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OS FATOS

“A pedra que me moveu até chegar a Deus”

por Carmen Giussani
24/10/2011 - Etsuro Sotoo, escultor da Sagrada Família de Barcelona, recebeu, na Itália, um importante reconhecimento internacional: o Prêmio de Cultura Católica 2011. “Este prêmio não é meu, mas de quem me ajuda a olhar uma Presença”
Etsuro Sotoo durante a premiação.
Etsuro Sotoo durante a premiação.

Na sexta-feira, dia 14 de outubro, cheguei a Bassano, na Itália, para a cerimônia de entrega do Prêmio Internacional de Cultura Católica, e fui apresentada ao “prefeito”. Levei um susto por ver um rapaz tão jovem. Diante da minha surpresa, com um sorriso e um certo orgulho, ele me explica que é o prefeito da “Cidade dos jovens”. Trata-se de uma das duas fundações de padre Didimo Mantiero. A outra é a Escola de Cultura Católica, constituída em 1981. Na introdução à biografia de padre Didimo realizada por Lusmila Grygiel, o então cardeal Ratzinger escreveu: “O jovem sacerdote ficou marcado pelo modo amigável com o qual Abraão fala com Deus, longamente e com fervor” pedindo a Deus para poupar a cidade inteira se encontrasse ali ao menos dez justos. “Temor de Deus e amor aos homens lutavam em Abraão, mas Deus se deixava comover pelas insistentes orações do homem”. O pároco di Bassano, morto em 1991, ficou marcado pela história de Abraão e a levou a sério. Procurou dez jovens dispostos a rezar por todos os jovens da cidade e os chamou de “Os Dez”. Eles se tornaram o sustento escondido do apostolado e de todas as obras que estavam surgindo. Alguns dos primeiros “dez” ofereceram também as suas vidas como sacrifício vicário. E o Senhor aceitou a oferta deles.
Um dos frutos desta carga de oração é o Prêmio de Cultura Católica que neste ano chegou a sua XXIX edição. No elenco dos premiados, entre os quais aparecem nomes como Augusto Del Noce, Cornelio Fabro, Joseph Ratzinger, Luigi Giussani, Riccardo Muti, Krzyztof Zanussi, Angelo Scola e Mary Ann Glendon, se juntou, hoje, o mestre Etsuro Sotoo, escultor do Templo da Sagrada Família de Barcelona.
Sotoo e sua mulher, Isako, chegaram a Bassano no dia anterior e puderam conhecer essa realidade de jovens e de mestres. “Que grupo extraordinário!”, disse. Ficou tocado como aqui existe a transmissão de vida e da fé de uma geração para a outra. Um fato decisivo. Ele estava visivelmente emocionado pela homenagem que lhe era conferida. Explicou no final da cerimônia com a sua habitual perspicácia.
Chegado o momento da premiação, a bela Sala Chilesotti do Museu Cívico local estava lotada e havia muitos jovens. O professor Gianfranco Morra, presidente do Júri do Prêmio até a última edição, passa o bastão para o seu sucessor, o professor Sergio Belardinelli, após ter recebido um comovente agradecimento pela longa amizade e a incansável dedicação.
Luca Doninelli toma a palavra para uma breve entrevista com o premiado: “Gaudí o conduziu à fé. Por que o senhor fala que ‘da pedra’ chegou ao mestre?”. Sotoo relembra que, sendo escultor, saiu do Japão para a Europa em busca da pedra, e assim chegou até Barcelona. Conta como, a partir da pedra, foi levado a buscar Gaudí e como a obra de Gaudí o levou a “olhar onde ele olhava”, ao acontecimento vivo de Jesus. E explica: “O que torna mãe uma mulher? A criança. E a criança não fala, não explica. No entanto, é ela que ‘extrai’ da mulher o seu ser mãe. Assim acontece com a pedra. A pedra tem um poder aparecido com o das crianças. É dura, não se move. É tão dura que ‘me’ move. Se você busca a verdade, qualquer realidade vai lhe forçar a se mover. E leva até o reconhecimento de Deus”.
E sobre o segredo da Sagrada Família que atrai multidões de visitantes do mundo todo, ele acrescenta: “Para criar suas obras, Gaudí se adequava ao cliente. Buscava fazê-lo feliz. Fez assim com as famílias Battló e Guell. Cada obra sua é diferente. Mas o ordenador da Sagrada Família é Deus, e Gaudí quer fazê-lo feliz com a total dedicação de si mesmo. Recebemos tudo d’Ele, o tempo e o espaço, os talentos e as ocasiões, e a Ele devemos dar o máximo de beleza de que somos capazes”.
O professor Belardinelli, na sua introdução, disse que aquilo que mais negligenciamos é a beleza escondida das coisas, pois estamos submergidos em uma espécie de névoa que nos impede de ver. Sotoo, que se considera uma pequena peça dentro da grande obra de um Outro, nos indica como romper essa armadilha e olhar a realidade dobrando-se a ela. A partir da pedra, a partir da realidade, nasce o estupor que nos alimenta e abre a nossa inteligência. Por isso Sotoo, comovido, agradece com essas palavras: “Na verdade este prêmio não está sendo dado para mim, mas para aqueles que me acompanham, que me levaram ao Batismo e que são meus companheiros naquela conversão contínua que nasce do olhar para uma Presença”. Pronuncia um nome após o outro, começando pelo de sua mulher. Depois veio a festa junto com os jovens que logo o rodearam, desejosos para aprender o seu olhar sobre a realidade. E a sua fé.

 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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