O cenário é despojado: apenas um tablado redondo. Em cena dois atores – White e Black – o primeiro um professor suicida e ateu convicto, salvo inesperadamente por Black, um ex-presidiário evangélico. O diálogo entre eles, um embate de ideias sobre o sentido da fé e da não crença resume o argumento da peça “O Expresso do Pôr do Sol” do escritor norte-americano Cormac McCarthy que entrou em cartaz no Tucarena, em São Paulo, marcando a estreia na direção do ator Fábio Assunção. O texto ganhou filme para a TV “The Sunset Limited” com Tommy Lee Jones, que também foi o produtor, no papel de White, e Samuel L. Jackson, como Black.
Em pouco mais de uma hora, o ex-presidiário evangélico, Black, interpretado por Guilherme Sant’Anna, vai interpelar o intelectual niilista White, vivido por Cacá Amaral, do porquê de sua escolha pela morte. O professor, desiludido com família, trabalho e amizades, perdeu o gosto pela vida. Black, embora vivendo em um ambiente hostil – um apartamento na periferia de uma grande cidade dos EUA, onde está sempre cercado por drogados e ladrões, embora tendo tido uma história pessoal marcada por violência e sofrimento, quer ajudá-lo a recuperar este gosto.
A peça não toma partido. Embora Black tenha mais falas e mais argumentos contrários à “teimosia” de White em querer morrer, a balança fica equilibrada entre os dois. Black se sente apoiado por Deus e nisso encontrou sentido para a existência. Explica que um encontro acontecido na prisão mudou sua vida e se mostra, todo o tempo, preocupado em ajudar o próximo, consciente que o dom recebido implica em que ele mesmo agora procure o bem do outro. White não acredita mais nas pessoas ou em si mesmo: para ele a fé é apenas um consolo ilusório. O amor solidário do primeiro se choca sempre com o individualismo sem esperança do segundo. A ação lembra, em certo sentido, o embate das ondas contra um paredão rochoso. Black representa as águas, em constante movimento, buscando sempre um modo de penetrar no coração endurecido do rochedo que é White.
Quem viu o filme poderá sentir falta de uma ambientação mais adequada para o cenário que une Black e White. No filme, o apartamento simples permite algumas situações que aproximam os dois protagonistas, como por exemplo, Black fazendo uma sopa para White, revelando uma intimidade que fica ausente da peça. O cenário totalmente despojado, em algumas situações dispersa a plateia ao invés de a aproximar mais dos atores, ainda que a iluminação seja considerada um dos pontos fortes da peça.
A opção por uma hora de peça ante quase duas horas de filme também afetou alguns argumentos. Faltam alguns embates de White x Black que não estão na peça. A obra ganha em agilidade e leveza, mas perde algumas falas notáveis. Guilherme Sant’Anna e Cacá Amaral estão ótimos em seus papeis e dão credibilidade ao combate de ideais entre o professor e o ex-presidiário.
McCarthy é famoso por seu trabalho com literatura de ficção. Além de “The Sunset Limited” (versão em inglês de “O Expresso do Pôr do Sol”) escrita em 2006, lançou livros como “The Road” (“A Estrada”, uma reflexão sobre a presença de Deus no mundo, ambientada num cenário pós-apocalíptico, que também virou filme com Viggo Mortensen como ator principal) e “No Country For Old Men” (“Onde Os Fracos Não Têm Vez” com Josh Brolin e Javier Bardem que ganhou o Oscar de melhor filme e melhor direção para os irmãos Coen).
"O Expresso do Pôr do Sol" estreou no dia 2 de setembro no Tucarena. A temporada vai até 25 de novembro e as apresentações acontecem às sextas e sábados, às 21h e domingos, às 19h30.
Entenda a história
Em “O Expresso do Pôr do Sol”, dois homens fechados em um apartamento do subúrbio da costa oeste americana debatem o valor da vida e da existência. O debate começa depois que o professor ateu White revela que pretende cometer suicídio se jogando na frente de um trem da linha Sunset Limited, que liga Nova Orleans a Los Angeles. Para impedi-lo, o ex-presidiário evangélico Black tenta argumentar a favor da vida.
O Expresso do Pôr do Sol
Local: Tucarena – Entrada pela Rua Bartira, esquina com a Rua Monte Alegre, 1024 - Perdizes (São Paulo)
Temporada: até 25 de novembro de 2012
Ingressos: Sexta-feira R$ 40,00; Sábados e Domingos R$ 50,00
(Desconto de 50% para Estudantes, maiores de 60 anos, aposentados)
Preço especial PUC-SP: para estudantes, professores e funcionários da PUC sob comprovação - número de ingressos limitado a 10% da lotação do teatro (compra somente na bilheteria do teatro)
Credits /
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón