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DE SANTA MARTA

Os tempos mudam

por Papa Francisco
28/10/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 23 de outubro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 45 de 5 de Novembro de 2015

“Os tempos mudam e nós cristãos devemos mudar continuamente”. O Papa Francisco repetiu várias vezes este convite à mudança. Um convite a agir “sem medo” e “com liberdade”, mantendo-se distante dos conformismos tranquilizadores e permanecendo “firme na fé em Jesus” e “na verdade do Evangelho”, mas movendo-se “continuamente segundo os sinais dos tempos”.

A reflexão do Pontífice baseou-se nas leituras desta última parte do ano litúrgico, que propõem em particular a carta aos Romanos. “Frisamos — recordou o Pontífice a este propósito — como Paulo prega com tanto vigor, a liberdade que temos em Cristo”. Trata-se, explicou o Papa, de “um dom, o dom da liberdade, daquela liberdade que nos salvou do pecado, que nos tornou livres, filhos de Deus como Jesus; aquela liberdade que nos leva a chamar a Deus Pai”. Por conseguinte Francisco acrescentou que “para ter esta liberdade devemos abrir-nos à força do Espírito e compreender bem o que acontece dentro e fora de nós”. E se nos “dias passados, na semana passada”, tinha refletido sobre “como distinguir o que acontece dentro de nós: o que vem do bom Espírito e o que não vem dele”, ou seja, sobre o discernimento de quanto “acontece dentro de nós”, na liturgia do dia o trecho do Evangelho de Lucas (12, 54-59) exorta a “olhar para fora”, fazendo “refletir sobre como avaliamos as coisas que acontecem fora de nós”.

Eis então a necessidade de nos questionarmos sobre “como julgamos: somos capazes de julgar?”. Para o Papa “temos as capacidades” e o próprio Paulo “diz-nos que julgaremos o mundo: nós, cristãos julgaremos o mundo”. Também o apóstolo Pedro diz algo análogo quando “nos chama povo escolhido, sacerdócio santo, nação eleita precisamente para a santidade”.

Em síntese, esclareceu o Pontífice, nós cristãos “temos esta liberdade de julgar o que acontece fora de nós”. Mas — admoestou — “para julgar devemos conhecer bem o que acontece fora de nós”. E então, questionou-se Francisco, “como se pode fazer isto, ao que a Igreja chama ‘conhecer os sinais dos tempos’?”.

A este propósito o Papa observou que “os tempos mudam. É próprio da sabedoria cristã conhecer estas mudanças, os diversos tempos e os sinais dos tempos. O que significa uma coisa e o que significa outra”. Sem dúvida, o Papa está ciente de que isto “não é fácil. Porque nós ouvimos tantos comentários: “Ouvi dizer que o que aconteceu ali é isto ou aquilo que acontece acolá é outra coisa; li isso, disseram-me isto...”. Mas, acrescentou imediatamente, “eu sou livre, devo formar a minha opinião e compreender o que tudo isto significa”. Mas “isto é um trabalho que normalmente não fazemos: conformamo-nos, tranquilizamo-nos com ‘disseram-me; ouvi dizer; as pessoas dizem; li...’. E assim estamos tranquilos”. Quando, ao contrário, deveríamos perguntar-nos: “Qual é a verdade? Qual é a mensagem que o Senhor me quer transmitir com aquele sinal dos tempos?”.

Como de costume o Papa propôs também sugestões práticas “para compreender os sinais dos tempos”. Antes de tudo, disse, “é necessário o silêncio: fazer silêncio e olhar, observar. E depois refletir dentro de nós. Um exemplo: por que há tantas guerras agora? Por que aconteceu isto? E rezar”. Por conseguinte, “silêncio, reflexão e oração. Só assim poderemos compreender os sinais dos tempos, o que Jesus nos quer dizer”.

E neste sentido não há álibis. Com efeito, mesmo se cada um de nós pode ser tentado a dizer: “Mas, eu não estudei muito... Não frequentei a universidade, nem sequer a escola média...”, as palavras de Jesus não deixam espaço a dúvidas. Com efeito, ele não diz: “Vede como fazem os universitários, reparai como fazem os doutores, vede como fazem os intelectuais...”. Ao contrário, diz: “Olhai para os camponeses, para os simples: eles, na sua simplicidade, compreendem quando chega a chuva, como cresce a erva; sabem distinguir o trigo do joio”. Por conseguinte “aquela simplicidade — se for acompanhada pelo silêncio, pela reflexão e pela oração — nos fará compreender os sinais dos tempos”. Porque, reafirmou, “os tempos mudam e nós cristãos devemos mudar continuamente. Devemos mudar firmes na fé em Jesus Cristo, firmes na verdade do Evangelho, mas a nossa atitude deve mover-se continuamente segundo os sinais dos tempos”.

No final da sua reflexão o Pontífice voltou aos pensamentos iniciais. “Somos livres — afirmou — pelo dom da liberdade que Jesus Cristo nos concedeu. Mas o nosso trabalho é examinar o que acontece dentro de nós, discernir os nossos sentimentos, os nossos pensamentos; e analisar o que acontece fora de nós, discernir os sinais dos tempos”. Como? “Com o silêncio, com a reflexão e com a oração”, repetiu na conclusão da homilia.

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