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Passos N.120, Outubro 2010

BENTO XVI

“O homem é verdadeiramente criado para aquilo que é grande, para o infinito”

MENSAGEM PARA A XXVI JORNADA
MUNDIAL DA JUVENTUDE 2011


Queridos amigos, (...) o nosso olhar dirige-se para a próxima Jornada Mundial da Juventude, que terá lugar em Madri em agosto de 2011 (...) com o tema: “Enraizados e edificados em Cristo... firmes na fé” (cf. Cl 2, 7). (...)
Em todas as épocas, também nos nossos dias, numerosos jovens sentem o desejo profundo de que as relações entre as pessoas sejam vividas na verdade e na solidariedade. Muitos manifestam a aspiração para construir relacionamentos autênticos de amizade, conhecer o verdadeiro amor, fundar uma família unida, alcançar uma estabilidade pessoal e uma segurança real, que possam garantir um futuro sereno e feliz. (...) Sim, a procura de um posto de trabalho e com ele poder ter uma certeza é um problema grande e urgente, mas ao mesmo tempo a juventude permanece contudo a idade na qual se está em busca da vida maior. Se penso nos meus anos de então: simplesmente não queríamos nos perder na normalidade da vida burguesa. Queríamos o que é grande, novo. Queríamos encontrar a própria vida na sua vastidão e beleza. (...) Trata-se apenas de um sonho vazio que esvaece quando nos tornamos adultos? Não, o homem é verdadeiramente criado para aquilo que é grande, para o infinito. Qualquer outra coisa é insuficiente. (...) Deus é vida, e por isso todas as criaturas tendem para a vida; de maneira única e especial a pessoa humana, feita à imagem de Deus, aspira pelo amor, pela alegria e pela paz. Compreendemos então que é um contra-senso pretender eliminar Deus para fazer viver o homem! (...)
A cultura atual, em algumas áreas do mundo, sobretudo no Ocidente, tende a excluir Deus, ou a considerar a fé como um fato privado, sem qualquer relevância para a vida social. Enquanto o conjunto de valores que estão na base da sociedade provém do Evangelho – como o sentido da dignidade da pessoa, da solidariedade, do trabalho e da família –, constata-se uma espécie de “eclipse de Deus”, uma certa amnésia, ou até uma verdadeira rejeição do Cristianismo e uma negação do tesouro da fé recebida, com o risco de perder a própria identidade profunda. (...) O relativismo difundido, segundo o qual tudo equivale e não existe verdade alguma, nem qualquer ponto de referência absoluto, não gera a verdadeira liberdade, mas instabilidade, desorientação, conformismo às modas do momento. Vós jovens tendes direito de receber das gerações que vos precedem pontos firmes para fazer as vossas opções e construir a vossa vida, do mesmo modo como uma jovem planta precisa de um sólido apoio para que as raízes cresçam, para se tornar depois uma árvore robusta, capaz de dar fruto.
Para ressaltar a importância da fé na vida dos crentes, gostaria de me deter sobre cada uma das três palavras que São Paulo usa nesta sua expressão: “Enraizados e fundados em Cristo, firmes na fé” (cf. Cl 2, 7). Nela podemos ver três imagens (...) muito eloquentes. Antes de as comentar, deve-se observar simplesmente que no texto original as três palavras, sob o ponto de vista gramatical, estão no passivo: isto significa que é o próprio Cristo quem toma a iniciativa de radicar, fundar e tornar firmes os crentes.

A primeira imagem é a da árvore, firmemente plantada no solo através das raízes, que a tornam estável e a alimentam. (...) Quais são as nossas raízes? Naturalmente, os pais, a família e a cultura do nosso país, que são uma componente muito importante da nossa identidade. A Bíblia revela outra. O profeta Jeremias escreve: “Bendito o homem que deposita a confiança no Senhor, e cuja esperança é o Senhor. É como a árvore plantada perto da água, a qual estende as raízes para a corrente; não teme quando vem o calor, a sua folhagem fica sempre verdejante. Não a inquieta a seca de um ano; continua a produzir frutos” (Jr 17, 7-8). Estender as raízes, para o profeta, significa ter confiança em Deus. D’Ele obtemos a nossa vida; sem Ele não poderíamos viver verdadeiramente. “Deus deu-nos a vida eterna, e esta vida está em Seu Filho” (1 Jo 5, 11). O próprio Jesus apresenta-se como nossa vida (cf. Jo 14, 6). Por isso a fé cristã não é só crer em verdades, mas é antes de tudo uma relação pessoal com Jesus Cristo, é o encontro com o Filho de Deus, que dá a toda a existência um novo dinamismo. Quando entramos em relação pessoal com Ele, Cristo revela-nos a nossa identidade e, na sua amizade, a vida cresce e realiza-se em plenitude. (...)

