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SANTOS EM FAMÍLIA

A mãe que fez a Europa

por Paola Bergamini
06/11/2015 - SANTOS EM FAMÍLIA - SANTA BRÍGIDA

De origem nobre, alimentava um só desejo: entrar no convento. Mas acabou se casando e teve oito filhos (uma de suas filhas, por sinal, foi canonizada). Quando ficou viúva, deixou a Suécia e atravessou todo o continente para tentar convencer o Papa a voltar para Roma. Tarefa difícil, mas... Novo capítulo sobre a santidade que floresce no seio da vida familiar e é capaz de mudar o mundo

“Senhor, mostra-me o caminho e dá-me disposição para segui-lo” era a oração que Santa Brígida gostava de repetir. E o Senhor lhe pediu que se tornasse esposa, mãe, peregrina, fundadora, e investiu-a de uma missão eclesial e social fundamental: sacudir a Igreja ocidental num momento histórico dramático para a cristandade – o século XIV. Ela, que nasceu em 1302 na longínqua Suécia, atravessou a Europa para comunicar as mensagens que Cristo e a Virgem Maria lhe revelavam. Suas palavras fizeram tremer reis, papas, eclesiásticos e homens poderosos, que haviam se esquecido do Evangelho.
Claro, Brígida não imaginava nada disso quando vivia em sua bela casa paterna em Finsta, a 50 quilômetros de Estocolmo. Seu desejo era consagrar-se a Deus, entrar no convento. Mas os desígnios eram outros. Quando estava com treze anos, seu pai, Birgger Personn – um dos homens mais poderosos da Suécia –, decidiu casá-la com Ulf Gudmarsson, cinco anos mais velho. Cheia de lágrimas, obedece. O casamento aconteceu em 1318. Os esposos vão viver no castelo de Ulfasa, num braço de terra no lago Boren. Aí nasceram seus oito filhos, entre os quais Santa Catarina da Suécia, companheira e colaboradora da mãe até à morte.
Em mais de 27 anos de matrimônio, Brígida se dedicou totalmente à família, à educação dos filhos, mas também a todas as pessoas que viviam na colônia agrícola anexa ao castelo, pelos quais se sentia responsável. Era normal, ao anoitecer, encontrá-la lendo e explicando a Bíblia aos empregados. Ulf era um homem correto e se impressionava com sua esposa, sensível e forte ao mesmo tempo, e sentiu-se atraído por sua religiosidade. Brígida ensinou-o a ler o Ofício da Virgem Maria, juntos rezavam na capela, mas sobretudo ele a acompanhava nas práticas de piedade com os necessitados. Fundaram, na área, um pequeno hospital onde davam assistência aos doentes e uma mesa onde eles próprios serviam comida aos pobres. Brígida levava também os filhos em suas visitas aos enfermos, para que aprendessem a servir a Deus nos pobres e doentes.
Muitas pessoas de todos os segmentos sociais começaram a pedir a sua ajuda. Ela tinha especial compaixão pelas prostitutas, a quem ajudava, até economicamente, a contrair matrimônio ou a refazer a vida num convento.

