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Passos N.101, Fevereiro 2009

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Passos na Mídia

VEJA.COM
Duas ou três coisas que eu sei sobre Ele

Este artigo não trata do mistério da fé, mas da força da esperança, que é o cerne da mensagem cristã, como queria o apóstolo Paulo: “É na esperança que somos salvos”. O que ganha quem se esforça para roubá-la do homem, fale em nome da Razão, da Natureza ou de algum outro Ente maiúsculo qualquer? E trato da esperança nos dois sentidos possíveis da palavra: o que tenta despertar os homens para a fraternidade universal, com todas as suas implicações morais, e o que acena para a vida eterna. O ladrão de esperanças não leva nada que lhe seja útil e ainda nos torna mais pobres de anseios. (...)
Precisamos do Cristo não porque os homens se esquecem de ter fé, mas porque, com freqüência, eles abandonam a Razão e cedem ao horror. Sem essa certeza, Darfur – a guerra do forte contra o indefeso, da criança contra o fuzil, do bruto contra a mulher –, uma tragédia que o mundo ignora, seria ainda mais insuportável.
(Reinaldo Azevedo, 24.dez.08)

REVISTA VEJA
Fábrica de maus professores

Hoje há poucos estudiosos empenhados em produzir pesquisa de bom nível sobre a universidade brasileira. Entre eles, a antropóloga Eunice Durham, 75 anos, vinte dos quais dedicados ao tema, tem o mérito de tratar do assunto com rara objetividade. Seu trabalho representa um avanço, também, porque mostra, com clareza, como as universidades têm relação direta com a má qualidade do ensino oferecido nas escolas do país.
Eunice afirma: “As faculdades de pedagogia formam professores incapazes de fazer o básico, entrar na sala de aula e ensinar a matéria. Mais grave ainda, muitos desses profissionais revelam limitações elementares: não conseguem escrever sem cometer erros de ortografia simples nem expor conceitos científicos de média complexidade. Chegam aos cursos de pedagogia com deficiências pedestres e saem de lá sem ter se livrado delas. Minha pesquisa aponta as causas. A primeira, sem dúvida, é a mentalidade da universidade, que supervaloriza a teoria e menospreza a prática. Segundo essa corrente acadêmica em vigor, o trabalho concreto em sala de aula é inferior a reflexões supostamente mais nobres”.
Como essa ideologia se manifesta? “Por exemplo, na bibliografia adotada nesses cursos, circunscrita a autores da esquerda pedagógica. Eles confundem pensamento crítico com falar mal do governo ou do capitalismo. Não passam de manuais com uma visão simplificada, e por vezes preconceituosa, do mundo. O mesmo tom aparece nos programas dos cursos, que eu ajudo a analisar no Conselho Nacional de Educação. Perdi as contas de quantas vezes estive diante da palavra dialética, que, não há dúvida, a maioria das pessoas inclui sem saber do que se trata. Em vez de aprenderem a dar aula, os aspirantes a professor são expostos a uma coleção de jargões. A situação se agrava com o fato de os professores, de modo geral, não admitirem o óbvio: o ensino no Brasil é ainda tão ruim, em parte, porque eles próprios não estão preparados para desempenhar a função”.
(Monica Weinberg, Entrevista, 26.nov.08)

GLOBO.COM
Esperança no meio do desespero

Jamil soa diferente no telefone, no segundo dia do ataque. Não é o som do relâmpago ocasional ao fundo – bombas israelenses explodindo próximas a este apartamento na Cidade de Gaza. É uma calmaria perplexa, desesperadora, como nunca havia visto nos seis anos em que esse psicólogo infantil incrivelmente astuto, gentil e de grande valor coordenou o trabalho no nosso centro junto à população psicologicamente traumatizada de Gaza. “Conhece Waleed, membro da nossa equipe?”, ele perguntou. Eu conheço. A imagem surge como um assistente social gentil, jovem, de boa alma, que cuida de crianças traumatizadas. “Ele foi morto”, Jamil me conta.
Nunca foi fácil em Gaza. (...) Em 2007, entrevistamos 500 crianças. Setenta por cento delas disseram ter testemunhado um assassinato. Quase 30% delas sofrem de transtornos pós-trauma (...) . Hoje, duas semanas após o início dos bombardeios, com mais de 900 mortos, milhares de feridos e forças israelenses invadindo Gaza por terra, é difícil encontrar esperança. Apesar disso, no meio do desespero, muitos de nossos colegas conseguem. “Quando as bombas caem”, Jamil me conta, “meus filhos e eu respiramos profundamente, e compartilhamos nossos sentimentos. Temos uns aos outros – nossas famílias e nossa equipe do centro – e, claro, temos fé em Deus”. Então, sua voz se eleva e ele me pergunta sobre minha família e os planos de retornar a Gaza, para treinar mais 150 clínicos. “Vamos precisar de muitos mais”, diz.
Ele se prepara para desligar: “As crianças estão chorando”. Jamil me agradece pela conversa e por motivar nossos colegas israelenses – árabes e judeus – a manter contato com ele. Quando desligamos, eu me lembro do que outro colega de Gaza me disse, não faz muito tempo: “Nas nossas sagradas escrituras, está escrito que, quando não temos fé, buscamos por ela no rosto de um amigo”.

(James S. Gordon do “New York Times”, 14.jan.09)

 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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