Homilia de 29 de outubro, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 45 de 5 de Novembro de 2015
“Com a ternura de pai”. Na homilia da missa, o Papa Francisco reafirmou uma certeza: Deus não pode deixar de nos amar, não consegue “separar-se de nós”. Podemos inclusive rejeitar aquele amor, mas ele espera por nós, “não nos condena”, pelo contrário, sofre pelo nosso afastamento.
A meditação do Pontífice iniciou do trecho da carta aos Romanos (8, 31-39) no qual são Paulo “faz uma espécie de resumo de tudo o que tinha explicado sobre a nossa salvação, sobre o dom de Deus em nós, que o Senhor nos deu”. Este relato do apóstolo, observou o Papa, parece um pouco triunfalista”, como se dissesse: “Ganhamos o jogo!”. É uma certeza expressa por uma série de constatações: “Mas se Deus é por nós, quem será contra nós? Se Deus nos deu este dom, com este dom ninguém poderá nada contra nós. Quem fará acusações contra nós? Quem nos condenará?”. Ou seja, parece, comentou Francisco, “que a força desta segurança de vencedor” Paulo a tem “nas próprias mãos, como uma propriedade”. Como se quisesse dizer: “Agora nós somos os ‘campeões’!”. E, com efeito, afirma: “Mas em todas estas coisas nós somos mais do que vencedores”.
Contudo, admoestou o Papa, talvez o apóstolo “quisesse dizer algo mais profundo” e não simplesmente que somos os vencedores, “porque nós temos este dom nas mãos, mas para outra finalidade”. Qual? A resposta deve ser procurada no trecho seguinte da leitura paulina, onde o apóstolo “começa a raciocinar assim: “Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra criatura qualquer nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor “. Ou seja, explicou o Pontífice, “não somos vencedores sobre os nossos inimigos, sobre o pecado”; pelo contrário, é verdade que “nós estamos muito ligados ao amor de Deus, que pessoa, potência alguma, jamais nos poderá separar deste amor”.
Portanto, Paulo, naquele “dom da recriação, da “regeneração em Cristo Jesus”, viu algo mais: “aquilo que dá o dom”. Viu “o amor de Deus. Um amor que não se pode explicar”.
Daqui começa a reflexão que aborda a vida do dia-a-dia do cristão. “Cada homem, cada mulher — disse Francisco — pode rejeitar o dom. “Não o quero! Eu prefiro a minha vaidade, o meu orgulho, o meu pecado... Mas o dom existe!”. Aquele dom “é o amor de Deus, um Deus que não pode separar-se de nós”. Eis, acrescentou o Papa, “a impotência” de Deus. Nós dizemos “Deus é poderoso, pode fazer tudo!”. Exceto uma coisa: afastar de nós!”.
É um conceito tão grande que exige uma exemplificação, imediatamente apresentada pelo Pontífice, o qual recordou uma imagem evangélica — Jesus que chora sobre Jerusalém — que “nos faz compreender algo deste amor”. No pranto de Jesus, explicou Francisco, há “toda a ‘impotência’ de Deus: a sua incapacidade de não amar, de não se separar de nós”.
No Evangelho de Lucas (13, 34-35) lê-se a lamentação de Jesus sobre a cidade: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os enviados de Deus”. É uma lamentação, sublinhou o Papa, que o Senhor dirige não só àquela cidade mas a todos, recorrendo a “uma imagem de ternura: ‘quantas vezes quis juntar os teus filhos, como a galinha abriga a sua ninhada debaixo das asas, mas não o quiseste!’“. Como se quisesse dizer: “Quantas vezes quis fazer sentir esta ternura, este amor, como a galinha choca com os pintinhos e vocês recusaram...”.
Eis então por que Paulo, tendo compreendido isto, “pode dizer que está persuadido que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra criatura qualquer nos poderá apartar deste amor”. Com efeito, Deus, afirmou o Papa, “não pode deixar de amar. E esta é a nossa certeza”.
Uma certeza que envolve a todos, sem excluir ninguém. “Eu — acrescentou Francisco — posso rejeitar aquele amor”, mas farei a mesma experiência do bom ladrão que o rejeitou “até ao fim da sua vida” e justamente “ali aquele amor esperava por ele”. Também o homem “mais malvado, o mais blasfemador, é amado por Deus com uma ternura de pai” ou, para usar as palavras de Jesus, “como uma galinha com os pintinhos”.
Em seguida, o Papa sintetizou a sua meditação da seguinte forma: “Deus poderoso, criador, tudo pode”; contudo, “Deus chora” e “naquelas lágrimas” há todo o seu amor. “Deus — concluiu — chora por mim, quando eu me afasto; Deus chora por cada um de nós; Deus chora por aqueles malvados, que cometem tantas crueldades, tanto mal contra a humanidade...”. Ele, com efeito, “espera, não condena, chora. Porquê? Porque ama!”.
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