Peregrinação a Compostela. Em 1335, o rei Magnus casou-se com Blanka de Namur, filha de um conde flamengo, e Brígida foi chamada à corte para ser dama de companhia e mestra da jovem rainha. Sua influência se fez sentir imediatamente. Convenceu o rei a abolir hábitos injustos e desumanos no trato com os mais pobres. Queria que Magnus fosse, antes de tudo, um rei cristão. Mas o ambiente mundano da corte a desgostava e, em 1339, pediu para voltar para casa. Dois anos depois, por ocasião das bodas de prata, foi com o marido em peregrinação a Santiago de Compostela. Para os esposos, essa longa viagem, de santuário em santuário, foi fundamental. Decidiram, então, dedicar-se totalmente a Deus.
Na volta, em 1342, Ulf entrou no mosteiro cisterciense de Alvastra, onde já vivia o filho Bento. E Brígida? Após a morte do marido, ocorrida em 1344, distribuiu os seus bens a herdeiros e pobres, retirou-se para um prédio anexo ao convento para realizar o ideal monástico que ainda carregava no coração. Mergulhou no silêncio e na oração. A paixão de Cristo era o ponto central da sua meditação. Foram esses os anos das visões e das revelações: Cristo e a Virgem Maria falavam com ela, pediam que ela se tornasse profeta junto aos poderosos, porque o ensinamento do Filho do Homem é a única possibilidade de salvação. Foram momentos de pura graça. Era tão impressionante a leitura das Revelações celestes, que o prior Petrus as traduziu para o latim, por causa de sua força e expressividade. Era Deus quem falava. Devido a uma dessas revelações, Brígida convenceu o rei Magnus a enviar dois mensageiros aos reis da França e da Inglaterra para que pusessem fim à Guerra dos Cem Anos, e um ao Papa Clemente para que assumisse o papel de mediador da paz e deixasse Avinhão e voltasse para Roma.
Brígida recebeu o pedido de fundar uma nova Ordem religiosa. No dia 1º de maio de 1346, a família real cedeu a Brígida o castelo de Vadstena, às margens do lago Vattern, como lugar para o mosteiro. Mas era necessária a aprovação papal. O mesmo Papa que não ouviu sua mensagem e não quis retornar para a Cidade Santa. Brígida partiu para Roma com um grupo de peregrinos, no outono de 1349, tendo em vista também o Jubileu de 1350.
Em Roma, a fama das suas revelações a precedia, mas a cidade eterna era um covil de ladrões. Durante vários dias as igrejas da cidade ficavam sem missa. A ausência do Papa era, para Brígida, a confirmação da decadência da Igreja. Na casa colocada à sua disposição pelo irmão do Papa, ela e os peregrinos levavam uma vida monástica. Brígida estudava, redigia as revelações e fazia peregrinações a pé aos lugares santos, fora e dentro dos muros da cidade. E, tal como na Suécia, dedicava-se aos pobres, física e espiritualmente. Chegou mesmo a pedir esmola, quando acabou o dinheiro. Em Roma, todos a conheciam; sua pregação impetuosa contra a degradação dos eclesiásticos e contra o abuso de poder despertava a ira de muitos, que chegavam inclusive a ameaçar queimá-la viva, acusando-a de heresia. Ela não se amedrontou. Em suas peregrinações, foi até Nápoles, onde encontrou a mesma decadência. E mais uma vez advertiu, repreendeu.
Dia 16 de outubro de 1367, Urbano V entrou solenemente em Roma. Brígida ficou radiante. Apresentou ao Papa a Regra da Ordem. Na Cúria, torceram o nariz para os termos da redação, rígida demais. Com a ajuda de Niccolò Orsini, providenciou um novo texto. A aprovação aconteceu no dia 5 de agosto de 1370, em Monte Fioscone, residência de verão do Papa. Uma boa notícia, à qual se juntou uma má: o Pontífice decidiu voltar para Avinhão. Brígida ficou furiosa. Durante uma audiência privada, comunicou-lhe o que a Virgem Maria lhe revelara a propósito. O tom beirava a ofensa. Mas Urbano V não a escutou. Morreu logo depois, em 19 de dezembro daquele mesmo ano.
Brígida estava cansada e esgotada. Mas o Esposo tinha outra exigência: ela devia ir rezar nos lugares sagrados da cristandade. Com amigos e parentes, entre os quais dois de seus filhos, pôs-se a caminho. A primeira etapa era Nápoles. Aí sofreu uma grande dor: seu filho Karl apaixonou-se pela rainha Giovanna. Em vão tentou dissuadi-lo dessa história de perdição. O rapaz morreu alguns meses depois. Poucos compreenderam por que ela não ficara desolada com tal luto: o Senhor havia levado com Ele o rapaz.

Última carta. Dia 11 de maio, chegaram a Jerusalém. Nos lugares sagrados permaneceu por quatro meses, visitando e rezando sobre cada pedra na qual Cristo tenha posto os pés. Depois foi a Belém, ao Monte Sião. Em cada lugar, Cristo e a Virgem Maria falavam com ela. Brígida rezava incessantemente pela reforma da Igreja e o restabelecimento da Cátedra de Pedro em Roma. Quando retornou à cidade eterna, entregou ao bispo Alfonso uma última carta a Gregório XI. Foi seu último ato, pois morreu no dia 23 de julho de 1373.
Por dois dias não foi possível transportar seu corpo da casa, na praça Farnese, para o convento das Clarissas, que Brígida havia escolhido como lugar do seu breve repouso em Roma: havia gente demais querendo manifestar sua devoção pela santa. No dia 4 de julho de 1374, seu corpo chegou a Vadstena, sendo acompanhado e velado pela filha Catarina, primeira abadessa do convento da nova Ordem. Em 17 de janeiro de 1377, o Papa Gregório XI voltou para Roma. A profecia se realizava. A cristandade estava salva.
No dia 1º de outubro de 1999, João Paulo II proclamou-a, junto com Santa Catarina de Siena e Edith Stein (Teresa Benedita da Cruz), padroeira da Europa.

(Publicado em Passos n.113, março 2010)

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