Quando pequeno, Frederico, depois da escola, ia com frequência ao andar de baixo, na casa da senhora Lina. Ela gostava muito daquele garoto cadeirante, como se fosse sua avó e, sempre que fosse preciso, ficava feliz em ajudá-lo. Os encontros com a vizinha durou anos: ela lhe dava uma balinha de menta, assistiam a novela depois do telejornal e, finalmente, voltava para casa.
Hoje Frederico está com 22 anos e vai todos os dias à Cooperativa Cuidado e Reabilitação de Milão que acolhe uma centena de pessoas com dificuldades físicas e motoras, com tratamento individualizado, levando em conta suas dificuldades e habilidades. Ali muitos fazem estágio em empresas porque, como diz Jonathan Ziella, educador, “a cooperativa não deve ser a última saída”. Tem quem trabalhe como empacotador em uma gráfica, outros manipulam pedaços de alumínio numa fundição, outros organizam sapatos num comércio. Para eles, o estágio é um trabalho e, justamente, isso conta muito para sua identidade. O problema é para aqueles que, como Frederico, têm deficiências muito graves e não podem participar dessas atividades. Mas, certa manhã, alguns anos atrás, “ele nos conta sobre a senhora Lina. Foi o encontro entre oferta e procura!”
Eis seu talento: querer bem às pessoas, dar afeição a quem está sozinho. “Tratava-se, porém, de encontrar um âmbito adequado de voluntariado...” e as dificuldades, para quem está em cadeira de rodas, não são poucas. “Então contatamos o Banco de solidariedade de algumas cidades próximas. Um professor nos propõe que ele vá ajudá-los a levar as cestas básicas de alimentos aos pobres. Os Bancos de solidariedade são uma das mais imponentes experiências de caritativa: reúnem dez mil pessoas em toda a Itália; cem mil recebem os alimentos.
Os jovens da Cooperativa começam sua caritativa em 25 de fevereiro de 2011: cinco, com alguns educadores, batem à porta da senhora Rosa, que abre poucos centímetros da porta e pede que deixem a cesta ali fora. Não é fácil precisar de ajuda. Porém Diego, um rapaz com problemas cognitivos, a convence a recebê-los dizendo: “Que bela loira!”. A porta se abre e, visto que ali, além de Rosa, havia também Enza, que recebe a cesta, na vez seguinte organizam-se nos espaços comuns do condomínio, pois nas casas não havia espaço para aquela vida toda. Compartilham o lanche, e conversam. Então as “senhoras”, como eles as chamam, mais do que pelos alimentos, esperam a companhia afetuosa e maltrapilha dos deficientes.
“Você é minha avó”, Francisca, deficiente, diz a Rosa: “Eu a guardarei para sempre em meu coração”. E não fala por brincadeira: as senhoras passam verdadeiramente a fazer parte da vida daqueles jovens. Como daquela vez em que Ana Maria, com síndrome de Down, conta que, com o Centro, foram ao Santuário de Lourdes: “Acendi uma vela diante de Maria só para você” e a senhora Giuseppina, com a cafeteira pronta à mão, se comove. “E da próxima vez, venha conosco”. “Não, com minhas pernas não conseguirei...”. “Não é problema”, replica Diego: “Eu a levo em minha cadeira”.
É como se os deficientes “pudessem ultrapassar o limite do possível”, diz Alessandra Maissa, educadora. “Certa vez fomos a um abrigo administrado pelas freiras, para brincar com as crianças. Vendo a necessidade delas, desde então Ana Maria pedia brinquedos e roupas para elas, até a quem encontrava no trem. E todos os dias chegava trazendo alguma coisa. Enchemos nove armários! Depois pedimos que parasse”.
Hoje são doze os deficientes de Cuidado e Reabilitação que fazem caritativa, junto com os educadores e alguns pais. Cinco são as famílias acompanhadas. Uma vez por ano, os voluntários do Banco de solidariedade se encontram em assembleia. “Na primeira vez, não nos olhavam com bons olhos”, conta Alessandra. “Agora nos esperam: veja que, enquanto os ‘normais’ relatam a fadiga, nossos jovens contam só a alegria. Francisca interveio e repetiu durante dez minutos: Quando fomos ao Papa, abracei-o duas vezes e ele entrou em meu coração”. Sim, porque estavam na primeira fila durante a audiência do Papa Francisco com o Banco Alimentar, em 3 de outubro do ano passado. Muitos devem ter pensado que eram beneficiários, e não voluntários...
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