Homilia de 19 de junho, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 26 de 25 de junho de 2015
As riquezas que contam são reconhecidas pela “bolsa do céu”. E não coincidem com as lógicas ávidas dos homens, destinadas a serem corroídas pelas “traças e pela ferrugem”, mas também a desencadear guerras. Desta forma, o verdadeiro segredo é comportar-se como autênticos administradores que põem todos os bens “ao serviço dos outros”. Eis os conselhos práticos sugeridos pelo Papa.
“Jesus volta a uma catequese para Ele muito querida: a catequese sobre as riquezas” disse Francisco, relendo o trecho evangélico moderno (Mt 6, 19-23). E “é muito claro o seu conselho: ‘Não acumuleis tesouros na terra’”. Mas Jesus explica também o porquê: “Onde a ferrugem e as traças os corroem e os ladrões arrombam os muros, para os roubar”. Em síntese, afirmou o Papa, “Jesus nos diz que é perigoso brincar com este comportamento de acumular tesouros na terra”. É verdade, reconheceu o Pontífice, que talvez “na raiz deste comportamento haja a vontade de segurança”. Como para dizer “quero estar seguro e por isso tenho esta poupança”.
Mas “as riquezas não são como uma estátua, não estão paradas: as riquezas têm a tendência a crescer, a mover-se, a ocupar um lugar na vida e no coração do homem”. E “assim aquele homem que, para não se tornar escravo de uma pobreza, acumula riquezas, acaba sendo escravo das riquezas”. Eis então o conselho de Jesus: “Não acumuleis tesouros na terra”. De resto, acrescentou o Papa, “as riquezas invadem também o coração, apropriam-se do coração e corrompem-no. E aquele homem acaba corrompido por este comportamento de acumular riquezas”.
Depois, Francisco recordou que “Jesus em outra catequese sobre o mesmo tema, falava de um homem que teve uma boa colheita de trigo e pensava: o que farei agora? Destruirei os meus armazéns e construirei outros maiores”. Mas o Senhor diz: “Insensato, morrerás hoje à noite”. E “isto — explicou o Papa — é um segundo traço deste hábito: quem acumula riquezas não se dá conta de que deverá deixá-las”.
No trecho evangélico hodierno, “Jesus fala de traças e ferrugem: mas quais são? Há a destruição do coração, a corrupção do coração e também a destruição das famílias”. E o Pontífice recordou também “o homem que vai até Jesus para lhe dizer: ‘por favor, diz ao meu irmão que divida comigo a herança! ’”. E, mais uma vez, repete o conselho do Senhor: “Fiquem atentos a não se apegarem às riquezas!”.
Mas “neste discurso vai adiante”frisou o Papa. E “o trecho que se segue ao que foi lido é muito claro: ninguém pode servir a dois senhores, porque odiará um e amará o outro; ou se afeiçoar á a um e desprezará o outro”. Enfim, diz o Senhor, “não podeis servir a Deus e à riqueza”.
É uma afirmação muito clara, frisou Francisco: “É verdade, ouvimos as pessoas que têm esta atitude de acumular riquezas, elas ‘acumulam’ muitas desculpas para se justificar, tantas!”. Contudo, “no final estas riquezas não dão segurança para sempre. Aliás, rebaixam-te na dignidade”. E isto é válido também “em família”: muitas famílias separam-se justamente por causa das riquezas.
E mais: “Também na raiz das guerras há esta ambição que destrói, corrompe”, disse o Papa. De fato, “neste mundo, neste momento, estão em ato muitas guerras por causa da ambição de poder, de riquezas”. Mas “pode-se pensar na guerra no nosso coração: ’Afastai-vos de toda a cobiça! ’ diz o Senhor”. Porque “a ambição vai aumentando sempre: sobe um degrau, abre a porta, depois chega a vaidade — considera-se importante, poderoso — e no final o orgulho”. E “a partir disto todos os vícios: são degraus, mas o primeiro é a ambição, a vontade de acumular riquezas”.
