Homilia de 26 de junho, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 27 de 02 de julho de 2015
Aproximar-se das pessoas marginalizadas, encurtar as distâncias até chegar a tocá-las sem ter medo de se sujar: eis a “proximidade cristã” que nos mostrou concretamente Jesus libertando o leproso da impureza da doença e também da exclusão social. A cada cristão, à Igreja inteira, o Papa pediu que tenha uma atitude de “proximidade”.
“Quando Jesus desceu do monte, grandes multidões o seguiam”: Francisco iniciou a homilia repetindo justamente as primeiras palavras do Evangelho de Mateus (8, 1-4) proposto pela liturgia. E toda aquela multidão, explicou, “tinha ouvido as suas catequeses: ficaram maravilhados porque falava ‘com autoridade’, não como os doutores da lei” que eles estavam habituados a ouvir. “Ficaram maravilhados”, especifica o Evangelho.
Portanto, “estas pessoas” começaram a seguir Jesus sem se cansar de o ouvir. A ponto que, recordou o Papa, elas “permaneceram o dia inteiro e, por fim, os apóstolos” deram-se conta de que tinham certamente fome. Mas “para eles ouvir Jesus era motivo de alegria”. E assim “quando Jesus acabou de falar, desceu do monte e as pessoas seguiam-no” reunindo-se “em volta dele”. Aquela gente, recordou, “ia pelas estradas, pelos caminhos, com Jesus”.
Contudo, “havia também outras pessoas que não o seguiam: observavam-no de longe, com curiosidade”, perguntando-se: “Mas quem é ele?”. Aliás, explicou Francisco, “não tinham ouvido as catequeses que tanto surpreendiam”. E assim havia “pessoas que olhavam da calçada” e outras que não podiam aproximar-se: era-lhes proibido pela lei, porque eram “impuras”. Exatamente entre elas estava o leproso do qual fala Mateus no Evangelho.
“Este leproso — realçou o Papa — sentia no coração o desejo de se aproximar de Jesus: encheu-se de coragem e aproximou-se”. Mas “era um marginalizado”, e portanto “não podia fazê-lo”. Porém, “tinha fé naquele homem, ganhou coragem e aproximou-se”, dirigindo-lhe “simplesmente o seu pedido: ‘Senhor, se quiseres, podes purificar-me’”. Disse assim “porque era ‘impuro’”. Com efeito, “a lepra era uma condenação definitiva”. E “curar um leproso era tão difícil quanto ressuscitar um morto: por esta razão eram marginalizados, estavam todos ali, não podiam misturar-se com as pessoas”.
Porém havia, prosseguiu Francisco, “também os automarginalizados, os doutores da lei que olhavam sempre com aquele desejo de pôr Jesus à prova para fazê-lo cair e depois condenar”. Ao contrário, o leproso sabia que era “impuro, doente, e aproximou-se”. E “o que fez Jesus?”, questionou-se o Papa. Não ficou parado, sem o tocar, mas aproximou-se ainda mais e estendeu-lhe a mão curando-o.
“Proximidade”, explicou o Pontífice, é uma “palavra tão importante: não se pode construir comunidades sem proximidade; não se pode fazer a paz sem a proximidade; não se pode praticar o bem sem se aproximar”. Na realidade, Jesus poderia ter-lhe dito: “Que tu sejas curado!”. Ao contrário, aproximou-se dele e tocou-o. “Mais ainda: no momento em que Jesus tocou o impuro, tornou-se impuro”. E “este é o mistério de Jesus: assumir as nossas sujeiras, as nossas impuridades”.
É uma realidade, prosseguiu o Papa, que são Paulo explica bem quando escreve: “Sendo igual a Deus, não considerou esta divindade um bem irrenunciável; aniquilou-se a si mesmo”. E, em seguida, Paulo vai além afirmando que “se fez pecado”: Jesus tornou-se ele mesmo pecado, Jesus excluiu-se, assumiu a impureza para se aproximar do homem. ”Não considerou um bem irrenunciável ser igual a Deus”, mas “aniquilou-se, aproximou-se, fez-se pecado e impuro”.
“Muitas vezes penso — confidenciou Francisco — que é, não quero dizer impossível, mas muito difícil fazer o bem sem sujar as mãos”. E “Jesus sujou-se” com a sua “proximidade”. Mas depois, narra Mateus, foi inclusive além, dizendo ao homem libertado da doença: “Vai até os sacerdotes e faz aquilo que se deve fazer quando um leproso é curado”.
Em síntese, “aquele que estava excluído da vida social, Jesus inclui-o: inclui-o na Igreja, inclui-o na sociedade”. Recomenda-lhe: “Vai para que todas as coisas sejam como devem ser”. Portanto, “Jesus nunca marginaliza, nunca!”. Aliás, Jesus “marginalizou-se a si mesmo para incluir os marginalizados, para incluir a nós, pecadores, marginalizados, na sua vida”. E “isto é bom”, comentou o Pontífice.
Quantas pessoas seguiram Jesus naquele momento e seguem Jesus na história porque ficaram maravilhadas com o seu modo de falar, realçou Francisco. E “quantas pessoas observam de longe e não compreendem, não estão interessadas; quantas pessoas observam de longe mas com um coração maldoso, a fim de pôr Jesus à prova, para o criticar e condenar”. E, ainda, “quantas pessoas observam de longe porque não têm a coragem que teve” aquele leproso, “mas desejam muito aproximar-se”. E “naquele caso Jesus estendeu a mão primeiro; não como neste caso, mas no seu ser, estendeu a mão a todos, tornando-se um de nós, como nós: pecador como nós, mas sem pecado; mas pecador, sujo com os nossos pecados”. E “esta é a proximidade cristã”.
“Palavra bonita, a da proximidade, para cada um de nós”, prosseguiu o Papa. Sugerindo que nos questionemos: “Mas sei aproximar-me? Eu tenho a força, a coragem de tocar os marginalizados?”. E “também a Igreja, as paróquias, as comunidades, os consagrados, os bispos, os sacerdotes, todos”, é bom que respondam a esta pergunta: “Tenho a coragem de me aproximar ou afasto-me sempre? Tenho a coragem de encurtar as distâncias, como fez Jesus?”.
E “agora no altar”, sublinhou Francisco, Jesus “se aproximará de nós: encurtará as distâncias”. Portanto, “peçamos-lhe esta graça: Senhor, que eu não tenha medo de me aproximar dos necessitados, dos que se veem ou daqueles que têm as chagas escondidas”. Esta, concluiu, é “a graça de me aproximar”.
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