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OS FATOS

O Movimento em Aracaju

01/12/2011 - APROFUNDAMENTOS - PASSOS DEZEMBRO

Alguns testemunhos da vida da Comunidade CL em Aracaju (SE). Depoimentos recolhidos pelo jornalista Davide Perillo que visitou a comunidade em julho de 2011

Camilo
Em 2007, comprei na livraria o livro É possível viver assim? e vi a vitalidade do Movimento, pois são textos de palestras de Dom Giussani. Sobretudo no primeiro capitulo quando fala da fé como encontro, entendi que ali tinha uma coisa diferente. A posição de uma abertura a tudo, mas ancorada na Igreja. Fizemos uma transição do antigo movimento Ecclesia Mater, que durou uns cinco ou seis meses. A batalha era colocar diante dos olhos de todos a tradição cristã, promovendo eventos culturais, fazendo estudos sobre o catecismo ou teólogos. E desde que li Dom Giussani comecei a usar o seu método no grupo anterior, pois via o risco de saber muitas coisas, mas sem impacto na própria vida. Comecei a dar ênfase na questão da experiência e não na questão doutrinal e vi que as pessoas mudaram. Entendi que era bom e decidi aprofundar. O ponto decisivo da mudança foi quando fui a Salvador. Conheci Otoney e outras pessoas que achei muito estranhas, porque não eram nada como eu imaginava. Mas eu fiquei porque vi uma verdade nele que era inegociável e entendi que Otoney carregava algo que era pra mim também e era uma pessoa com quem eu podia dialogar. Na volta decidi apresentar o Movimento em Aracaju. Eu disse que era uma coisa boa.
Eu comecei aquele primeiro grupo porque eu fiquei doente. Eu tive uma hepatite e com 21 anos eu me vi na eminência de morrer. Ali eu entendi que a faculdade e a dimensão cultural não me ajudavam a responder aquela circunstância que eu estava vivendo. Pra mim foi a oportunidade de verificar como tudo aquilo em que eu apoiava a minha vida era inconsistente e me apoiar naquilo que era a única possibilidade pra mim, que era o que a minha mãe sempre me dizia mas eu nunca tinha levado em consideração. Ao mesmo tempo foi um momento muito duro porque passei nove meses afastado das coisas, sem trabalhar. Foi nessa época que eu conheci o Lucas. E com ele e outros comecei a experiência de um cristianismo de desesperados, não era um cristianismo solar como falou uma vez Vittadini. Assim, o que eu transmiti pra ele é que não temos esperanças humanas, apenas em Deus, então era a busca de viver uma vida reta, e por isso foi difícil passar para a experiência do Movimento, que era bem mais leve. Hoje, graças a Dom Giussani, eu faço a experiência que Cristo me dá tudo, não só que me tira tudo. Mas, mesmo sendo pesada, era uma experiência de verdade, e por isso outros jovens se aproximaram, e eu tinha preocupação por eles, mas entendi com Carrón que é preciso estar disposto a aprender novamente aquilo que achamos que já sabemos. E no antigo grupo era a tendência a ser pequeno, porque era intransigente, e com CL é uma maneira de alegre viver. A amizade com Otoney foi decisiva para entender mais a questão da abertura do Movimento. A nossa questão não é o moralismo, mas se alguém se comove por Cristo. O que me atraiu muito é que Dom Giussani comunica uma vida e isso se transmite nos textos dele. Depois, fiquei muito quando assisti ao vídeo da educação (O risco educativo) e o documentário pelos 50 anos de CL. Eu tive uma empatia muito grande com ele, apesar de nunca ter visto ele antes. Entendi que tinha alguma coisa que era pra mim.
Aqui o Movimento é pequeno e não temos nada muito estruturado. Temos apenas o nosso cotidiano. Eu sou aluno de Doutorado e resolvi fazer uma matéria com os alunos da graduação. A professora está cursando mestrado e eu entrei na sala de aula e à princípio pensei “o que estou fazendo aqui?”. Ela falou algumas coisas que eu não gostei na primeira aula, mas depois comecei a perguntar algumas coisas depois das aulas, até que ela descobriu que eu faço doutorado. Ela me perguntou como eu me sentia sendo seu aluno, e eu respondi que me sentia normal, pois sou aluno como os outros. Essa professora é psicóloga e está passando por um problema, porque era noiva, se organizou toda pra casar, e perto do casamento romperam. Sofreu muito e dá pra ver que carrega marcas disso. No final do curso eu fui agradecer a ela, dizer que aprendi várias coisas que eu não sabia, e ela disse que comigo aprendeu que é possível ter esperança na vida, é possível ser sérios na vida e dialogar humanamente. Eu nunca falei pra ela da minha experiência religiosa, mas estou carregando um olhar que ela percebeu que é um olhar diferente. Isso me surpreendeu, porque ela percebeu porque está aberta pela experiência que fez. E esse nosso olhar leva algo novo para a sociedade, não por um discurso, mas por uma maneira de olhar que é diferente.
Aqui não temos nada de extraordinário, mas existe entre nós uma atração vencedora que nos faz estar juntos. A essa amizade chamamos Comunhão e Libertação. E se penso que fui eu que comecei isso aqui, penso que a minha história é uma misericórdia que me suporta, pois minha vida tem sido reconstruída inúmeras vezes.

