Homilia de 04 de setembro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 37 de 10 de setembro de 2015
Falar mal dos outros, é como lançar uma bomba para destruir as pessoas e depois fugir e pôr-se a salvo. Ao contrário, para ser santo, o cristão deve ser sempre portador de “paz e reconciliação” e para não ceder à tentação da bisbilhotice deve morder a língua antes de falar: sentirá dor, o lábio incha, mas pelo menos não desencadeia uma guerra pequena ou grande, são os conselhos sugeridos pelo Papa.
Paulo, observou imediatamente o Santo Padre, “no trecho da Carta aos Colossenses (1, 15-20) apresenta o bilhete de identidade de Jesus”. Em síntese, pergunta o apóstolo, “este Cristo, que nós vimos que estava entre nós, quem é?”. E dá a seguinte resposta: “Ele é o primeiro, o primogênito de Deus, o primogênito de toda a criação. Todas as coisas foram criadas por meio d’Ele e em vista d’Ele. Ele é a primeira de todas as coisas e n’Ele todas as coisas subsistem”, isto é, “têm consistência”.
Aos Colossenses Paulo “apresenta Jesus-Deus: Jesus é Deus, é o maior. Sobretudo, é o primeiro, é o criador. Primogênito de todos para que Ele tenha a primazia sobre todas as coisas”. E vai assim, a ponto que, disse o Pontífice, “parece até um pouco exagerado, não é?” quando “fala de quem é Jesus”. Sim, “este Jesus foi enviado pelo Pai para que ‘por meio d’Ele e em vista d’Ele sejam reconciliadas todas as coisas, tendo pacificado com o sangue da sua cruz’“.
Relançando as afirmações de Paulo para explicar “qual foi a obra de Jesus”, Francisco sugeriu duas palavras-chave: reconciliar e pacificar. Jesus, diz-nos Paulo, “reconciliou a humanidade com Deus depois do pecado e pacificou, fez as pazes com Deus”. E assim “a paz é obra de Jesus, do seu sangue, do seu trabalho, daquele humilhar-se para obedecer até à morte e morte de cruz”.
Portanto, prosseguiu Francisco, “Jesus pacificou-nos e reconciliou-nos”. A ponto que “quando falamos de paz ou de reconciliação — pequenas pazes, pequenas reconciliações — devemos pensar na grande paz e na grande reconciliação, a que Jesus fez”. Cientes de que “sem Ele a paz não é possível; sem Ele a reconciliação não é possível”. E este discurso obviamente é válido também para “nós que todos os dias ouvimos notícias de guerras, de ódio”. E mais, “também nas famílias se guerreia”. E assim “a nossa tarefa é ir por aquele caminho” para sermos “homens e mulheres de paz, homens e mulheres de reconciliação”.
Neste ponto o Papa sugeriu um verdadeiro exame de consciência: “Far-nos-á bem questionar: eu semeio a paz? Por exemplo, com a minha língua, semeio paz ou joio?”. E acrescentou: “Quantas vezes ouvimos dizer que uma pessoa tem a língua de serpente, porque faz sempre o que fez a serpente com Adão e Eva, destruiu a paz”. Mas isto, alertou o Pontífice, “é um mal, esta é uma doença na nossa Igreja: semear a divisão, semear o ódio, não semear a paz”. Francisco prosseguiu com a sua proposta de exame de consciência com uma pergunta que, disse, seria bom fazer todos os dias: “hoje semeei paz ou joio?”. E de nada serve tentar justificar-se dizendo “mas por vezes devem-se dizer as coisas porque aquele e aquela...”. Na realidade, frisou, “com esta atitude o que se semeia?”.
Voltando assim ao trecho paulino o Papa repetiu que Jesus, “o Primeiro, veio até nós para pacificar, para reconciliar”. Por conseguinte, “se uma pessoa, durante a sua vida, mais não faz do que reconciliar e pacificar pode ser canonizada: aquela pessoa é santa!”. Mas, advertiu, “devemos crescer nisto, devemos converter-nos: nunca uma palavra que seja para dividir, nunca uma palavra que leve à guerra, pequenas guerras, nunca fofocas”. E o Papa quis aprofundar este aspecto perguntando “o que são” realmente. À primeira vista, explicou, “nada”: consistem em “dizer uma palavrinha contra outro ou uma história” do tipo: “Fez isto...”. Mas na realidade não é assim. “Fofocar é terrorismo — afirmou Francisco — porque o intriguista é como um terrorista que lança uma bomba e vai embora, destrói: com a língua destrói, não faz a paz. Mas é astuto, não é? Não é um terrorista suicida, não, ele se protege bem!”.
Retomando o trecho da Carta de Paulo, o Pontífice recordou que em Jesus são “reconciliadas todas as coisas, tendo pacificado com o sangue da sua cruz”. Portanto “o preço é alto” afirmou. E assim “todas as vezes que me vem a vontade de dizer alguma coisa que semeia intriga e divisão e falar mal do outro” o conselho justo é “morder a língua!”. E insistiu: “garanto que se fizerem este exercício de morder a língua em vez de semear discórdia, nos primeiros tempos a língua, ferida, incha, porque o diabo nos ajuda, é o seu trabalho, é a sua profissão: dividir!”.
Antes de prosseguir este sacrifício — “este é o sacrifício de reconciliação, aqui vem o Senhor e nós fazemos o mesmo que ele fez no Calvário” — Francisco rezou do seguinte modo: “Senhor, tu deste a vida, concede-me a graça de pacificar, de reconciliar. Tu derramaste o teu sangue, mas que não me importe que a minha língua inche um pouco se a morder para não falar mal dos outros”. E concluiu convidando a agradecer ao Senhor por nos ter reconciliado com o Pai, perdoado os pecados, dando-nos “a possibilidade de ter paz nas nossas almas”.
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