Homilia de 25 de junho, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 27 de 02 de julho de 2015
Como se reconhece o cristão? Da sua atitude. Assim comentou o Papa o trecho evangélico da liturgia, adaptando a imagem da casa construída sobre a rocha à vida diária dos fiéis. Em primeiro lugar, recordando que “Jesus ensina como quem tem autoridade” (Mt 7, 21-29), o Pontífice propôs um ensinamento para todos: “As pessoas sabem discernir bem quando um sacerdote, um bispo, um catequista, um cristão tem a coerência que lhe confere autoridade”. O próprio Jesus num trecho precedente, “admoesta os discípulos, o povo, todos: ‘Estai atentos aos falsos profetas’”. A palavra certa — embora seja um neologismo — deveria ser: “pseudoprofetas”, que “se parecem com ovelhas boas, mas são lobos vorazes”. Depois, o Papa citou o trecho em que Jesus explica como discernir “os verdadeiros pregadores do Evangelho dos que anunciam uma palavra que não é Evangelho”.
Existem “três palavras-chave para entender isto: falar, fazer, ouvir”. Começa-se pelo “falar”. Jesus diz: “Nem todos aqueles que dizem: ‘Senhor, Senhor’, entrarão no reino dos Céus”. E acrescenta: “Naquele dia muitos dirão: ‘Senhor, não fizemos profecias no teu nome? No teu nome não expulsamos demônios? No teu nome não fizemos milagres?’”. Mas Ele responderá: “Nunca vos conheci, afastai-vos de mim, vós que realizais iniquidades”. Por que esta oposição? Porque “estes falam e agem”, mas falta-lhes “uma atitude que é essencial, o fundamento do falar e do agir: o ouvir”. Jesus diz ainda: “Quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática...”. Portanto, “o binômio falar-agir não é suficiente”, mas até pode enganar. O binômio certo é outro: “ouvir e agir, pôr em prática”. Jesus nos diz: “Quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática é como um homem sábio que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, sopraram os ventos, mas a casa ficou firme, porque foi construída sobre a rocha”. Mas “quem ouve as palavras e não as faz suas, não as põe em prática, é como aquele que edifica a casa sobre a areia”.
Eis a chave para reconhecer os falsos profetas: “Poderão conhecê-los pelos seus frutos”, ou seja, “pela sua atitude: falam muito e realizam milagres, mas não têm o coração aberto para ouvir a palavra de Deus, têm medo do silêncio da palavra de Deus”, são “pseudocristãos, pseudopastores”, que “fazem coisas boas”, mas “falta-lhes a rocha”.
A prece da coleta do dia diz: “Tu nunca abandonas quem confia na rocha do teu amor”. Mas a estes “pseudocrístãos”, falta “a rocha do amor de Deus, da palavra de Deus”. E, “sem esta rocha não podem profetizar, nem construir, porque no final tudo desaba”. Trata-se dos “pastores ou fiéis cristãos mundanos, que falam muito” — talvez “temam o silêncio” — e “agem demais”. São incapazes de agir a partir da “escuta”; partem de si mesmos, “não de Deus”. Assim, “quem só fala e age não é verdadeiro profeta, nem cristão autêntico”, porque “não está firme na rocha do amor de Deus, não é ‘rochoso’”. Ao contrário, “quem sabe ouvir e depois agir, com a força da palavra de Outro, não da sua, permanece firme como a rocha: mesmo sendo humilde e não parecendo importante”, é grande. E “quantos destes grandes vivem na Igreja!”, frisou o Papa: “Quantos bispos, sacerdotes, e fiéis grandes, que sabem ouvir antes de agir!”. Francisco citou um exemplo dos nossos dias, Teresa de Calcutá, que “ouvia a voz do Senhor: não falava, sabia ouvir no silêncio” e depois agir. “Ela fez muito!”, disse o Pontífice. E, como a casa na rocha, “não desabou, nem ela nem a sua obra”. Do seu testemunho compreende-se que “os grandes sabem ouvir antes de agir, porque a sua confiança e força” estão “na rocha do amor de Jesus Cristo”.
O Papa concluiu a meditação, recordando que a liturgia usa “o altar de pedra, forte e sólido” como “símbolo de Jesus”. No altar Jesus faz-se “frágil, um pedaço de pão” para todos, para nos fortalecer. “Que Ele nos acompanhe nesta celebração — concluiu — e nos ensine a ouvir e a agir” a partir “da escuta, e não das nossas palavras”.
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