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DE SANTA MARTA

Perseguidos porque cristãos

por Papa Francisco
20/09/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 07 de setembro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 37 de 10 de setembro de 2015

O horror pela perseguição que hoje acontece no mundo, com terroristas que degolam os cristãos no “silêncio cúmplice de muitas potências”, iniciou exatamente contra Jesus e ritmou a história da Igreja. Eis porque “não há cristianismo sem martírio”. E o testemunho da comunidade armênia, “perseguida só pelo fato de ser cristã”, deve fazer encontrar a cada um a mesma coragem daqueles mártires, se porventura “um dia a perseguição acontecesse aqui”.

Durante a celebração teve lugar a significação da ecclesiastica communio concedida ao novo patriarca da Cilícia dos armênios, Gregório Pedro XX Ghabroyan. Com o Papa concelebraram, além do patriarca, o cardeal Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, o arcebispo secretário D. Cyril Vasil’ e o subsecretário padre Lorenzo Lorusso, todos os bispos membros do Sínodo da Igreja patriarcal armênio católica e alguns sacerdotes.

Para a sua reflexão sobre o martírio, além da presença dos cristãos armênios, Francisco inspirou-se sobretudo no trecho evangélico de Lucas (6, 6-11) proposto pela liturgia: Jesus cura no dia de sábado um homem que tinha a mão direita paralisada. Porém, “a pregação e o modo de agir de Jesus — realçou na homilia — não agradavam os doutores da lei”. E “por esta razão os escribas e os fariseus observavam-no para ver o que ele fazia: espiavam-no para ver porque no seu coração tinham más intenções”. Assim “depois de Jesus ter aberto o diálogo, e perguntado se é lícito fazer o bem ou o mal no dia de sábado, eles não falam, ficam calados”. Lucas narra que, depois do milagre realizado pelo Senhor, “eles, fora de si pela cólera” — e aqui o Evangelho usa uma expressão muito “forte” — “puseram-se a debater entre eles sobre o que poderiam ter feito a Jesus”.

Numa palavra, começaram a raciocinar sobre o que fazer para matar o Senhor. E muitas vezes, especificou o Papa, no Evangelho repete-se esta cena. Portanto, estes doutores da lei não têm uma atitude como esta: “não estamos de acordo, falemos”. Mas, neles prevalece “a cólera: não podem dominá-la e começam a perseguir Jesus, até à morte”.

Também São Paulo, “discípulo fiel do Senhor, sofre o mesmo”, recordou o Papa. Isto é confirmado pelo próprio trecho da carta aos Colossenses (1, 24 — 2, 3) proclamado durante a liturgia: “Irmãos, agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja”.

A de Paulo, sublinhou o Pontífice, é “a mesma estrada de Jesus: a cabeça da Igreja, é seguida pelo seu corpo, a Igreja”. E, aliás, “desde os primeiros dias a Igreja é perseguida”. Mas até quando o será? Certamente, “até hoje”, afirmou o Papa. Com efeito, prosseguiu, também “hoje muitos cristãos, talvez mais do que nos primeiros tempos, são perseguidos, assassinados, expulsos, despojados por serem cristãos”. E assim, como escreve Paulo, “prossegue no corpo da Igreja a paixão de Cristo, até ao seu cumprimento”.

Francisco repetiu que “não há cristianismo sem perseguição”. E sugeriu que se faça memória da “última das bem-aventuranças: quando vos levarem às sinagogas, vos perseguirem e insultarem: este é o destino do cristão”. Mais ainda: “Hoje, diante deste fato que acontece no mundo, com o silêncio cúmplice de muitas potências que podiam detê-lo, estamos diante deste destino cristão: ir pelo mesmo caminho de Jesus”.

Em particular, disse o Pontífice, “quero recordar hoje, por ocasião da nossa comunhão, uma das muitas grandes perseguições, a do povo armênio. Um povo, a primeira nação que se converteu ao cristianismo, a primeira perseguida só pelo fato de ser cristã”.

“Nós hoje nos jornais — afirmou, relançando as trágicas questões de atualidade — sentimos horror por aquilo que fazem alguns grupos terroristas, que degolam as pessoas somente por serem cristãs”. Francisco convidou a pensar “nos mártires egípcios, ultimamente, nas costas líbicas: foram degolados enquanto pronunciavam o nome de Jesus”. E voltando aos armênios, explicou que este povo “foi perseguido, expulso da sua pátria, sem ajuda, no deserto”.

Justamente, “hoje — observou — o Evangelho narra-nos onde começou esta história: com Jesus”. E o “que fizeram com Jesus, durante a história foi feito com o seu corpo, que é a Igreja”. Nesta perspectiva, o Papa dirigiu-se diretamente aos armênios: “Hoje gostaria, neste dia da nossa primeira Eucaristia, como irmãos bispos, a ti, querido irmão patriarca, e a todos vós, bispos, fiéis e sacerdotes armênios, de vos abraçar e recordar esta perseguição que sofrestes, e recordar os vossos santos, muitos santos que morreram de fome e de frio, na tortura e no deserto, por serem cristãos”.

Francisco rezou ao Senhor para que “nos dê a consciência de olhar para aquilo que Paulo diz” e “nos dê uma inteligência plena para conhecer o mistério de Deus que é Cristo”. E “o mistério de Deus que está em Cristo — acrescentou — carrega a cruz: a cruz da perseguição, a cruz do ódio, a cruz que vem da cólera destes homens, destes doutores da lei”. Mas “quem suscita a cólera? Todos sabemos: o pai do mal”.

“O Senhor — disse ainda o Papa — hoje faz-nos sentir, no corpo da Igreja, o amor pelos nossos mártires e também a nossa vocação martirial. Nós não sabemos o que acontecerá aqui: não o sabemos!”. Mas, concluiu, “que o Senhor nos dê a graça, se um dia acontecer esta perseguição aqui, a coragem do testemunho que tiveram todos estes cristãos mártires e especialmente os cristãos do povo armênio”.

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