Homilia de 18 de junho, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 26 de 25 de junho de 2015
“Fragilidade, oração, perdão”: três palavras-chave para evocar a consciência de que sem a ajuda de Deus não podemos dar um passo na vida, sugeriu o Papa Francisco.
Já na oração da coleta da liturgia, o Pontífice disse “pedimos ajuda ao Senhor, que é a nossa fortaleza”. De fato, rezamos: “Na nossa fragilidade, nada podemos sem a tua ajuda”. Palavras que exprimem exatamente “a consciência de que somos frágeis”. É a “fragilidade que todos trazemos depois da ferida do pecado original: somos frágeis, escorregamos nos pecados, não podemos ir em frente sem a ajuda do Senhor”.
Eis porque, afirmou Francisco, “é indispensável conhecer e confessar a nossa fragilidade”. Com efeito, “quem se considera forte, capaz de se salvar sozinho, é pelo menos ingênuo e, no final, permanece um homem derrotado por tantas fragilidades que traz consigo”. Ao contrário, é exatamente “a fragilidade que nos leva a pedir ajuda ao Senhor”, porque, como recita a oração da coleta “na nossa fragilidade nada podemos sem a tua ajuda”.
Em seguida, frisou o Papa, “não podemos dar um passo na vida cristã sem a ajuda do Senhor, porque somos frágeis”. E “quem estiver em pé tenha o cuidado de não cair porque é frágil, frágil até na fé”. Recordemos, prosseguiu, aquele pai que, depois da transfiguração, “levou o filho para que Jesus o curasse. E Jesus disse que tudo é possível para quem tem fé”. Por sua vez o pai respondeu: “Senhor, eu creio, mas aumenta a minha fé, porque é frágil!”.
“Todos nós temos fé — explicou o Pontífice — e queremos ir em frente na vida cristã. Mas se não estivermos cientes da nossa fragilidade seremos vencidos”. Por isso, acrescentou, “é bonita aquela oração: ‘Senhor, sei que na minha fragilidade nada posso sem a tua ajuda’”. E “esta é a primeira palavra de hoje: fragilidade”.
A segunda palavra é “oração”. Foram os apóstolos que pediram a Jesus: “Ensina-nos a rezar como fez João aos seus discípulos”. O Papa recordou que o trecho evangélico da liturgia, tirado do capítulo 6 de Mateus (7-15), “não contém aquela pergunta, está em outro”. Jesus ensina a rezar recomendando aos discípulos que não façam como os pagãos que desperdiçam palavras: “eles pensam que quanto mais falam mais são ouvidos”. E repetiu exatamente as palavras do Senhor aos discípulos: “Não façais como eles, porque o vosso Pai celeste sabe do que necessitais ainda antes que lho peçais”.
Depois o Papa fez referência a um trecho do primeiro livro dos Reis: no monte Carmelo “os quatrocentos profetas do ídolo Baal clamavam e gritavam; e o profeta Elias divertia-se um pouco com eles”, dizendo que talvez o seu Deus “dormisse e não os ouvisse”. Mas “é assim que rezam os pagãos”. Jesus ao contrário, recomenda: “Não façais isto! Rezai simplesmente, o Pai sabe do que necessitais, abri o coração diante do Pai”. Como “a mulher que estava no templo de Jerusalém, a mãe de Samuel: pedia ao Senhor a graça de ter um filho e só movia os lábios”. A ponto que “o sacerdote que estava lá e olhava para ela”, julgando que estivesse embriagada, repreendeu-a e afastou-a.
Mas era o seu modo de exprimir “a dor diante de Deus: só movia os lábios porque não conseguia falar, pedia um filho”. Então, afirmou o Papa, “devemos rezar assim diante do Senhor”. E “porque sabemos que Ele é bom e sabe tudo sobre nós e do que precisamos”, sugeriu Francisco, “comecemos a pronunciar a palavra ‘Pai’, que é humana certamente, nos dá vida, mas na oração só podemos dizê-la com a força do Espírito Santo”.
No canto antes do Evangelho, tirado da carta de Paulo aos Romanos (8, 15), a liturgia recorda: “Recebestes o espírito que vos torna filhos adotivos por meio do qual clamamos: Abbá, Pai!”. É o Espírito, explicou o Pontífice. E, portanto “comecemos a oração com a força do Espírito que reza em nós”. É preciso “rezar assim, simplesmente, com o coração aberto na presença de Deus que é Pai e sabe do que temos necessidade antes que o digamos”. E “esta é a segunda palavra” de hoje: oração.
“Existe uma condição para rezar bem — advertiu Francisco — que Jesus retoma precisamente da oração que ensina aos seus discípulos”. Esta é a terceira palavra: perdão. A oração que Jesus nos ensina diz: “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. E “depois Jesus retoma esta ideia”, dizendo: “Se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai não vos perdoará as vossas”.
Portanto, explicou, “só podemos rezar bem e dizer ‘Pai’ a Deus se o nosso coração estiver em paz com os outros, com os irmãos”. A quem se justifica dizendo: “ele me fez isto, o outro me fez aquilo...”, a resposta é só uma: “perdoa, perdoa como Ele te perdoará!”. E “deste modo a fragilidade que temos, com a ajuda de Deus na oração torna-se fortaleza, porque o perdão é uma grande força: é preciso ser forte para perdoar, mas esta fortaleza é uma graça que devemos receber do Senhor porque somos frágeis”.
Na celebração da Eucaristia, concluiu o Papa “também ele se faz frágil, se faz pão por nós: nisto está a força. Ele reza por nós, oferece-se ao Pai por nós. E perdoa-nos: aprendamos com Ele a fortaleza da confiança em Deus, a força da oração e do perdão”.
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