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Passos N.106, Julho 2009

EXPERIÊNCIA - CARIDADE

Da Itália ao Paraguai

por Stefano Regondi

Ou: como da caritativa no Centro de Recuperação de Menores nasceu uma verdadeira empresa. Graças (também) a um marceneiro que se deixou comover. E a dois containeres vindos da Itália

Jovens e presos, agarrados a uma nova amizade. Começam a trabalhar com as próprias mãos, começam a construir objetos para doações, móveis, cadeiras. Não peças de designers, mas coisas bem feitas. Estamos em Assunção, capital do Paraguai. Nessas terras, a italiana Giovanna Tagliabue, trabalha como professora e enfermeira desde 1987. Ela também estava na capital quando, em 1994, começou a caritativa no Centro de Recuperação de Menores Panchito López, com jovens sem família de 13 a 17 anos. Um mirrado grupo de Jovens Trabalhadores do Movimento de Assunção, entre eles Pedro, semanalmente davam uma hora de catecismo usando a edição espanhola do livro de Dom Giussani, Passos de experiência cristã. Nasceu uma amizade entre eles. Entre um domingo e outro (o dia da caritativa), tornou-se potente a necessidade de educar realmente estes jovens, evitando que, depois do período de reclusão, voltassem aos homicídios e arrastões cotidianos. Decidiram fazer um projeto sério. Nasceu assim a Casa de Acolhida para Menores Virgem de Caacupé, nome de um dos principais santuários da cidade. “Acolhíamos os jovens nesta casa e procurávamos um trabalho para eles: de jardineiro a empacotador no supermercado. O importante era trabalhar. Na época, eram doze jovens”, conta Giovanna. Foi bastante tortuoso o caminho de construção dessa casa: primeiro, a questão econômica, que era responsabilidade sobretudo de Pedro. Ele , que saiu à procura de uma garantia para o aluguel, que chegou apenas depois de muita insistência e em acordo com o Ministério da Saúde que reconheceu sua importância social. Hoje Pedro é o responsável por esta casa de acolhida, que vem sendo cada vez mais conhecida no país, a ponto de os jovens infratores, ao serem julgados e condenados, pedirem para cumprir pena ali.

Os jovens no trabalho. A história continua. Busca-se melhorar a qualidade do trabalho, procurando novos empregos para os jovens. E uma ideia toma corpo. “Montamos um escola de marcenaria aqui em San Lorenzo, dentro da cidade”, conta Giovanna: “Comprei as máquinas para fabricar os móveis e pedi a meu irmão Luigi, que sempre foi marceneiro, para vir da Brianza e ver como estávamos trabalhando”. Era maio de 2006. Luigi atravessou o oceano que o separava da irmã e ficou por dois meses. “Giovanna me pediu para dar uma olhada. Eu lhes ensinava o trabalho, orientando-os e dando instruções muito rígidas. Comecei fazendo-os executar alguns pequenos trabalhos. Mas o que vi ali era muito obsoleto, aquelas máquinas não eram usadas nem por meus avós...” Quando voltou para casa, maravilhado com a bondade da obra, decidiu doar algumas máquinas da fábrica da família. “Com as máquinas que tinham, além do risco de se machucarem, não seria possível aprender e, sobretudo, não se poderia fazer nada de bonito. Então despachei – destino, Paraguai – um container com máquinas que, para eles, estavam cinquenta anos à frente do que usavam. Nós começamos a usar máquinas eletrônicas, por isso, não utilizávamos mais aquelas, mas para eles...” O container chega. Os jovens aproveitam imediatamente a oportunidade. Mal as máquinas são desembaladas, já começam a trabalhar, sob os olhos atentos da arquiteta Carolina Esteche que acompanha todos os projetos desta marcenaria chamada Brianza. Passam o tempo com um martelo e uma plaina nas mãos, cada particular é cuidado, e as palavras de Charles Péguy, aqui, tomam corpo: “Cada parte da cadeira, mesmo as que não são visíveis, era trabalhada com a mesma perfeição daquelas que estavam à vista. Segundo o mesmo princípio das catedrais”. “Vi fotografias com o trabalho dos jovens e devo dizer que começam a fazer coisas bonitas”, acrescenta Luigi. “Com o tempo, começam a se tornar bons.” A casa de acolhida, construída com perfeição em todos os detalhes, a trinta quilômetros do centro da cidade, foi cercada, surgindo no meio de uma floresta. Todavia, também aqui, alguns menores fogem e, como nos conta o marceneiro, “o problema é que, depois, caem novamente nas mãos da justiça comum”.

Um outro encargo. E diz isso comovido, como se pensasse em uma oportunidade perdida. Depois, fala dos dias que passou no Paraguai: “É possível ver que encontraram algo pelo qual, agora, em suas vidas, há uma esperança. Porque obedecem a Pedro de uma maneira incrível: propõe rezar e eles o fazem, convida-os para ir à missa e o seguem sem nunca se rebelar. Algumas vezes pegamos o pequeno furgão e fomos ao santuário da Virgem de Caacupé para rezar. Fiquei comovido. Esses jovens inclusive mataram. No entanto, com Pedro e os outros, estão mudando”. Essa história mudou também Luigi. Aposentou-se e precisou fechar a oficina. O que fazer? Vender as máquinas para as empresas vizinhas? Empacotou todas elas e enviou um segundo container para o Paraguai. “Mandei até uma prensa hidráulica que mede três metros por um e meio. Talvez seja demais para eles, mas melhor, assim... podem começar a trabalhar realmente bem.”

 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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