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DE SANTA MARTA

Cada dia um passo

por Papa Francisco
27/10/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 22 de outubro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 45 de 5 de Novembro de 2015

Assim como um atleta se prepara dia após dia para alcançar as suas metas, também a vida do cristão deve ser caracterizada por um esforço contínuo, por um “trabalho quotidiano” para dar espaço a Deus, para “abrir a porta” ao dom da graça que salva. O Papa ofereceu uma reflexão marcada pelo pensamento paulino. Fio condutor, o tema da conversão.

Na homilia, o Pontífice inspirou-se na primeira leitura do dia, um trecho tirado da carta de são Paulo aos Romanos (6, 19-23) no qual o apóstolo “recorda a salvação, a graça da salvação”, e fala do “caminho de santificação. E aos novos cristãos diz: “Vocês estão a serviço da iniquidade — ou seja, do pecado — mas agora estão ao serviço do dom de Deus”, isto é, ao serviço da graça e da santificação”. Paulo dá substância às suas palavras e usa “esta imagem: vós estáveis ao serviço da iniquidade com o vosso corpo, com a vossa alma, com o vosso coração e com a vossa mente. Tudo estava ao serviço da iniquidade. Agora o vosso corpo, a vossa alma, o vosso coração e a vossa mente devem estar ao serviço” da graça e da santificação. Com efeito, o apóstolo escreve aos seus interlocutores que agora “mudaram”, que lhes aconteceu algo “fundamental, ou seja, a salvação em Jesus Cristo, o dom de Deus”.

Esta, explicou Francisco, “é a catequese da conversão”. Isto é, Paulo “exorta à conversão”. E é uma mensagem que chega até aos nossos dias. “Nós — disse — podemos pensar: a maioria de nós fomos batizados quando éramos crianças, e não sabíamos o que era a iniquidade. Mas depois, aprendemo-lo na catequese”, e agora também para nós é válido o conselho de Paulo: “Não useis a vossa alma, o vosso coração e o vosso corpo para o pecado, ao serviço do mal, da iniquidade; mas usai-os ao serviço do dom de Deus, da alegria” que leva “à vida eterna em Jesus”.

Eis resumido o significado da conversão: “para o cristão — explicou o Papa — a conversão é uma tarefa, um trabalho diário”. Para ajudar a entender ainda melhor, Francisco evocou a imagem do atleta, usada por são Paulo. Pensando no “homem que se prepara para a competição e faz um grande esforço”, o apóstolo diz: “Mas se ele, para vencer um jogo faz este esforço”, então também “nós que devemos alcançar a grande vitória do Céu, como podemos deixar de o fazer?”, e exorta reiteradamente todos “a ir em frente neste esforço”.

Mas poderia surgir um mal-entendido e alguém poderia dizer: “Padre, podemos pensar que a santificação vem mediante o meu esforço, como para quem pratica o desporto a vitória vem com o treino?”.

“Não”, respondeu o Papa explicando: “O esforço que nós fazemos, este trabalho diário de servir o Senhor com a nossa alma, com o nosso coração, com o nosso corpo e com toda a nossa vida” só serve para abrir “a porta ao Espírito Santo”. Naquele ponto é o Espírito “que entra em nós e nos salva”, o Espírito que “é o dom em Jesus Cristo”. Se não fosse assim, acrescentou, “nos pareceríamos com os faquires: não, nós não somos faquires. Abrimos a porta com o nosso esforço”.

Nesta altura, poderia haver uma objeção legítima: “Mas padre, é difícil... É difícil fazer este esforço todos os dias”. E é verdade: “Não é fácil — comentou o Pontífice — porque a nossa debilidade, o pecado original e o diabo sempre nos fazem recuar”. A tal propósito, “o autor da Carta aos Hebreus admoesta contra esta tentação de recuar”, escrevendo: “Somos daqueles que não se rendem”. Por isso, o Papa exortou a “não recuar, a não ceder”, evocando até uma imagem “forte” usada pelo apóstolo Pedro para descrever quantos “se cansam de ir em frente e no final dizem: “Permaneço assim’“. Estas pessoas são comparadas com o “cão que volta ao seu vomito”. O trecho hodierno da Escritura, ao contrário, “admoesta, exorta a ir sempre em frente: um pouco de cada vez”. Até quando somos obrigados a enfrentar “uma grande dificuldade”.

Para se fazer entender melhor, Francisco falou sobre um encontro que ele teve “há alguns meses” com uma mulher “jovem, mãe de família — uma boa família — que tinha um tumor. Um tumor feio!”. Não obstante isto, disse o Papa, “ela movia-se com felicidade, agia como se fosse sadia. E falando desta atitude disse-me: “Padre, faço tudo para derrotar o tumor!’“. É esta a atitude que o cristão deve ter. Nós, explicou, “que recebemos este dom em Jesus e passamos pelo pecado, pela vida da iniquidade para a vida do dom em Cristo no Espírito Santo, devemos fazer o mesmo”.

Como? “Um passo de cada vez. Um passo por dia. E ‘há muitas’ oportunidades”. Francisco citou dois exemplos muito simples: “Tem vontade de falar mal de alguém? Cala-se”, ou então: “Tem um pouco de sono e não quer orar? Reza um pouco”. Não devemos pensar em grandes gestos, mas nas “pequenas coisas de todos os dias”, porque são as “coisinhas” que “nos ajudam a não desanimar, a não recuar, a não voltar à iniquidade; mas a ir em frente rumo a este dom, a esta promessa de Jesus que será o encontro com Ele”. Como de costume, o Papa concluiu a sua homilia com o convite à oração e ao compromisso pessoais: “Peçamos ao Senhor esta graça: ser bons neste treino da vida rumo ao encontro, porque recebemos o dom da justificação, o dom da graça, o dom do Espírito em Cristo”.

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