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DE SANTA MARTA

Morder a língua

por Papa Francisco
12/09/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 04 de setembro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 37 de 10 de setembro de 2015

Falar mal dos outros, é como lançar uma bomba para destruir as pessoas e depois fugir e pôr-se a salvo. Ao contrário, para ser santo, o cristão deve ser sempre portador de “paz e reconciliação” e para não ceder à tentação da bisbilhotice deve morder a língua antes de falar: sentirá dor, o lábio incha, mas pelo menos não desencadeia uma guerra pequena ou grande, são os conselhos sugeridos pelo Papa.

Paulo, observou imediatamente o Santo Padre, “no trecho da Carta aos Colossenses (1, 15-20) apresenta o bilhete de identidade de Jesus”. Em síntese, pergunta o apóstolo, “este Cristo, que nós vimos que estava entre nós, quem é?”. E dá a seguinte resposta: “Ele é o primeiro, o primogênito de Deus, o primogênito de toda a criação. Todas as coisas foram criadas por meio d’Ele e em vista d’Ele. Ele é a primeira de todas as coisas e n’Ele todas as coisas subsistem”, isto é, “têm consistência”.

Aos Colossenses Paulo “apresenta Jesus-Deus: Jesus é Deus, é o maior. Sobretudo, é o primeiro, é o criador. Primogênito de todos para que Ele tenha a primazia sobre todas as coisas”. E vai assim, a ponto que, disse o Pontífice, “parece até um pouco exagerado, não é?” quando “fala de quem é Jesus”. Sim, “este Jesus foi enviado pelo Pai para que ‘por meio d’Ele e em vista d’Ele sejam reconciliadas todas as coisas, tendo pacificado com o sangue da sua cruz’“.

Relançando as afirmações de Paulo para explicar “qual foi a obra de Jesus”, Francisco sugeriu duas palavras-chave: reconciliar e pacificar. Jesus, diz-nos Paulo, “reconciliou a humanidade com Deus depois do pecado e pacificou, fez as pazes com Deus”. E assim “a paz é obra de Jesus, do seu sangue, do seu trabalho, daquele humilhar-se para obedecer até à morte e morte de cruz”.

Portanto, prosseguiu Francisco, “Jesus pacificou-nos e reconciliou-nos”. A ponto que “quando falamos de paz ou de reconciliação — pequenas pazes, pequenas reconciliações — devemos pensar na grande paz e na grande reconciliação, a que Jesus fez”. Cientes de que “sem Ele a paz não é possível; sem Ele a reconciliação não é possível”. E este discurso obviamente é válido também para “nós que todos os dias ouvimos notícias de guerras, de ódio”. E mais, “também nas famílias se guerreia”. E assim “a nossa tarefa é ir por aquele caminho” para sermos “homens e mulheres de paz, homens e mulheres de reconciliação”.

Neste ponto o Papa sugeriu um verdadeiro exame de consciência: “Far-nos-á bem questionar: eu semeio a paz? Por exemplo, com a minha língua, semeio paz ou joio?”. E acrescentou: “Quantas vezes ouvimos dizer que uma pessoa tem a língua de serpente, porque faz sempre o que fez a serpente com Adão e Eva, destruiu a paz”. Mas isto, alertou o Pontífice, “é um mal, esta é uma doença na nossa Igreja: semear a divisão, semear o ódio, não semear a paz”. Francisco prosseguiu com a sua proposta de exame de consciência com uma pergunta que, disse, seria bom fazer todos os dias: “hoje semeei paz ou joio?”. E de nada serve tentar justificar-se dizendo “mas por vezes devem-se dizer as coisas porque aquele e aquela...”. Na realidade, frisou, “com esta atitude o que se semeia?”.

Voltando assim ao trecho paulino o Papa repetiu que Jesus, “o Primeiro, veio até nós para pacificar, para reconciliar”. Por conseguinte, “se uma pessoa, durante a sua vida, mais não faz do que reconciliar e pacificar pode ser canonizada: aquela pessoa é santa!”. Mas, advertiu, “devemos crescer nisto, devemos converter-nos: nunca uma palavra que seja para dividir, nunca uma palavra que leve à guerra, pequenas guerras, nunca fofocas”. E o Papa quis aprofundar este aspecto perguntando “o que são” realmente. À primeira vista, explicou, “nada”: consistem em “dizer uma palavrinha contra outro ou uma história” do tipo: “Fez isto...”. Mas na realidade não é assim. “Fofocar é terrorismo — afirmou Francisco — porque o intriguista é como um terrorista que lança uma bomba e vai embora, destrói: com a língua destrói, não faz a paz. Mas é astuto, não é? Não é um terrorista suicida, não, ele se protege bem!”.

Retomando o trecho da Carta de Paulo, o Pontífice recordou que em Jesus são “reconciliadas todas as coisas, tendo pacificado com o sangue da sua cruz”. Portanto “o preço é alto” afirmou. E assim “todas as vezes que me vem a vontade de dizer alguma coisa que semeia intriga e divisão e falar mal do outro” o conselho justo é “morder a língua!”. E insistiu: “garanto que se fizerem este exercício de morder a língua em vez de semear discórdia, nos primeiros tempos a língua, ferida, incha, porque o diabo nos ajuda, é o seu trabalho, é a sua profissão: dividir!”.

Antes de prosseguir este sacrifício — “este é o sacrifício de reconciliação, aqui vem o Senhor e nós fazemos o mesmo que ele fez no Calvário” — Francisco rezou do seguinte modo: “Senhor, tu deste a vida, concede-me a graça de pacificar, de reconciliar. Tu derramaste o teu sangue, mas que não me importe que a minha língua inche um pouco se a morder para não falar mal dos outros”. E concluiu convidando a agradecer ao Senhor por nos ter reconciliado com o Pai, perdoado os pecados, dando-nos “a possibilidade de ter paz nas nossas almas”.

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