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DE SANTA MARTA

Como se faz a paz

por Papa Francisco
20/09/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 10 de setembro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 37 de 10 de setembro de 2015

“Palavras, palavras, palavras”, cantava Mina numa célebre canção. E também o Papa repetiu aquele refrão evocando o essencial do “estilo cristão”. Que, sem muito palavreado e palavras bonitas, deve girar em torno do binômio “paz e misericórdia”, e portanto em volta do perdão e da capacidade de nos suportarmos uns aos outros. Francisco recordou também as grandes guerras que se combatem, com a vergonha do comércio das armas, e os pequenos conflitos que dilaceram famílias, postos de trabalho e até as comunidades cristãs.

“Há alguns dias — recordou em primeiro lugar o Papa — a liturgia falava-nos do trabalho que fez Jesus Cristo, o Senhor: trabalho de pacificação e de reconciliação”. E, acrescentou, “anteontem, na comemoração litúrgica do nascimento de Nossa Senhora, pedimos a graça da paz e da reconciliação”.

“Paz e reconciliação”, portanto, foi o que “fez Jesus: ele fez a paz”. Justamente “por esta razão, é chamado o príncipe da paz”. O profeta Miqueias diz a este propósito: “E ele será a paz”, aquele “que traz a luz, que faz a paz”. Também “nos nossos corações, nas nossas almas”, especificou Francisco. “E como fez Ele a paz? Dando a sua vida como uma oferta, uma oração para o perdão de todos”.

“Questiono-me — prosseguiu o Papa — se nós agradecemos o suficiente este dom da paz que recebemos em Jesus”. Porque “a paz foi feita, mas não aceite”. E assim, realçou, “ainda, todos os dias, nos noticiários, nos jornais, vemos que há guerras, destruições, ódio, inimizade. E aquela inimizade que o Senhor disse à serpente depois do pecado, existe!”.

Aliás, recordou, “há também homens e mulheres que trabalham tanto — mas mesmo tanto! — para fabricar armas que matam, armas que acabam por se manchar com o sangue de muitos inocentes, de muita gente”. Há “guerras e a maldade de preparar a guerra, de construir armas contra os outros, para matar”.

Os termos da questão são claros: “A paz salva, a paz lhe faz viver, crescer; a guerra o aniquila, arrasta para baixo”. É fácil ouvir pessoas que dizem: “Padre, foi terrível o que aconteceu ali!”. Mas certas situações, recordou Francisco, não se verificam só longe de nós: “A guerra existe também nas nossas comunidades cristãs, entre nós”. E, como resposta, o Papa relançou “o conselho que hoje nos dá a liturgia: ‘perdoai-vos uns aos outros’“, referindo-se ao trecho da carta aos Colossenses (3, 12-17).
Por conseguinte, disse, “são duas as palavras-chave”. A primeira, “é o perdão: se não aprendermos a perdoar-nos, estaremos sempre em guerra”. Daqui o convite de Paulo: “Assim como o Senhor vos perdoou, perdoai-vos também vós”. Mas “se tu não souberes perdoar — acrescentou ainda Francisco — não és cristão, porque não fazes o que fez o Senhor”. Mais ainda: “Se tu não perdoares, não podes receber a paz do Senhor, o perdão do Senhor”.

O Pontífice recordou que “cada dia, quando rezamos o Pai-Nosso, dizemos: perdoai-nos, assim como nós perdoamos. E é — explicou — um condicional: procuremos convencer Deus que seja bom, como nós somos bons perdoando: ao contrário”. A este propósito, o Papa comentou: “Palavras, não? Como se cantava naquela bonita canção “Palavras, palavras, palavras”, não é? Penso que a canta Mina... Parole!”.

Este é, em síntese, o caminho certo: “Perdoai-vos! Como o Senhor vos perdoou, assim fazei vós! Perdoai-vos uns aos outros! E para nos perdoarmos, dou-vos um bom conselho: suportando uns aos outros em família, no bairro, no trabalho... Suportando uns aos outros”. Sem bisbilhotar: “Aquele ali fez isso...”. É necessário “tolerar, porque também aquele me suporta”. Numa palavra, serve a “paciência cristã”.

