Desde os primeiríssimos dias do Movimento tivemos um conceito claro e simples: tempo livre é o tempo em que a pessoa não é obrigada a fazer nada, não há coisa alguma que se seja obrigado a fazer, o tempo livre é tempo livre.
Como nós discutíamos com freqüência com os pais e com os professores, que diziam que GS ocupava demais o tempo livre dos jovens, enquanto os jovens deveriam estudar ou trabalhar na cozinha, em casa, eu dizia: “O tempo livre é muito bom para os jovens!”. “Mas um jovem, uma pessoa adulta”, retrucavam, “é julgado pelo trabalho, pela seriedade do trabalho, pela tenacidade e pela fidelidade ao trabalho”. “Não”, eu respondia, “de jeito nenhum! Um jovem é julgado pela maneira como usa o tempo livre”. Oh, todos se escandalizavam. Mas... se é tempo livre, significa que a pessoa é livre para fazer o que quiser. Portanto, se entende o que a pessoa quer pela maneira como utiliza o seu tempo livre.
Eu entendo o que uma pessoa - jovem ou adulta - realmente quer não pelo trabalho, pelo estudo, ou seja, por aquilo que é obrigada a fazer, pelas conveniências ou pelas necessidades sociais, mas pela maneira como usa o seu tempo livre. Se um jovem ou uma pessoa madura desperdiça o tempo livre, não ama a vida: é bobo. As férias, com efeito, são o tempo clássico em que quase todos se tornam bobos. Ao contrário, as férias são o tempo mais nobre do ano, pois são o momento em que a pessoa se empenha como quiser com o valor que reconhece prevalecer na sua vida, ou então não se empenha de jeito nenhum com nada e então, justamente, é boba.
A resposta que dávamos aos pais e professores há mais de quarenta anos tem uma profundidade à qual eles nunca tinham chegado: o valor maior do homem, a virtude, a coragem, a energia do homem, aquilo pelo qual vale a pena viver, está na gratuidade, na capacidade da gratuidade. E a gratuidade está justamente no tempo livre que vem à tona e se afirma de forma surpreendente.
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A maneira de rezar, a fidelidade à oração, a verdade dos relacionamentos, a dedicação de si, o gosto pelas coisas, a modéstia na forma de usar a realidade, a comoção e a compaixão para com as coisas, tudo isto se vê muito mais nas férias do que durante o ano. De férias, a pessoa é livre e, se é livre, faz o que quer.
Isto quer dizer que as férias são uma coisa importante. Em primeiro lugar, isto implica atenção na escolha da companhia e do lugar, mas sobretudo tem a ver com a maneira como se vive: se as férias não fazem nunca você recordar o que gostaria de recordar mais, se não o tornam melhor para com os outros, mas o tornam mais instintivo, se não o fazem aprender a olhar a natureza com intenção profunda, se não o fazem fazer um sacrifício com alegria, o tempo do repouso não cumpre o seu objetivo.
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As férias devem ser as mais livres possíveis. O critério das férias é respirar, se possível a plenos pulmões.
Deste ponto de vista, fixar a priori como princípio que um grupo tenha de passar as férias juntos é antes de mais nada contrário ao que foi dito, pois os mais frágeis da companhia, por exemplo, podem não ousar dizer não. Em segundo lugar, é contra o princípio missionário: ir em férias juntos tem de responder a este critério. Seja como for, em primeiro lugar a liberdade acima de tudo. Liberdade de fazer o que se quer... segundo o ideal!
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O que você ganha, vivendo assim? A gratuidade, a pureza do relacionamento humano.
Em tudo isto, a última coisa de que podemos ser acusados é de convidar a uma vida triste ou obrigar a uma vida pesada: seria o sinal de que justamente quem faz as objeções é que é triste, pesado ou macilento. Onde macilento indica uma pessoa que não come e não bebe, por isso não goza da vida. E dizer que Jesus identificou o instrumento, o nexo supremo entre o homem que caminha na terra e o Deus vivo, o Infinito, o Mistério infinito, com o comer e com o beber: a eucaristia é comer e beber - ainda que hoje tão freqüentemente seja reduzida a um esquematismo do qual não se compreende mais o significado -. É um comer e um beber: o ágape é um comer e beber. A expressão maior do relacionamento entre mim e esta presença que é Deus feito homem em ti, ó Cristo, é comer e beber contigo. Onde tu te identificas com o que comes e bebes, de modo tal que “mesmo vivendo na carne eu vivo na fé do Filho de Deus” (“fé” quer dizer reconhecer uma Presença).
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