palavra é “caminho”.
A segunda, intimamente ligada à primeira, é “serviço”. É preciso “caminhar para seguir os outros”. No evangelho lê-se: “Por onde andardes, anunciai que o Reino dos céus está próximo. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios”. Eis o “dever do discípulo: servir”. Francisco foi muito claro: “O discípulo que não serve o outro não é cristão”. A referência do discípulo deve ser o que “Jesus pregou nas duas colunas do cristianismo: as bem-aventuranças e o “protocolo” sobre o qual seremos julgados” ( Mt 25 ). Esta deve ser a “moldura” do “serviço evangélico”. Não há desculpas: “Se o discípulo não caminha para servir, não serve para caminhar. Se a sua vida não é para o serviço, não serve para viver como cristão”. É aqui que muitos sentem a “tentação do egoísmo”. Há quem diga: “Sim, sou cristão, estou em paz, confesso-me, vou à missa, cumpro os mandamentos”. Mas onde está o serviço ao próximo, “o serviço a Jesus doente, na prisão, faminto, nu”? E, no entanto, foi isto “que Jesus nos disse que devemos fazer, porque Ele está ali”. Eis então a segunda palavra: o “serviço a Cristo no próximo”.
Há consequência também na “terceira palavra deste trecho: gratuidade”. Caminhar no serviço, na gratuidade. Com efeito, lê-se: “Recebestes de graça, dai de graça”. Um detalhe essencial que impele o Senhor a esclarecer, caso “os discípulos não tivessem entendido”: “Não leveis ouro, nem prata, nem dinheiro nos vossos cintos, nem mochila para a viagem, nem duas túnicas”, ou seja, “o caminho do serviço é gratuito porque nós recebemos a salvação de graça”, Nenhum de nós “comprou a salvação, nenhum de nós a mereceu”: temo-la por “pura graça do Pai em Jesus Cristo”. Por isso, “é triste quando vemos cristãos que se esquecem desta palavra de Jesus: ‘Recebestes de graça, dai de graça’”. É triste quando esquecem as “comunidades cristãs”, as “paróquias”, as “congregações religiosas”, as “dioceses”. Quando isto acontece, alertou, é porque por trás “há o engano” de presumir “que a salvação provém das riquezas, do poder humano”.
O Papa resumiu assim a sua reflexão: “Três palavras. Caminho: como envio para anunciar. Serviço: a vida do cristão não é para si mesmo, mas para o próximo, como foi para Jesus. E ‘gratuidade’”. Assim, poderemos esperar em Jesus, o qual “nos confere uma esperança que nunca desilude”. Mas “quando a esperança está na comodidade do caminho ou no egoísmo” e não no serviço ao próximo, ou “quando a esperança está nas riquezas ou nas pequenas seguranças mundanas, tudo isto desaba. É o próprio Senhor que o faz cair”.
Por isso, o Pontífice convidou a continuar a celebração eucarística, “neste caminho rumo a Deus com Jesus no altar, para depois caminharmos rumo ao próximo no serviço e na pobreza, só com a riqueza do Espírito Santo que o próprio Jesus nos concedeu”.
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