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MARIA NA HISTÓRIA

Sob a tua proteção

por Paola Bergamini e Paola Ronconi
01/06/2015 - Terceiro capítulo da nossa série. As aparições milagrosas, do século IV ao ano 1.000, para defender o povo da violência e das calamidades naturais. Uma presença real que torna visível a glória de Deus na história

Tudo teve origem no sim dito por aquela jovem da casa de Davi ao anjo Gabriel. E, desde os primeiros séculos, grandes reis, imperadores e, também e sobretudo, o povo, as pessoas normais pedem, imploram a sua ajuda. E a resposta chega, sempre.

O período medieval, que rende homenagem à Santa Virgem por meio de todas as formas artísticas, é caracterizado pela devoção a Nossa Senhora como a primeira entre os santos aos quais recorrer. Na época patrística, por exemplo, Gregório de Tours relatou vários prodígios atribuídos à intercessão da Mãe de Deus. Talvez alguns destes relatos possam parecer fruto da imaginação ou da credulidade, mas não é assim. Eles demonstram como os cristãos de todos os tempos e lugares sempre recorreram com confiança ao poder de intercessão de Nossa Senhora.

Muitas vezes, a intervenção da Virgem desvia o curso da história em relação aos projetos dos homens, destruindo estratégias e flagelos em defesa da fé ou para tornar visível a potência e o amor do seu Filho que, sozinho, constrói a história. Estamos falando das aparições. Relacionemos algumas delas, que exemplificam bem a devoção a Maria e que, muitas vezes, levaram à conversão de um povo inteiro.

Aparições
Cesaréia, Ásia Menor (atual Turquia), ano de 363. São Basílio, filho dos santos Basílio e Emília, reza de mãos juntas. O grande doutor da Igreja está preocupado. O imperador Giuliano, o Apóstata, jurou que quando voltasse da batalha contra os persas o mataria. Enquanto reza, não pensa na sua vida - ela está nas mãos do Senhor - mas no seu povo. É sabido que o imperador segue uma política religiosa que visa a restaurar o paganismo e é intolerante sobretudo em relação aos cristãos. Prova disso foram os três editos publicados depois da morte de Constanzo. “Virgem Santa - implora Basílio - vem em nosso socorro”. Um clarão se propaga e uma voz diz: “Não se preocupe, Basílio. Prometo que a raiva do imperador não lhe atingirá. Você deverá combater outras batalhas por meu Filho, para proteger o meu povo”. Alguns dias depois chega a notícia de que Giuliano, o Apóstata, depois de ter conquistado algumas fortalezas obrigou o inimigo a se fechar em Ctsifonte mas, desistindo do assédio, subira o Tigre e morrera em um combate, atingido por um dardo. Basílio, eleito bispo em 370, exatamente em Cesaréia, combate a heresia ariana ressurgida sob o imperador Valente.

Roma, 590. Uma terrível peste aflige a cidade. São Gregório Magno, eleito naquele mesmo ano ao trono pontifício, se prepara para iniciar uma procissão para implorar à piedade divina que ponha fim ao flagelo que está dizimando Roma. Segura entre as mãos a imagem da Santa Virgem. O longo cortejo de fiéis se espalha pelas ruas da cidade. Quando chegam nas proximidades da Mole Adriana - que a partir daquele momento passará a se chamar Castelo Sant’Angelo - não podem mais ir em frente: um Anjo bloqueia a estrada. A multidão se ajoelha e vê o mensageiro de Deus recolocar sua espada na bainha, sinal claro do fim do flagelo. Depois, uma multidão de anjos, em saudação à Virgem, entoa a antífona: “Regina coeli, laetare, allelujia”. É a primeira vez que os fiéis ouvem uma oração deste gênero.

Gualdo Tadino, 552. Narsete está no comando do exército romano do Oriente. O imperador Giustiniano o havia convidado para ajudar o general Belisário na guerra contra os godos. O grande comandante sabe que é um momento crucial. Com passos decididos vai até a tenda de Belisário e diz: “General, amanhã venceremos”. O general olha para ele, perplexo, e responde: “Vamos ver, as forças deles são...”. “Não, General. A Virgem apareceu para mim e disse que nos conduzirá à vitória. Não devemos ter medo”. No dia seguinte, os godos, guiados pelo rei Totila foram derrotados em uma batalha sangrenta travada perto de Tagina. Narsete será o sucessor de Belisário.

Constantinopla, 626. A cidade está sob o assédio dos persas. O patriarca Sérgio reúne o povo: “Invoquemos a Rainha do Céu. Rezemos juntos. Imploremos a sua ajuda contra o inimigo”. No décimo primeiro dia de assédio, a sentinela vê uma senhora saindo da Igreja acompanhada por duas servas e se dirigindo aos campos persas. A notícia se espalha rapidamente. Todos pensam tratar-se da imperatriz levando uma mensagem para o chefe das forças inimigas. O medo os envolve. Será que ela foi negociar a rendição? Em vão esperam o seu retorno: a bela Senhora não volta para a cidade e desaparece. Poucas horas depois, chega outra notícia: o campo inimigo está em total confusão. Ninguém entende o que está acontecendo. De fato, em poucas horas, os persas fogem desistindo do assédio a Constantinopla. Só o povo sabe o verdadeiro motivo: a bela Senhora era a Virgem Maria.

