Homilia de 02 de outubro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 41 de 08 de outubro de 2015
Para nunca nos deixar sozinhos Deus pôs ao lado de cada um de nós um anjo da guarda que nos ampara, defende e acompanha na vida. Compete a nós saber aceitar a sua presença ouvindo os seus conselhos, com a docilidade de uma criança, para nos mantermos no caminho certo rumo ao paraíso, fortalecidos pela sabedoria popular que nos recorda que o diabo “faz as panelas mas não as tampas”. E exatamente à missão de “embaixadores de Deus” dos santos anjos da guarda, no dia da sua memória litúrgica, Francisco dedicou a homilia.
O Pontífice iniciou a sua reflexão partindo da oração eucarística IV, porque “há uma frase que nos faz refletir”. Com efeito, “dizemos ao Senhor: ‘Quando, pela sua desobediência, o homem perdeu a tua amizade, tu não o abandonaste’”. E, ainda, “pensemos em quando Adão — disse Francisco — foi mandado embora do paraíso: o Senhor não disse ‘desenrasca-te!’, não o abandonou”.
De resto, disse referindo-se à primeira leitura, tirada do livro do Êxodo (23, 20-23), Deus “enviou sempre ajuda: neste caso fala-se da ajuda dos anjos”. Com efeito, lê-se no trecho bíblico: “Eis que Eu envio um anjo diante de ti, para te salvaguardar no caminho e para te fazer entrar no lugar que eu preparei”. O Senhor, portanto “não abandonou” mas “caminhou com o seu povo, caminhou com aquele homem que tinha perdido a amizade com ele: o coração de Deus é um coração de pai e nunca abandona os seus filhos”.
O Pontífice frisou que “hoje a liturgia nos faz refletir acerca disto, e também sobre um modo particular de companhia, de ajuda que o Senhor nos deu a todos: os anjos da guarda”. Cada um de nós, explicou, “tem um; um que nos acompanha”. E, acrescentou, “na oração, no início da missa, pedimos a graça de que no caminho da vida sejamos amparados pela sua ajuda para depois gozar, com eles, no céu”.
Somos “amparados justamente pela sua ajuda: o anjo que caminha conosco”, frisou o Papa, referindo-se à expressão do Êxodo: “E eis que eu envio um anjo diante de ti para te guardar pelo caminho e para te fazer entrar no lugar que te preparei”. O anjo da guarda “anda sempre conosco e esta é uma realidade: é como um embaixador de Deus conosco”. E, no mesmo trecho do livro do Êxodo, precisamente “o Senhor nos aconselha: ‘Respeita a sua presença!’”. Assim “quando nós, por exemplo, fazemos uma maldade ou pensamos” que estamos sozinhos, devemos recordar-nos que não é assim, porque “há ele”. Eis então a importância de “respeitar a sua presença” e de “ouvir a sua voz, porque ele nos aconselha”. Por isso “quando sentimos aquela inspiração ‘Faz isto... isto é melhor... isto não se deve fazer...’”, o conselho justo é dar-lhe ouvidos e não rebelar-nos ao anjo da guarda.
“O meu nome está nele” afirmou ainda Francisco. E “ele aconselha-nos, acompanha-nos e caminha conosco no nome de Deus”. É ainda o livro do Êxodo que indica a atitude melhor: ”Se ouvires a sua voz e fizeres o que eu te disser, eu serei o inimigo dos teus inimigos e o adversário dos teus adversários”. Mas “o que significa isto?”, questionou-se o Papa. A resposta de Deus é clara: «serei o teu defensor, estarei sempre a defender-te e a guardar-te. “Eu!” diz o Senhor, mas porque tu ouviste os conselhos, a inspiração do anjo”.
Talvez, prosseguiu o Pontífice, em algumas ocasiões pensamos que podemos “esconder muitas coisas”. É verdade, “podemos escondê-las”. Mas “o Senhor diz-nos que podemos esconder muitas coisas más, mas no final tudo se saberá”. E “a sabedoria do povo diz que o diabo faz as panelas, mas não as tampas”. Por isso “tudo se saberá”; e ”este anjo, que todos nós temos, é para nos aconselhar, ir pelo caminho”. Portanto “é um amigo, um amigo que não vemos, mas que sentimos; é um amigo que estará conosco no céu, na alegria eterna”.
“Deus envia-nos o anjo para nos libertar, para afastar o receio, para nos livrar da desventura”. “Pede-nos unicamente para o ouvir, respeitar”; portanto “só isto: respeito e escuta”. E “este respeito e escuta deste companheiro de caminho chama-se docilidade: o cristão deve ser dócil ao Espírito Santo”, mas “a docilidade ao Espírito Santo começa com esta docilidade aos conselhos deste companheiro de caminho”.
É “o ícone da criança” que Jesus escolhe “quando quer dizer como deve ser um cristão”. Recorda-no-lo o trecho litúrgico de Mateus (18, 1-5.10); “Quem se fizer pequenino como esta criancinha” será maior nos céus; e “não desprezeis um só destes pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjinhos nos céus veem sempre o rosto de meu Pai que está nos céus”.
Estas palavras de Jesus significam, explicou o Papa, “que a docilidade a este companheiro de caminho nos torna como as crianças: não soberbos mas humildes; faz-nos pequeninos; não altivos como quem é orgulhoso ou soberbo. Não, como uma criancinha!”. É exatamente “esta docilidade que nos torna grandes e nos leva aos céus”.
Ao concluir a sua meditação Francisco pediu ao Senhor “a graça desta docilidade, de ouvir a voz deste companheiro, deste embaixador de Deus que está ao nosso lado em seu nome”, de modo que possamos ser “amparados pela sua ajuda, sempre a caminho”.
E “também nesta missa, com a qual louvamos ao Senhor recordemos como o Senhor é bom: depois de ter perdido a amizade não nos deixou sozinhos, não nos abandonou”, mas “caminhou conosco, com o seu povo, e ainda hoje nos dá este companheiro de caminho”. Por isso, “agradeçamos e louvemos ao Senhor por esta graça e estejamos atentos a este amigo que o Senhor nos deu”.
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