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Passos N.105, Junho 2009

PEREGRINAÇÃO - FAMÍLIAS PARA ACOLHIDA

Um abraço gratuito que é compartilhado

por Cristiane A. Marinotti e José Paulo Militão de Araújo

Um grupo de amigos de São Paulo que há anos já se fazem companhia compartilhando experiências de acolhida, promoveu, em maio, uma peregrinação para se colocar diante de Nossa Senhora neste desejo que os une

Um gesto simples, uma unidade que acontecia sem nenhuma formalidade, uma entrega a Nossa Senhora que enchia os corações de alegria e certeza: foi a experiência feita na Primeira Peregrinação do grupo de Famílias para Acolhida, dia 09 de maio, à Basílica de Nossa Senhora da Penha, em São Paulo.
E assim se iniciou o ano para este grupinho de pessoas que busca viver de modo cada vez mais consciente a experiência particular de acolhida que, de alguma forma, a “vida” lhes consignou: filhos adotivos, guarda de crianças em situação de risco, pais adoentados, tios solitários, amigos com as mais diversas necessidades.
No livro O milagre da hospitalidade (Companhia Ilimitada, São Paulo, 2006), que contém intervenções e diálogos de Dom Giussani com a Associação Famílias para a Acolhida, na Itália, ele diz: “Peçam a nossa Senhora e aos santos para serem sempre mais conscientes daquilo que fazem. Que vocês tenham mais consciência é um desejo meu para vocês, porque se vocês tiverem mais consciência serão mais esplendorosos! É como ver alguém que caminha de noite mais fluorescente. As pessoas se encorajam”. E assim fizemos: pedimos. Desde a preparação do gesto, tudo foi um imenso pedido, movidos pelo desejo e pela certeza da resposta que Nossa Senhora nos dá, essa presença Maternal que acolhe toda a nossa pessoa.
Encontramo-nos no metro Penha e, no percurso à Basílica, amigos ajudaram nos cantos, no terço, a cuidar da ordem, crianças ajudaram na missa e carregaram a cruz: cada um assumindo o gesto como seu, com autoridade e obediência sincera, ajudamo-nos a caminhar juntos.
Nossa amiga Graça viajou a noite toda desde Belo Horizonte, somente para estar conosco por algumas horas, e, logo após o gesto, voltou para casa... precisava dizer mais alguma coisa? Sim, porque às vezes podemos ver e não enxergar, estar juntos e não apreender a grandeza do Mistério que está entre nós.
Assim, compartilhamos nossas experiências e o que nos move: Graça nos contou da acolhida das crianças na sua vida e na obra que dirige – a Casa Novella; Geninha nos falou de sua mãe idosa; José Paulo da acolhida de uma estudante; Alessandra falou do desejo de responder aos amigos que lhe procuram provocados pela adoção das duas filhas.
Padre Julián de la Morena guiou a peregrinação e, numa companhia amorosa e precisa, exortou-nos a ser cada vez mais adultos, responsáveis por nossos gestos: “Deus nos fala através de duas coisas: da realidade e da liturgia. Não se preocupem, a realidade acontece, está pensada. Vamos ao encontro da realidade levando a Vitória, depois lidamos com os problemas que aparecem, mas partimos da Vitória! E o Evangelho de hoje nos diz: ‘quem acreditar em mim, fará as obras que eu faço e as fará maiores’... acolher é agir como Deus, que é quem acolhe a todos nós. Para prosseguir, é importante se encontrar e ficar perto das pessoas que fazem uma experiência maior do que a nossa, como por exemplo estes amigos da Itália que acompanham vocês”.
Um único, pequeno e precioso texto proposto para a reflexão. É um trecho da colocação de padre Massimo Camisasca, superior da Fraternidade São Carlos Borromeu, no encontro com o Diretório da Associação Famílias para a Acolhida, na Itália, em dezembro de 2008: “Vejam que a palavra acolhida, a experiência de acolhida é a expressão originária. Entrar na experiência da acolhida quer dizer entrar em uma experiência que está na origem de tudo, porque na origem de tudo está o gesto de Deus que me acolhe. Mas não é só isso, porque Ele me fez como a Si mesmo, colocou dentro do meu coração a marca do seu Ser. E como Ele me quis através de um gesto de acolhida, colocou dentro do meu coração a experiência de acolhida como caminho para a realização do meu eu. Portanto, nós somos feitos como Ele. Podemos trair mil vezes, tentar cancelar a Sua imagem que somos nós, mas permanece no fundo do nosso ser esta descoberta: somente nos doando é que afirmamos a nós mesmos. É só acolhendo o outro que eu me torno eu mesmo. Porém, para que a nossa vida não se torne uma pretensão, é preciso que sejamos mendicantes da acolhida, isto é, que peçamos a Deus para aprender dia a dia, hora a hora, o que quer dizer acolher. Porque, se sobretudo vocês não se tornarem mendicantes da acolhida, não poderão viver aquela estrada física que é aquele filho, aquele doente, aquele idoso, para que não se torne um estorvo, um peso, pois foi colocado por Deus em seu caminho, como ajuda em direção ao Mistério. Mendicantes da gratuidade de Deus diante da vida: esse é o sentido do seu existir”.
Um pontinho, um fato histórico, na construção da estrada que juntos estamos trilhando, um pedido a Nossa Senhora para nos apresente o caminho a ser trilhado daqui para frente, aumentando nossa disponibilidade em servir àquilo que Ela nos pedir, para a construção do mundo que o Seu Filho queira para nós.