Quantas mulheres heroicas — prosseguiu Francisco — existem no nosso povo que suportam para o bem da família, dos filhos, muitas brutalidades, injustiças: suportam e vão em frente com a família”. E ainda: “Quantos homens heroicos há no nosso povo cristão que suportam levantar-se de manhã cedo para ir trabalhar — muitas vezes um trabalho injusto, mal retribuído — para regressar numa hora tardia da noite, para manter a esposa e os filhos”; “são estes os justos”.

Mas, afirmou o Papa, “quantos outros existem que, em vez de fazer o que devem, fazem trabalhar a língua e fazem a guerra”. Com efeito, frisou, “o mesmo dano que faz uma bomba numa família, numa pequena aldeia, num bairro, num posto de trabalho”, porque “a língua destrói, faz a guerra”. Isto, especificou — não sou eu que o digo, mas o apóstolo Tiago”. Portanto, eis reproposto o conselho prático de são Paulo: “Assim como o Senhor vos perdoou, perdoai-vos também vós: suportai-vos, perdoai-vos uns aos outros”.

“Há outra palavra — explicou o Pontífice — proferida por Jesus no Evangelho, porque se repete o mesmo tema: misericórdia”. No trecho de Lucas (6, 27-38) o Senhor diz: “Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso”. O convite é a “compreender os outros, não a condená-los: o Senhor, o Pai é muito misericordioso, sempre nos perdoa e quer fazer a paz conosco”. Mas, perguntou Francisco, “se você não for misericordioso, como poderá o Senhor ser misericordioso contigo, porque seremos julgados com a mesma medida com a qual julgamos os outros?”.

Portanto, afirmou, “se você é um sacerdote e não tem vontade de ser misericordioso, diz ao seu bispo para que lhe dê um trabalho administrativo, mas não vá ao confessionário, por favor!”. Porque “um sacerdote que não é misericordioso faz tão mal no confessionário: maltrata as pessoas!”. Talvez, alguém possa justificar-se dizendo: “Não, padre, eu sou misericordioso, mas sou um pouco nervoso...”. Esta foi a resposta do Papa: “É verdade, antes de ir ao confessionário vai ao médico para que te dê um remédio contra os nervos! Mas seja misericordioso!”.

E devemos ser “misericordiosos também entre nós”. Em vez de nos lamentarmos — “mas aquele fez isto...” — é necessário perguntar-se: “E eu o que fiz?”. Aliás, quem pode dizer “aquele é mais pecador do que eu? Ninguém pode dizer isto. Só o Senhor sabe”. Todos nós, continuou o Papa, “podemos dizer: ‘sou pecador e preciso de misericórdia e de perdão. E por isso suporto os outros, perdoo os outros e sou misericordioso com os outro’”“. E “quando a alma é assim, o estilo cristão é aquele que Paulo ensina aos seus: ‘Revesti-vos de sentimentos de ternura, bondade, humildade, mansidão, generosidade’“, como se lê na carta aos Colossenses.

Por conseguinte, é justamente este “o estilo cristão: não é a soberba, não é a condenação, não é falar mal dos outros”. O estilo cristão é “ternura, bondade, humildade, mansidão, generosidade”. E, em definitivo, “o estilo de Jesus, o estilo com o qual Jesus fez a paz e a reconciliação, até ao fim”. A ponto que, “no final, no último suspiro de vida, conseguiu ouvir aquele ladrão que dizia; ‘Sim, sim, sim, vem comigo, querido, hoje estarás comigo no Paraíso’“.

Francisco concluiu a sua meditação com uma oração: “Que o Senhor conceda a todos nós a graça de nos suportarmos uns aos outros, de perdoarmos, de sermos misericordiosos, como o Senhor é misericordioso conosco; e de ter este estilo cristão de ternura, bondade, humildade, mansidão, generosidade”.

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