Homilia de 23 de outubro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 45 de 5 de Novembro de 2015
“Os tempos mudam e nós cristãos devemos mudar continuamente”. O Papa Francisco repetiu várias vezes este convite à mudança. Um convite a agir “sem medo” e “com liberdade”, mantendo-se distante dos conformismos tranquilizadores e permanecendo “firme na fé em Jesus” e “na verdade do Evangelho”, mas movendo-se “continuamente segundo os sinais dos tempos”.
A reflexão do Pontífice baseou-se nas leituras desta última parte do ano litúrgico, que propõem em particular a carta aos Romanos. “Frisamos — recordou o Pontífice a este propósito — como Paulo prega com tanto vigor, a liberdade que temos em Cristo”. Trata-se, explicou o Papa, de “um dom, o dom da liberdade, daquela liberdade que nos salvou do pecado, que nos tornou livres, filhos de Deus como Jesus; aquela liberdade que nos leva a chamar a Deus Pai”. Por conseguinte Francisco acrescentou que “para ter esta liberdade devemos abrir-nos à força do Espírito e compreender bem o que acontece dentro e fora de nós”. E se nos “dias passados, na semana passada”, tinha refletido sobre “como distinguir o que acontece dentro de nós: o que vem do bom Espírito e o que não vem dele”, ou seja, sobre o discernimento de quanto “acontece dentro de nós”, na liturgia do dia o trecho do Evangelho de Lucas (12, 54-59) exorta a “olhar para fora”, fazendo “refletir sobre como avaliamos as coisas que acontecem fora de nós”.
Eis então a necessidade de nos questionarmos sobre “como julgamos: somos capazes de julgar?”. Para o Papa “temos as capacidades” e o próprio Paulo “diz-nos que julgaremos o mundo: nós, cristãos julgaremos o mundo”. Também o apóstolo Pedro diz algo análogo quando “nos chama povo escolhido, sacerdócio santo, nação eleita precisamente para a santidade”.
Em síntese, esclareceu o Pontífice, nós cristãos “temos esta liberdade de julgar o que acontece fora de nós”. Mas — admoestou — “para julgar devemos conhecer bem o que acontece fora de nós”. E então, questionou-se Francisco, “como se pode fazer isto, ao que a Igreja chama ‘conhecer os sinais dos tempos’?”.
A este propósito o Papa observou que “os tempos mudam. É próprio da sabedoria cristã conhecer estas mudanças, os diversos tempos e os sinais dos tempos. O que significa uma coisa e o que significa outra”. Sem dúvida, o Papa está ciente de que isto “não é fácil. Porque nós ouvimos tantos comentários: “Ouvi dizer que o que aconteceu ali é isto ou aquilo que acontece acolá é outra coisa; li isso, disseram-me isto...”. Mas, acrescentou imediatamente, “eu sou livre, devo formar a minha opinião e compreender o que tudo isto significa”. Mas “isto é um trabalho que normalmente não fazemos: conformamo-nos, tranquilizamo-nos com ‘disseram-me; ouvi dizer; as pessoas dizem; li...’. E assim estamos tranquilos”. Quando, ao contrário, deveríamos perguntar-nos: “Qual é a verdade? Qual é a mensagem que o Senhor me quer transmitir com aquele sinal dos tempos?”.
Como de costume o Papa propôs também sugestões práticas “para compreender os sinais dos tempos”. Antes de tudo, disse, “é necessário o silêncio: fazer silêncio e olhar, observar. E depois refletir dentro de nós. Um exemplo: por que há tantas guerras agora? Por que aconteceu isto? E rezar”. Por conseguinte, “silêncio, reflexão e oração. Só assim poderemos compreender os sinais dos tempos, o que Jesus nos quer dizer”.
E neste sentido não há álibis. Com efeito, mesmo se cada um de nós pode ser tentado a dizer: “Mas, eu não estudei muito... Não frequentei a universidade, nem sequer a escola média...”, as palavras de Jesus não deixam espaço a dúvidas. Com efeito, ele não diz: “Vede como fazem os universitários, reparai como fazem os doutores, vede como fazem os intelectuais...”. Ao contrário, diz: “Olhai para os camponeses, para os simples: eles, na sua simplicidade, compreendem quando chega a chuva, como cresce a erva; sabem distinguir o trigo do joio”. Por conseguinte “aquela simplicidade — se for acompanhada pelo silêncio, pela reflexão e pela oração — nos fará compreender os sinais dos tempos”. Porque, reafirmou, “os tempos mudam e nós cristãos devemos mudar continuamente. Devemos mudar firmes na fé em Jesus Cristo, firmes na verdade do Evangelho, mas a nossa atitude deve mover-se continuamente segundo os sinais dos tempos”.
No final da sua reflexão o Pontífice voltou aos pensamentos iniciais. “Somos livres — afirmou — pelo dom da liberdade que Jesus Cristo nos concedeu. Mas o nosso trabalho é examinar o que acontece dentro de nós, discernir os nossos sentimentos, os nossos pensamentos; e analisar o que acontece fora de nós, discernir os sinais dos tempos”. Como? “Com o silêncio, com a reflexão e com a oração”, repetiu na conclusão da homilia.
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