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DE SANTA MARTA

Encurtemos as distâncias

por Papa Francisco
09/07/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 26 de junho, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 27 de 02 de julho de 2015

Aproximar-se das pessoas marginalizadas, encurtar as distâncias até chegar a tocá-las sem ter medo de se sujar: eis a “proximidade cristã” que nos mostrou concretamente Jesus libertando o leproso da impureza da doença e também da exclusão social. A cada cristão, à Igreja inteira, o Papa pediu que tenha uma atitude de “proximidade”.

“Quando Jesus desceu do monte, grandes multidões o seguiam”: Francisco iniciou a homilia repetindo justamente as primeiras palavras do Evangelho de Mateus (8, 1-4) proposto pela liturgia. E toda aquela multidão, explicou, “tinha ouvido as suas catequeses: ficaram maravilhados porque falava ‘com autoridade’, não como os doutores da lei” que eles estavam habituados a ouvir. “Ficaram maravilhados”, especifica o Evangelho.

Portanto, “estas pessoas” começaram a seguir Jesus sem se cansar de o ouvir. A ponto que, recordou o Papa, elas “permaneceram o dia inteiro e, por fim, os apóstolos” deram-se conta de que tinham certamente fome. Mas “para eles ouvir Jesus era motivo de alegria”. E assim “quando Jesus acabou de falar, desceu do monte e as pessoas seguiam-no” reunindo-se “em volta dele”. Aquela gente, recordou, “ia pelas estradas, pelos caminhos, com Jesus”.

Contudo, “havia também outras pessoas que não o seguiam: observavam-no de longe, com curiosidade”, perguntando-se: “Mas quem é ele?”. Aliás, explicou Francisco, “não tinham ouvido as catequeses que tanto surpreendiam”. E assim havia “pessoas que olhavam da calçada” e outras que não podiam aproximar-se: era-lhes proibido pela lei, porque eram “impuras”. Exatamente entre elas estava o leproso do qual fala Mateus no Evangelho.

“Este leproso — realçou o Papa — sentia no coração o desejo de se aproximar de Jesus: encheu-se de coragem e aproximou-se”. Mas “era um marginalizado”, e portanto “não podia fazê-lo”. Porém, “tinha fé naquele homem, ganhou coragem e aproximou-se”, dirigindo-lhe “simplesmente o seu pedido: ‘Senhor, se quiseres, podes purificar-me’”. Disse assim “porque era ‘impuro’”. Com efeito, “a lepra era uma condenação definitiva”. E “curar um leproso era tão difícil quanto ressuscitar um morto: por esta razão eram marginalizados, estavam todos ali, não podiam misturar-se com as pessoas”.

Porém havia, prosseguiu Francisco, “também os automarginalizados, os doutores da lei que olhavam sempre com aquele desejo de pôr Jesus à prova para fazê-lo cair e depois condenar”. Ao contrário, o leproso sabia que era “impuro, doente, e aproximou-se”. E “o que fez Jesus?”, questionou-se o Papa. Não ficou parado, sem o tocar, mas aproximou-se ainda mais e estendeu-lhe a mão curando-o.

“Proximidade”, explicou o Pontífice, é uma “palavra tão importante: não se pode construir comunidades sem proximidade; não se pode fazer a paz sem a proximidade; não se pode praticar o bem sem se aproximar”. Na realidade, Jesus poderia ter-lhe dito: “Que tu sejas curado!”. Ao contrário, aproximou-se dele e tocou-o. “Mais ainda: no momento em que Jesus tocou o impuro, tornou-se impuro”. E “este é o mistério de Jesus: assumir as nossas sujeiras, as nossas impuridades”.

É uma realidade, prosseguiu o Papa, que são Paulo explica bem quando escreve: “Sendo igual a Deus, não considerou esta divindade um bem irrenunciável; aniquilou-se a si mesmo”. E, em seguida, Paulo vai além afirmando que “se fez pecado”: Jesus tornou-se ele mesmo pecado, Jesus excluiu-se, assumiu a impureza para se aproximar do homem. ”Não considerou um bem irrenunciável ser igual a Deus”, mas “aniquilou-se, aproximou-se, fez-se pecado e impuro”.

“Muitas vezes penso — confidenciou Francisco — que é, não quero dizer impossível, mas muito difícil fazer o bem sem sujar as mãos”. E “Jesus sujou-se” com a sua “proximidade”. Mas depois, narra Mateus, foi inclusive além, dizendo ao homem libertado da doença: “Vai até os sacerdotes e faz aquilo que se deve fazer quando um leproso é curado”.

Em síntese, “aquele que estava excluído da vida social, Jesus inclui-o: inclui-o na Igreja, inclui-o na sociedade”. Recomenda-lhe: “Vai para que todas as coisas sejam como devem ser”. Portanto, “Jesus nunca marginaliza, nunca!”. Aliás, Jesus “marginalizou-se a si mesmo para incluir os marginalizados, para incluir a nós, pecadores, marginalizados, na sua vida”. E “isto é bom”, comentou o Pontífice.

Quantas pessoas seguiram Jesus naquele momento e seguem Jesus na história porque ficaram maravilhadas com o seu modo de falar, realçou Francisco. E “quantas pessoas observam de longe e não compreendem, não estão interessadas; quantas pessoas observam de longe mas com um coração maldoso, a fim de pôr Jesus à prova, para o criticar e condenar”. E, ainda, “quantas pessoas observam de longe porque não têm a coragem que teve” aquele leproso, “mas desejam muito aproximar-se”. E “naquele caso Jesus estendeu a mão primeiro; não como neste caso, mas no seu ser, estendeu a mão a todos, tornando-se um de nós, como nós: pecador como nós, mas sem pecado; mas pecador, sujo com os nossos pecados”. E “esta é a proximidade cristã”.

“Palavra bonita, a da proximidade, para cada um de nós”, prosseguiu o Papa. Sugerindo que nos questionemos: “Mas sei aproximar-me? Eu tenho a força, a coragem de tocar os marginalizados?”. E “também a Igreja, as paróquias, as comunidades, os consagrados, os bispos, os sacerdotes, todos”, é bom que respondam a esta pergunta: “Tenho a coragem de me aproximar ou afasto-me sempre? Tenho a coragem de encurtar as distâncias, como fez Jesus?”.

E “agora no altar”, sublinhou Francisco, Jesus “se aproximará de nós: encurtará as distâncias”. Portanto, “peçamos-lhe esta graça: Senhor, que eu não tenha medo de me aproximar dos necessitados, dos que se veem ou daqueles que têm as chagas escondidas”. Esta, concluiu, é “a graça de me aproximar”.

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