OLHAR AS TESTEMUNHAS

Carta enviada por Marco Mazzi, responsável pela Associação Famílias para a Acolhida, na Itália.

Caros amigos,
quero dizer-lhes que estamos muito perto de vocês, participando do gesto da peregrinação da Associação, em São Paulo. Este gesto que quisemos que se realizasse coloca no início do caminho de cada ano social tudo aquilo que está no coração e aquilo no qual desejamos consistir.
Na experiência de abrir a porta das próprias casas a quem encontramos na necessidade, foi nos possibilitado participar da misericórdia com a qual Deus abraça cada uma de Suas criaturas e nos abraça também. Na última Assembleia Geral das Famílias pela Acolhida, padre Camisasca nos lembrava que “para que suas vidas não se tornem uma pretensão é preciso que sejam mendicantes da acolhida, isto é, que peçam a Deus para aprender dia a dia, hora a hora, o que quer dizer acolher. Porque, se sobretudo vocês não se tornarem mendicantes da acolhida, não poderão viver o caminho concreto que é aquele filho, aquele doente, aquele ancião, para que não se tornem um estorvo, um peso, pois foi colocado por Deus em seu caminho, como ajuda em direção ao Mistério. Mendicantes da gratuidade de Deus diante da vida: esse é o sentido do seu existir”. Olhar no rosto, fixar os olhos das pessoas que acolhemos em casa é olhar Quem nos visita para nos fazer caminhar mais prontamente em direção a Ele, para fazer a experiência da Sua presença.
Olhar os amigos que testemunham isto, não nos leva a um confronto ou a uma medida, mas nos leva a abrir o coração, a ser mais conscientes e a mover a nossa liberdade dentro das circunstâncias misteriosas que o Senhor pensou para cada um de nós, dentro da nossa vida.
Sabemos que o que nos foi dado viver é algo que o mundo espera, nos é pedido para testemunhar isso em qualquer lugar, e a peregrinação também é um gesto missionário. “Vocês se tornaram sinais de uma novidade que, como uma onda, se dilata em um movimento que é início de uma sociedade feita de pessoas apaixonadas pelo destino dos homens”, escreveu-nos Dom Giussani na última mensagem que nos enviou.
Para todos nós, é comovente ver como este fascínio propagou-se até chegar a vocês, interpelou seus corações e os colocou no mesmo caminho.
Que Nossa Senhora lhes acompanhe e torne frutífera, para o caminho de cada um, a nossa experiência e a nossa amizade.
Estamos com vocês através da oração.

Marco Mazzi

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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