Boulogne (França), 636. Um grupo de pessoas está na praia. Poucas horas antes, uma embarcação tinha sido avistada. Agora, o barco está ali na margem. Mas não se vê viva alma. Finalmente, um homem toma coragem e sobe no barco. “Realmente não há ninguém - grita, depois de alguns minutos -. Falta até o timão! Só encontrei isto”. E sai do barco carregando uma imagem da Santa Virgem com o Menino. Todos se aproximam dele. “Que belo rosto!”, alguém comenta. Depois, se ouve uma voz: “Escolhi a vossa cidade como lugar de graça”. Desde então, Boulogne é ponto de peregrinações. E, anos depois, Goffredo de Buglione, voltando das cruzadas, ofereceu à Mãe de Deus a sua coroa de Jerusalém.

Valenciennes (França), 1008. “Jejuem e rezem, grita um homem no centro da praça. Ouçam-me: rezem e jejuem. Somente assim a peste que está afligindo a nossa cidade será debelada”. Muita gente se reuniu em volta dele. “Mas, quem é?”, alguém pergunta. “Não o reconhece? É o velho eremita. Fazia anos que ninguém o via”. Finalmente, um homem se aproxima dele: “Como o senhor pode dizer que só com orações e jejum podemos nos salvar da peste?”. O velho olha-o nos olhos: “A Virgem me disse isso. E me encarregou de comunicá-lo a vocês. Por isso, deixei o meu silêncio e as minhas orações para vir até a cidade”. As pessoas estavam desanimadas, mas acreditaram nele. Todos começaram a fazer jejum e a rezar com grande fervor. No dia seguinte, a Virgem apareceu aos habitantes de Valenciennes cercada por uma multidão de anjos. Para demonstrar a sua proteção, estende um cordão em torno de toda a cidade para estancar a peste e pede que no dia seguinte - 8 de setembro, festa do nascimento da Mãe de Deus - se faça uma procissão em sua honra. E assim aconteceu: durante todo o dia uma longa procissão percorre as ruas da cidade. Imediatamente a peste parou de se alastrar.

Benevento, 663. A cidade está assediada pelas tropas do imperador Constante II que quer dominar a Itália tirando-a das mãos dos Longobardos. Reuniu um forte exército e deixou Constantinopla, desembarcando em Taranto de onde começou a sua reconquista devastando as cidades da região da Puglia. Prosseguindo a sua marcha, chegou até Benevento, que era governada pelo duque Romualdo, filho do rei longobardo Grimoaldo. A cidade está enfraquecida. Romualdo, tomado pelo desconforto, junto com os concidadãos que sobraram, decide abrir as portas da cidade e morrer combatendo. Mas o bispo Barbato que, através de pregações e sinais manifestos, muitas vezes tinha tentado converter ao cristianismo os longobardos adeptos aos seus ritos pagãos, se apresenta a ele e diz “Filhinhos, convertei-vos ao Criador para que sejam salvos. Ele, de fato, destrói as guerras, conduz aos infernos e reconduz de volta, humilha e exalta. Abandonem a vaidade que perseguiram até agora por sugestão do diabo. Cantem, juntos, com voz clara o louvor ao único Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Elevem preces ao Senhor prometendo servi-Lo devotamente e Ele os libertará destes que querem as vossas almas”. “Se é assim - responde Romualdo -, jogarei fora os ídolos que honrei segundo o rito da minha estirpe e prometo servir ao Deus único”. A semente da conversão estava plantada. Imediatamente são Barbato vai até a Igreja e suplica à Mãe de Deus para que, como mediadora junto ao Filho, afaste o perigo da guerra. Tem certeza de que a Virgem o escutou e então, voltando ao Duque, diz: “Estejam atentos, tu e todos os que prometeram servir a Jesus Cristo quando forem libertados dos inimigos: se tornardes vão o pacto da promessa serão abandonados por Deus, e coisas piores acontecerão. O imperador e seu exército não entrarão em Benevento, mas recuarão e voltarão para o seu território. E, para que saibais que eu digo a verdade, aproximemo-nos dos nossos muros onde mostrarei que a piíssima Maria, Mãe de Deus, efundirá ao Criador preces de salvação por vocês e assim que lhe forem outorgadas, virá ajudar-vos”. Assim que acabou de falar, a Virgem Santa apareceu sobre os muros da cidade. No dia seguinte, Costante II, que tinha ameaçado arrasar a cidade e tendo recusado grande quantidade de ouro, prata e pedras preciosas, desiste do assédio a Benevento.

(Publicado em Passos n. 49, abril/2004)

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