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DE SANTA MARTA

Maternidade contagiosa

por Papa Francisco
21/09/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 15 de setembro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 38 de 17 de setembro de 2015

Num mundo que parece “órfão” há a esperança de uma “maternidade contagiosa” que traga acolhimento, ternura e perdão. Na memória litúrgica da Virgem das Dores, o Papa Francisco quis reflectir sobre a maternidade de Maria e da Igreja, que sem esta característica se reduz a “uma associação rígida”. Começou com o texto evangélico de João — ““Mulher, eis aí o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis aí a tua mãe!”“ (19, 25-27) — a meditação do Pontífice durante a missa celebrada hoje na presença dos cardeais conselheiros: “É a segunda vez — frisou — que Maria ouve o seu Filho chamar-lhe “mulher”“. Com efeito, a primeira foi em Caná quando Jesus disse à mãe: “A minha hora ainda não chegou”; a segunda é esta, aos pés da cruz, quando lhe entrega um filho.

Devemos observar que “naquela primeira vez ela ouviu a palavra” de Jesus, mas depois assumiu a situação dizendo aos servos: “Fazei o que Ele vos disser”. Ao contrário, nesta circunstância é Jesus que toma a iniciativa: “Mulher, o teu filho”. E naquele momento, disse Francisco, Maria “torna-se outra vez mãe”. Isto é, a sua maternidade “alarga-se na figura daquele novo filho, alarga-se a toda a Igreja e a toda a humanidade”. E nós, hoje, não podemos “pensar em Maria sem a pensar como mãe”. E nesta época em que, afirmou o Pontífice, temos a sensação de “orfandade”, esta palavra “tem uma grande importância”. Ou seja, Jesus diz-nos: “Não vos deixo órfãos, dou-vos uma mãe”. Uma herança que é também “o nosso orgulho: temos uma mãe, que está conosco, nos protege, acompanha, ajuda, também nos tempos difíceis, nos maus momentos”.

Para melhor argumentar esta sua consideração, o Papa fez referência à tradição dos antigos monges russos, os quais “nos momentos das turbulências espirituais” dizem que devemos refugiar-nos “sob o manto da Santa Mãe de Deus”. Um conselho que encontra confirmação na “primeira antífona latina mariana: Sub tuum praesidium confugimus”; nesta primeira oração encontramos a “mãe que nos acolhe, protege e cuida”. Mas, acrescentou o Papa, “podemos dizer que esta maternidade de Maria vai além” e é “contagiosa”. De fato, referindo-se às meditações do antigo “abade do mosteiro de Stella, Isaac”, podemos dar-nos conta de que além da “maternidade de Maria” há também uma “segunda maternidade”, a “da Igreja”, a nossa “santa mãe Igreja”, que nos gera no batismo, nos faz crescer “na sua comunidade” e tem aquelas atitudes próprias da maternidade: “A mansidão, a bondade: a mãe Maria e a mãe Igreja sabem acariciar os seus filhos, dão ternura”.

É, sublinhou Francisco, uma característica fundamental: de fato, conceber a Igreja sem esta maternidade, é como pensar “numa associação rígida, sem calor humano, órfã”. A Igreja, ao contrário, “é mãe e recebe-nos como mãe: Maria mãe, a Igreja mãe”.
Não é tudo. É ainda o abade Isaac que acrescenta outro detalhe que, disse o Papa, nos poderia “escandalizar”, ou seja, que “inclusive a nossa alma é mãe”, e também em nós está presente uma maternidade “que se exprime nas atitudes de humildade, acolhimento, compreensão, bondade, perdão e ternura”.

Cada uma destas maternidades provém precisamente das “palavras de Jesus à sua mãe” que estava aos pés da cruz. E, explicou o Papa, onde há maternidade “há vida, alegria, paz, cresce-se em paz”, ao contrário, quando ela falta, permanece só “a rigidez, aquela disciplina” e, acrescentou, “não se sabe sorrir”. Daqui o convite a pensar, que “uma das coisas mais bonitas e humanas é sorrir a uma criança e fazer com que ela sorria”.

Enfim, aplicando a meditação à celebração eucarística, o Pontífice concluiu: “Agora façamos o memorial da Cruz, Jesus vem aqui e renova mais uma vez o seu sacrifício por nós e pela sua Mãe”; no sacrifício eucarístico, explicou, estão presentes ambos, “embora de forma diferente: a mãe espiritualmente, ele de modo real”. A oração ao Senhor é para que “nos faça ouvir também hoje”, no momento em que “outra vez se oferece ao Pai por nós”, as palavras: “Filho, eis aí a sua mãe!”.

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