Homilia de 07 de setembro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 37 de 10 de setembro de 2015
O horror pela perseguição que hoje acontece no mundo, com terroristas que degolam os cristãos no “silêncio cúmplice de muitas potências”, iniciou exatamente contra Jesus e ritmou a história da Igreja. Eis porque “não há cristianismo sem martírio”. E o testemunho da comunidade armênia, “perseguida só pelo fato de ser cristã”, deve fazer encontrar a cada um a mesma coragem daqueles mártires, se porventura “um dia a perseguição acontecesse aqui”.
Durante a celebração teve lugar a significação da ecclesiastica communio concedida ao novo patriarca da Cilícia dos armênios, Gregório Pedro XX Ghabroyan. Com o Papa concelebraram, além do patriarca, o cardeal Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, o arcebispo secretário D. Cyril Vasil’ e o subsecretário padre Lorenzo Lorusso, todos os bispos membros do Sínodo da Igreja patriarcal armênio católica e alguns sacerdotes.
Para a sua reflexão sobre o martírio, além da presença dos cristãos armênios, Francisco inspirou-se sobretudo no trecho evangélico de Lucas (6, 6-11) proposto pela liturgia: Jesus cura no dia de sábado um homem que tinha a mão direita paralisada. Porém, “a pregação e o modo de agir de Jesus — realçou na homilia — não agradavam os doutores da lei”. E “por esta razão os escribas e os fariseus observavam-no para ver o que ele fazia: espiavam-no para ver porque no seu coração tinham más intenções”. Assim “depois de Jesus ter aberto o diálogo, e perguntado se é lícito fazer o bem ou o mal no dia de sábado, eles não falam, ficam calados”. Lucas narra que, depois do milagre realizado pelo Senhor, “eles, fora de si pela cólera” — e aqui o Evangelho usa uma expressão muito “forte” — “puseram-se a debater entre eles sobre o que poderiam ter feito a Jesus”.
Numa palavra, começaram a raciocinar sobre o que fazer para matar o Senhor. E muitas vezes, especificou o Papa, no Evangelho repete-se esta cena. Portanto, estes doutores da lei não têm uma atitude como esta: “não estamos de acordo, falemos”. Mas, neles prevalece “a cólera: não podem dominá-la e começam a perseguir Jesus, até à morte”.
Também São Paulo, “discípulo fiel do Senhor, sofre o mesmo”, recordou o Papa. Isto é confirmado pelo próprio trecho da carta aos Colossenses (1, 24 — 2, 3) proclamado durante a liturgia: “Irmãos, agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja”.
A de Paulo, sublinhou o Pontífice, é “a mesma estrada de Jesus: a cabeça da Igreja, é seguida pelo seu corpo, a Igreja”. E, aliás, “desde os primeiros dias a Igreja é perseguida”. Mas até quando o será? Certamente, “até hoje”, afirmou o Papa. Com efeito, prosseguiu, também “hoje muitos cristãos, talvez mais do que nos primeiros tempos, são perseguidos, assassinados, expulsos, despojados por serem cristãos”. E assim, como escreve Paulo, “prossegue no corpo da Igreja a paixão de Cristo, até ao seu cumprimento”.
Francisco repetiu que “não há cristianismo sem perseguição”. E sugeriu que se faça memória da “última das bem-aventuranças: quando vos levarem às sinagogas, vos perseguirem e insultarem: este é o destino do cristão”. Mais ainda: “Hoje, diante deste fato que acontece no mundo, com o silêncio cúmplice de muitas potências que podiam detê-lo, estamos diante deste destino cristão: ir pelo mesmo caminho de Jesus”.
Em particular, disse o Pontífice, “quero recordar hoje, por ocasião da nossa comunhão, uma das muitas grandes perseguições, a do povo armênio. Um povo, a primeira nação que se converteu ao cristianismo, a primeira perseguida só pelo fato de ser cristã”.
“Nós hoje nos jornais — afirmou, relançando as trágicas questões de atualidade — sentimos horror por aquilo que fazem alguns grupos terroristas, que degolam as pessoas somente por serem cristãs”. Francisco convidou a pensar “nos mártires egípcios, ultimamente, nas costas líbicas: foram degolados enquanto pronunciavam o nome de Jesus”. E voltando aos armênios, explicou que este povo “foi perseguido, expulso da sua pátria, sem ajuda, no deserto”.
Justamente, “hoje — observou — o Evangelho narra-nos onde começou esta história: com Jesus”. E o “que fizeram com Jesus, durante a história foi feito com o seu corpo, que é a Igreja”. Nesta perspectiva, o Papa dirigiu-se diretamente aos armênios: “Hoje gostaria, neste dia da nossa primeira Eucaristia, como irmãos bispos, a ti, querido irmão patriarca, e a todos vós, bispos, fiéis e sacerdotes armênios, de vos abraçar e recordar esta perseguição que sofrestes, e recordar os vossos santos, muitos santos que morreram de fome e de frio, na tortura e no deserto, por serem cristãos”.
Francisco rezou ao Senhor para que “nos dê a consciência de olhar para aquilo que Paulo diz” e “nos dê uma inteligência plena para conhecer o mistério de Deus que é Cristo”. E “o mistério de Deus que está em Cristo — acrescentou — carrega a cruz: a cruz da perseguição, a cruz do ódio, a cruz que vem da cólera destes homens, destes doutores da lei”. Mas “quem suscita a cólera? Todos sabemos: o pai do mal”.
“O Senhor — disse ainda o Papa — hoje faz-nos sentir, no corpo da Igreja, o amor pelos nossos mártires e também a nossa vocação martirial. Nós não sabemos o que acontecerá aqui: não o sabemos!”. Mas, concluiu, “que o Senhor nos dê a graça, se um dia acontecer esta perseguição aqui, a coragem do testemunho que tiveram todos estes cristãos mártires e especialmente os cristãos do povo armênio”.
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