Homilia de 08 de setembro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 37 de 10 de setembro de 2015
“Nas pequenas coisas há tudo”. O estilo de Deus que age nas pequenas coisas, mas que nos abre grandes horizontes esteve no centro da meditação do Papa. Evocando o texto da coleta pronunciada pouco antes — na qual se pede ao Senhor “a graça da unidade e da paz” — o Pontífice chamou a atenção para dois verbos já frisados nas homilias dos “dias passados”: reconciliar e pacificar. Deus, disse, “reconcilia: reconcilia o mundo consigo mesmo e em Cristo”. Jesus, trazido a nós por Maria, pacifica, “dá paz a dois povos, e de dois povos faz um só: dos hebreus e dos gentios. Um só povo. Faz a paz. A paz nos corações”. Mas, interrogou-se o Papa, “Deus como reconcilia?”. Qual é o seu “estilo”? Talvez ele “faça uma grande assembleia? Chegam todos a um acordo? Assinam um documento?”. Não, respondeu, “Deus pacifica com uma modalidade especial: reconcilia e pacifica no pequeno e no caminho”.
Portanto, a reflexão de Francisco começou a partir do conceito de “pequeno”, daquele “pequeno” do qual se lê na primeira leitura (Mq 5, 1-4): “E tu, Belém Efrata, tão pequena...”. Eis o comentário do Papa: “Tão pequena: mas serás grande, porque de ti nascerá o teu guia e ele será a paz. Ele mesmo será a paz”, porque daquele “pequeno” “vem a paz”. Eis o estilo de Deus que escolhe “as coisas pequenas, as coisas humildes para fazer grandes obras”. O Senhor, explicou o Papa, “é o Grande” e nós “somos os pequenos”, mas o Senhor “aconselha-nos a ser pequenos como as crianças para poder entrar no reino dos Céus”, onde “os grandes, os poderosos, os soberbos, os orgulhosos não poderão entrar”. Por isso, Deus “reconcilia e pacifica no pequeno”.
Depois, o Pontífice discorreu sobre o segundo conceito, de acordo com o qual o Senhor reconcilia “também ao longo do caminho: caminhando”. E explicou: “O Senhor não quis pacificar e reconciliar com uma varinha mágica: hoje — pum! — tudo está feito! Não. Pôs-se a caminho com o seu povo”. Um exemplo desta ação de Deus encontra-se no Evangelho do dia (Mt 1, 1-16.18-23). O trecho da genealogia de Jesus, que pode parecer um pouco repetitivo: “Este gerou aquele, este gerou aquele, este gerou aquele... É um elenco”, observou Francisco. E, no entanto, explicou, “é o caminho de Deus: o caminho de Deus entre os homens bons e maus, porque neste elenco há santos e criminosos pecadores”.
Portanto, um elenco no qual há também “muitos pecados”. Todavia, “Deus não se assusta: caminha. Caminha com o seu povo. E neste caminho faz crescer a esperança do seu povo, a esperança no Messias”. Esta é a “proximidade” de Deus. Moisés dissera aos seus: “Pensai: que nação tem um Deus tão próximo como nós?”. Eis então que “este caminhar no pequeno, com o seu povo, este caminhar com bons e maus nos confere o nosso estilo de vida”. Para “caminhar como cristãos”, para “pacificar” e “reconciliar” como fez Jesus, temos o caminho: “Com as bem-aventuranças e com o protocolo segundo o qual todos seremos julgados. Mt 25: ‘Fazei assim: pequenas coisas’“. Significa “no pequeno e no caminho”.
Nesta altura o Papa adicionou mais um elemento. O povo de Israel, disse, “sonhava a libertação”, tinha “este sonho porque lhe fora prometido”. Até “José sonha” e o seu sonho “é um pouco como o resumo do sonho de toda esta história de caminho de Deus com o seu povo”. Mas, acrescentou Francisco, “não só José tem sonhos: também Deus sonha, Deus nosso Pai tem sonhos, sonha coisas boas para o seu povo, para cada um de nós, porque é Pai e sendo Pai pensa e sonha o melhor para os seus filhos”.
Concluindo: “este Deus todo-poderoso e grande ensina-nos a fazer a grande obra da pacificação e da reconciliação no pequeno, no caminho, sem perder a esperança na capacidade” de fazer “grandes sonhos”, de ter “grandes horizontes”.
Por isso, o Pontífice convidou todos — nesta comemoração do início de uma etapa determinante da história da salvação, o nascimento de Nossa Senhora — a suplicar “a graça da unidade que pedimos na oração, ou seja, da reconciliação e da paz”. Mas “sempre a caminho, próximos dos outros” e “com grandes sonhos”. Com o estilo do “pequeno”, recordou, que se encontra na celebração eucarística: “um pequeno pedaço de pão, um pouco de vinho...”. “Neste ‘pequeno’ há tudo. Há o sonho de Deus, o seu amor, a sua paz, a sua reconciliação e o próprio Jesus”.
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