Tal como as raízes da árvore a mantêm firmemente plantada na terra, também os fundamentos dão à casa uma estabilidade duradoura. Mediante a fé, nós somos fundados em Cristo (cf. Cl 2, 7), como uma casa é construída sobre os fundamentos. (...) Queridos amigos, construí a vossa casa sobre a rocha, como o homem que “cavou muito profundamente”. Procurai também vós, todos os dias, seguir a Palavra de Cristo. Senti-O como o verdadeiro Amigo com o qual partilhar o caminho da vossa vida. (...) São-vos apresentadas continuamente propostas mais fáceis, mas vós mesmos percebeis que se revelam enganadoras, que não vos dão serenidade e alegria. (...) Sejam “enraizados e fundados em Cristo, firmes na fé” (cf. Cl 2, 7). A Carta da qual é tirado este convite, foi escrita por São Paulo para responder a uma necessidade precisa dos cristãos da cidade de Colossos. Com efeito, aquela comunidade estava ameaçada pela influência de determinadas tendências culturais da época, que afastavam os fiéis do Evangelho. O nosso contexto cultural, queridos jovens, tem numerosas analogias com o tempo dos Colossenses daquela época. De fato, há uma forte corrente de pensamento laicista que pretende marginalizar Deus da vida das pessoas e da sociedade, projetando e tentando criar um “paraíso” sem Ele. Mas a experiência ensina que o mundo sem Deus se torna um “inferno” (...). Aos irmãos contagiados por ideias alheias ao Evangelho, o Apóstolo Paulo recorda o poder de Cristo morto e ressuscitado. Este mistério é o fundamento da nossa vida, o centro da fé cristã. Todas as filosofias que o ignoram, que o consideram “escândalo” (1 Cor 1, 23), mostram os seus limites diante das grandes perguntas que habitam o coração do homem. (...) Queridos amigos, muitas vezes a Cruz nos assusta, porque parece ser a negação da vida. Na realidade, é o contrário! Ela é o “sim” de Deus ao homem, a expressão máxima do seu amor e a nascente da qual brota a vida eterna. (...)
Hoje para muitos, o acesso a Jesus tornou-se difícil. Circulam tantas imagens de Jesus que se fazem passar por científicas e O privam da sua grandeza, da singularidade da Sua pessoa. (...) Queridos jovens, aprendei a “ver”, a “encontrar” Jesus na Eucaristia, onde está presente e próximo até se fazer alimento para o nosso caminho; no Sacramento da Penitência, no qual o Senhor manifesta a sua misericórdia ao oferecer-nos sempre o seu perdão. (...) Abri e cultivai um diálogo pessoal com Jesus Cristo, na fé. (...) “Antes de mais, a fé é uma adesão pessoal do homem a Deus. Ao mesmo tempo, e inseparavelmente, é a livre aceitação de toda a verdade revelada por Deus” (Catecismo da Igreja Católica, n. 150). Assim podereis adquirir uma fé madura, sólida, que não estará unicamente fundada num sentimento religioso ou numa vaga recordação da catequese da vossa infância. Podereis conhecer Deus e viver autenticamente d’Ele (...). Compreendemos então que a nossa fé pessoal em Cristo, nascida do diálogo com Ele, está ligada à fé da Igreja: não somos crentes isolados, mas, pelo Batismo, somos membros desta grande família, e é a fé professada pela Igreja que dá segurança à nossa fé pessoal. (...)
Queridos amigos, (...) é com profunda alegria que espero cada um de vós pessoalmente: Cristo quer tornar-vos firmes na fé através a Igreja. A opção de crer em Cristo e de O seguir não é fácil; é dificultada pelas nossas infidelidades pessoais e por tantas vozes que indicam caminhos mais fáceis. Não vos deixeis desencorajar, procurai antes o apoio da Comunidade cristã, o apoio da Igreja! (...) A Igreja conta convosco! Precisa da vossa fé viva, da vossa caridade e do dinamismo da vossa esperança. (...) Por isso as Jornadas Mundiais da Juventude são uma graça não só para vós, mas para todo o Povo de Deus. (...)