Caríssimo padre Carrón, escrevo de San Felice sul Panaro, onde moro com minha esposa Marilara e com os filhos Stefano e Margherita. Fomos acordados em plena noite com o terremoto. A primeira coisa que me tocou, depois do medo inicial pelas nossas vidas, foi o fato ver como o terremoto, num instante, mexeu profundamente com a minha intimidade, deixando-a à mostra, arrancando toda a crosta de falsas seguranças que a mantêm oculta.
Estávamos ali, no lugar onde orbitavam as nossas existências, os nossos sentimentos e, num instante, nada mais era como antes, talvez nunca mais volte a ser como antes... Foi aí que nasceu a pergunta: “O que permanece de pé?”. Logo nasceu, porém, uma certeza: essa coisa tão grande e espantosa não me assustava mais como um instante atrás, mas um tremor bom tomava conta de mim, não por acaso, mas por causa de uma história que antecedeu esse instante. Uma história feita de encontros que marcam positivamente a vida, de rostos amigos, da dureza do meu coração, e de um trabalho de Escola de comunidade, o que só de pensar já me comove. Me comove porque confiando nesse trabalho posso ver todas as coisas que vivo e que acontecem sob a luz verdadeira e vejo que correspondem ao meu ser e se tornam milagre aos meus olhos. Com o terremoto ruiu o muro da minha resistência, da autodeterminação... Vejo além, revejo o rosto dos amigos com gratidão. Estão aqui, todos os dias arriscamos a vida, porque tudo é perigoso, mas encontrei dentro de mim uma positividade inesperada, que me conduz desde os primeiros momentos.
Sou um artesão e nove funcionários dependem de mim. Depois de uma hora, quando vi o barracão parcialmente destruído e o forno de pintura, que é o coração da empresa, totalmente irrecuperável, nem me passou pela cabeça desistir, embora a tragédia que eu via diante de mim fosse bem maior do que as minhas capacidades. Pensei nos amigos, ou naqueles que eram, sim, sinal de Jesus, mas que eu sempre mantinha distantes, porque eu filtrava tudo com a razão e endurecia o meu coração.
Pedi ajuda. E eles entraram com força e, ao mesmo tempo, com doçura na minha vida, como o rosto de Jesus presente. Domingo, 20 de maio, eu disse a mim mesmo: o Senhor venceu. Posso achar que o terremoto não é uma circunstância positiva? Posso sonhar em ir para outro lugar, onde eu teria um pouco mais de serenidade? O que aconteceu é muito maior, o que permanece é muito maior do que o que foi perdido.
Carta de Alberto
San Felice sul Panaro (Módena)
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