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DE SANTA MARTA

Confissão dupla

por Papa Francisco
17/09/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 03 de setembro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 37 de 10 de setembro de 2015

Só quem é humilde e sabe reconhecer a sua condição de pecador é capaz de se deixar encontrar verdadeiramente pelo Senhor. As características do encontro pessoal com Jesus foram o centro da reflexão do Papa.

Para a sua homilia, o Pontífice inspirou-se no Evangelho do dia, de Lucas (5, 1-11) no qual Pedro é convidado a lançar as redes não obstante uma noitada de pesca inconcludente. “É a primeira vez que acontece este fato, esta pesca milagrosa. Mas depois da ressurreição haverá outra, com características que se assemelham”, observou. E diante do gesto de Simão Pedro que se lança aos joelhos de Jesus, dizendo: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador”, Francisco deu início a uma meditação sobre o modo como “Jesus se encontrava com as pessoas e como as pessoas se encontravam com Jesus”.

Antes de tudo, Jesus ia pelas ruas, passava “a maior parte do seu tempo pelas ruas, com as pessoas; depois, no final da tarde retirava-se para rezar sozinho”. Portanto, ele “encontrava-se com as pessoas”, procurava-as. Mas as pessoas, questionou-se o Papa, de que modo se encontravam com Jesus? Substancialmente de “duas maneiras”. Uma é a que se observa em Pedro e que é a mesma “do povo”. O Evangelho, frisou o Pontífice, “usa a mesma palavra para as pessoas, para o povo, para os apóstolos, para Pedro”: isto é, que eles, ao encontrar-se com Jesus, “permaneceram ‘maravilhados’ “. Pedro, os apóstolos, o povo, manifestam “este sentimento de admiração” e dizem: “Mas, ele fala com autoridade”.

Ao contrário, nos evangelhos lê-se sobre “outro grupo que se encontrava com Jesus” mas que “não deixava que a admiração entrasse no seu coração”. São os doutores da lei, os quais ouviam Jesus e emitiam os próprios julgamentos: “É inteligente, é um homem que diz coisas verdadeiras, mas a nós não nos convêm essas coisas”. Praticamente, “distanciavam-se”. E depois havia outros “que ouviam Jesus” e eram os “demônios”, como se deduz também do trecho evangélico da liturgia de quarta-feira 2, onde está escrito que Jesus “impondo as mãos sobre cada um, curava-os, de muitos saíam até demônios, gritando: ‘Tu és o Filho de Deus’ “. Explicou o Papa: “Tanto os demônios, quanto os doutores da lei, os fariseus malvados, não tinham a capacidade de se admirar, estavam fechados na sua suficiência, na sua soberba”.

Ao contrário o povo e Pedro possuía essa capacidade. “Qual é a diferença?”, perguntou Francisco. De fato, argumentou Pedro, “confessa” o que confessam os demônios. “Quando Jesus em Cesareia de Filipe pergunta: ‘Quem sou?’ “ e ele responde: “Tu és o filho de Deus, és o Messias”, Pedro “faz a confissão, diz quem é ele”. E também os demônios fazem o mesmo, reconhecendo que Jesus é o filho de Deus. Mas Pedro acrescenta “outra coisa que os demônios não dizem”. Isto é, fala de si mesmo e diz: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador”. Nem os fariseus, nem os doutores da lei, nem os demônios “podem dizer isto”, não conseguem. “Os demônios — explicou Francisco — chegam a dizer a verdade sobre Jesus, mas não sobre eles mesmos” porque “a soberba é tão grande que os impede de o fazer”.

Também os doutores da lei reconhecem: “Mas este homem é inteligente, é um rabino competente, faz milagres”. Mas não são capazes de acrescentar: “Somos soberbos, não somos suficientes, somos pecadores”.

Eis então o ensinamento que é válido para cada um: “A incapacidade de nos reconhecermos pecadores afasta-nos da verdadeira confissão de Jesus Cristo”. Esta é justamente “a diferença”. O próprio Jesus faz com que a entendamos “naquela bonita parábola do publicano e do fariseu no templo”, na qual se constata “a soberba do fariseu diante do altar”. O homem fala bem de si mesmo, mas nunca diz: “Sou pecador, errei”. Diante dele contrapõe-se “a humildade do publicano que não ousa erguer os olhos” e diz somente: “Piedade, Senhor, sou pecador”. E é exatamente “esta capacidade de dizer que somos pecadores” que nos abre “à admiração do encontro com Jesus Cristo, o encontro verdadeiro”.

Neste ponto, o Papa observou a realidade atual: “Também nas nossas paróquias, nas nossas sociedades, entre as pessoas consagradas: quantos são capazes de dizer que Jesus é o Senhor? Muitos!”. Mas é difícil ouvir “dizer sinceramente: ‘Sou um pecador, uma pecadora’ “. Provavelmente, frisou, “é mais fácil dizer isso dos outros, quando fazemos fofoca”. E frisou Francisco: nisto “todos somos doutores”.

Mas “para chegar a um encontro verdadeiro com Jesus é necessária a dupla confissão: ‘Tu és o Filho de Deus e eu sou um pecador’ “. “Não em teoria”: devemos ser honestos conosco, capazes de indicar os nossos erros e admitir: sou pecador “por esta razão...”.

Voltando à vicissitude evangélica, o Pontífice recordou que Pedro em seguida talvez tenha “esquecido a admiração do encontro”, a admiração que tivera quando Jesus lhe disse: “Tu és Simão, filho de Jonas, mas chamar-te-ei Pedro”. A ponto que um dia o próprio Pedro “que fez esta confissão dupla” negou o Senhor. Contudo, sendo “humilde”, deixa também “que o Senhor o encontre e quando os seus olhares se cruzam, ele chora, volta à confissão: ‘Sou pecador’ “.

À luz de tudo isto o desejo final do Papa Francisco: “O Senhor nos conceda a graça de o encontrarmos mas também de nos deixarmos encontrar por Ele”. A graça “tão bonita” da “admiração do encontro”, mas também “a graça de fazer a dupla confissão na nossa vida: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo, creio. E eu sou um pecador, creio’ “.

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