Lucas
Inicialmente eu tive resistência com o Movimento, pois estava envolvido com a questão espiritualista. Fiquei 19 dias em retiro estudando a vida dos Santos. Voltei provocado porque percebi em mim que eu valorizava a razão, mas deixava de lado o afeto, e nestes Santos havia uma paixão pela vida. Voltei desejando que a minha vida fosse una e fui conversar com o Camilo sobre isso. E Camilo ficou me citando Giussani e aí eu entendi que era uma coisa interessante. Comecei a vir a algumas Escolas de Comunidades e sobretudo quando chegaram a Silvia e o Gualter, de São Paulo, colocaram muito a tema a questão da experiência, e eu ficava até com raiva, porque eu ficava mais parado na interpretação. E alguns meses depois, durante a defesa do Mestrado do Camilo, Dom Petrini veio para participar e organizamos uma assembleia com os amigos. Dom Petrini começou a dar seu testemunho e nesta ocasião eu disse que não era de Comunhão e Libertação e no final ele quis falar comigo. Pediu que eu começasse a ir em Salvador e disse que seria bom eu ler Giussani, pois ele falava dessa unidade que eu buscava na vida dos Santos, desse relacionamento com Cristo. Na semana seguinte eu comprei 7 livros de Giussani de uma vez e um desses foi É possível viver assim? Quando li a introdução o meu coração começou a arder porque pensei que o que ele falava era o que eu tinha buscado por toda a minha vida. Eu tinha acabado de entrar a universidade, e a partir disso eu propus para alguns amigos ler esse livro, que era a Escola de Comunidade. Quando estive em salvador ouvi a música La Strada e um amigo (Marcelo) que estava ao meu lado disse: “Essa é a minha vida”. E entendi que era a minha também, pois o Zerbini falou que o sim de Dom Petrini tinha gerado o dele, e entendi que o meu também, pois eu era católico, mas dei o meu sim a Igreja quando conheci o Camilo e o encontro com o Movimento era uma coroação desse sim. Encontrar Giussani devolveu a leveza pra mim, porque não era mais eu que construía a minha vida, a mim cabia viver porque tinha um Outro que a sustentava.
Hoje o grupo de universitários de CL é formado pela maioria de meninos que não frequentavam a Igreja. Foram atraídos porque conosco não tinha muralismo e porque somos combativos, enfrentamos as questões dentro da universidade. Um rapaz chamado João, que estudava comigo, não gostava de mim, mas tínhamos um amigo em comum que era muito próximo, então ele pensou que deveria me dar uma chance e começou a vir à EdC. E depois de um tempo ele falou: “Com vocês percebi que Cristo não é apenas um judeu que morreu há 2 mil anos, pois eu experimento algo novo na vida, e se vocês chamam isso de Cristo, eu quero isso pra mim”. Ele não sabia quase nada do Movimento, mas rapidamente entendeu o que Giussani disse desde o início.
Antes de conhecer o Movimento a gente pensava que a Igreja era para alguns eleitos. Encontrar o Movimento pra mim foi entender que Cristo é para qualquer pessoa. E por isso me interessa todo mundo. Pessoas para quem eu antes não olharia, agora são meus grandes amigos.

Silvia
Eu estou dentro do Movimento desde os 16 anos, quando comecei com os colegiais em São Paulo. Sou enfermeira e sempre trabalhei com criança. Eu me casei em 2007 e como a família da minha mãe é de Aracaju, vim passar a lua de mel aqui e minha família conheceu meu marido Gualter. Gostaram dele e por isso, em 2008, um primo ofereceu um emprego para ele na área de engenharia elétrica e nos propunha vir pra cá. Ficamos em dúvida, pois logo após o casamento eu fiquei grávida, e na época minha mãe estava com câncer. Começamos a rezar juntos pedindo um sinal, pois eu trabalhava há 6 anos em um hospital, meu marido fazia mestrado, e seria uma mudança total. Eu tinha medo de deixar meus amigos e foi quando uma amiga me alertou que tinha uma nota na revista Passos falando de uma nova comunidade do Movimento aqui em Aracaju. Entendi que era o sinal que precisávamos. Ligamos no outro dia para o Camilo e nos apresentamos. Pouco depois viemos a Aracaju para o Gualter fazer a entrevista de trabalho e nos encontramos com o Camilo e a Ana Paula e foi muito bonito. Logo dissemos que não tínhamos nenhuma responsabilidade no Movimento, éramos apenas dois “tontos”. E naquele encontro já vimos que aqui tinha uma comunidade viva. Pra nós foi muito importante essa mudança, pois em São Paulo vivíamos o Movimento mecanicamente. Íamos à Escola de Comunidade porque íamos, mas não tinha comoção. A primeira EdC que eu vim aqui eu voltei pra casa chorando porque a dona Laurita, mãe do Lucas, contou que depois que viu a mudança no seu filho quis começar a participar do Movimento e começou a entender as próprias dores e sofrimentos. Saí dali dizendo: “Obrigada, Senhor, por ter me permitido participar desse encontro. Foi tudo pra mim. Quero viver isso até o fim”. A adaptação não foi fácil, pois quando chegamos minha filha tinha meses e foi essa companhia que me ajudou. Aqui voltei a me comover com as coisas. No meu trabalho eu tenho que olhar para aquelas vidas diante de vim e estava vivendo de modo superficial. E desde que cheguei aqui todos os dias eu me deparo com Cristo através desses amigos, através desses testemunhos, e não tem como viver como antes. Eu estou muito feliz, pois aqui o Espírito Santo é vivo e eu não quero mais viver como eu vivia antes, tratando as coisas como se fossem óbvias, sem me comover. Estar aqui hoje eu entendo como um renascimento. Pra mim é autoridade a amizade com o Lucas, Camilo e Ana Paula, pois me ajudam a olhar para a minha realidade de verdade. Essa comunidade vive de uma maneira muito simples e fomos muito bem acolhidos. Na convivência com eles percebi que tinha perdido essa simplicidade e agora que reencontrei esse olhar eu não quero perder mais.

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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