Em seguida Francisco recordou “um ditado muito bom: o diabo entra pela portas-moeda” ou “entra pelos bolsos, é o mesmo: este é o ingresso do diabo e de todos os vícios, das seguranças inseguras”. E “isto — explicou o Papa — é exatamente a corrupção, as traças e a ferrugem que nos seduzem”. De resto, “acumular é uma qualidade do homem: construir e dominar o mundo são também uma missão”. Mas “o que devo acumular?”. A resposta de Jesus, no Evangelho de hoje, é clara: “Acumulai tesouros no Céu onde nem as traças nem a ferrugem os corroem nem os ladrões arrombam os muros para roubá-los”. É esta precisamente “a luta de todos os dias: como administrar bem as riquezas da terra para que sejam orientadas para o céu e se tornem riquezas do céu”.
“Quando o Senhor abençoa uma pessoa com as riquezas — afirmou Francisco — faz dela um administrador daquelas riquezas para o bem comum e de todos” e “não para o próprio bem”. Mas “não é fácil tornar-se um administrador honesto porque existe sempre a tentação da ambição, de se tornar importante: o mundo ensina-nos isto e leva-nos por esta estrada”.
Ao contrário, devemos “pensar nos outros, considerar que o que tenho está ao serviço dos outros e nada levarei comigo”. E “se usar o que o Senhor me concedeu para o bem comum, como administrador, isto me santifica, faz-me santo”. Contudo “não é fácil”, reconheceu o Papa. Assim “todos os dias devemos entrar no nosso coração para nos perguntar: onde está o meu tesouro? Nas riquezas ou nesta administração, no serviço para o bem comum?”.
Portanto, “quando um rico vê que o seu tesouro é administrado para o bem comum, e vive com simplicidade no seu coração e na sua vida, como se fosse pobre: este homem é santo, caminha na estrada da santidade, porque as suas riquezas são para todos”. Mas “é difícil, é como brincar com o fogo”, acrescentou o Pontífice. Por este motivo “muitos tranquilizam a própria consciência com a esmola e doam o que lhes sobra”. Mas “isto não é ser administrador: o verdadeiro administrador conserva para si o que sobra e dá aos outros, em serviço, tudo”. De fato, “administrar a riqueza é um despojamento contínuo do próprio interesse e não pensar que estas riquezas nos proporcionarão a salvação”. Portanto “acumular sim, tesouros sim, mas os que são cotados — digamos assim — na ‘bolsa do céu’: lá, acumulem lá!”.
De resto, explicou o Papa, “o Senhor viveu como pobre, mas quanta riqueza tinha!”. O próprio Paulo, prosseguiu Francisco, ao referir-se à primeira leitura (2 Cor 11.18, 21-30), “viveu como pobre e do que se vangloriava? Da sua fragilidade”. E “tinha possibilidades, poder, mas sempre ao serviço”. Eis, frisou, “ao serviço” é exatamente a palavra-chave. E, acrescentou, “o Batismo torna-nos irmãos uns dos outros para nos servir, para nos despojar: não para despojarmos o outro, mas para me despojar e doar ao outro”.
Pensemos, sugeriu Francisco, “em como está o nosso coração, como é a luz do nosso coração, como é o olho do nosso coração: é simples?”. De fato, o Senhor diz sempre no Evangelho de Mateus, que “todo o corpo será iluminado”. Mas se “for malvado, afeiçoado aos próprios interesses e não aos outros, será um coração tenebroso”. “As riquezas, através dos vícios e da corrupção, fazem um coração tenebroso quando o homem se apega a elas”.
O Papa concluiu recordando que “na celebração da Eucaristia o Senhor que é tão rico — tão rico! — se fez pobre para nos enriquecer”. Justamente “com a sua pobreza nos ensine este caminho para não acumular riquezas na terra, porque elas corrompem”. E “quando as possuímos, nos ensine a usá-las como administradores, ao serviço dos outros”.
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