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CINEMA/VÍDEO

127 horas

por Raffaele Chiarulli
02/03/2011 - Em maio de 2003, o alpinista Aron Ralston (James Franco) fazia uma escalada nas montanhas de Utah, quando acabou ficando com seu braço preso em uma fenda. E ele luta para sobreviver

Tirado do livro autobiográfico de Aron Ralston Between a Rock and a Hard Place (Entre uma rocha e um lugar duro; ndt), e escrito por Danny Boyle (vencedor de 8 Oscars por Quem quer ser um milionário?) em parceria com Simon Beaufoy (escritor premiado com o Oscar pelo mesmo filme), é – segundo a definição do diretor – “um filme de ação onde o herói não pode se mover”. Um desafio, o de relatar as cento e vinte e sete horas do título – lapso de tempo no qual uma pedra mantém o protagonista preso numa garganta de um parque nacional do Utah –, vencido sobretudo graças ao talento visual de um diretor de estilo reconhecível, mas capaz de se renovar filme após filme. Um desafio também vencido com sucesso pelo protagonista James Franco (ator em grande crescimento e pronto, já há um tempo, para dar o salto rumo ao firmamento hollywoodiano; inclusive, recebeu a indicação para o Oscar por sua atuação nesse filme) cuja interpretação pode ser comparada à de Tom Hanks em Náufrago e de Emile Hirsch em Na natureza selvagem com os quais esse filme dialoga, pelo menos em alguns aspectos, como no do tema.
O que passa na cabeça de um homem convencido de estar para morrer, quando tem todo o tempo para refazer o percurso da própria vida através da galeria de rostos, ações e erros que fizeram dele o homem que é? O que resta de uma vida dedicada à aventura e à presumida independência, quando as recordações se fazem nítidas e as certezas mais límpidas? Quanto conta o afeto dos entes queridos e o amor de uma garota com quem, talvez, as coisas pudessem ter caminhado de outra forma? E enquanto o jovem medita sobre o próprio orgulho (ele só se encontra em problemas porque não queria dizer a ninguém para onde ia), o filme reflete sobre conceitos de tempo e de espaço, e a garganta estreitíssima se torna um lugar enorme, como um deserto ou um oceano, onde a mente pode vagar sem barreiras, lutando extenuadamente para manter-se lúcida (é excepcional a sequência em que o jovem finge fazer uma transmissão de TV). O filme mantém-se vivo, exatamente como o protagonista, recorrendo a flashbacks, sonhos e alucinações (e o diretor, para dar uma “consistência” diversa para os vários planos do relato, trabalhou com dois diretores de fotografia diferentes), onde o uso da câmera serviu ao protagonista para se comunicar e para não ficar louco, mas também foi um forte elemento narrativo e de linguagem (foram bastante funcionais as imagens fragmentadas com o recurso do split screen). Um filme que não entedia – apesar de se manter preso junto com o seu protagonista – e que permanece enxuto, não obstante o ímpeto visionário de muitas sequências, pelo menos até à cena que resolve o enredo (e esta é uma advertência para os estômagos mais sensíveis que poderiam ficar incomodados), em que não se poupam detalhes ainda que se sustente a tese segundo a qual o homem, mais do que a qualquer outra coisa, é ligado à vida. Mas é um final – sem revelar nada – também de muita comoção e ternura, no qual, numa explosão de emoções, toda a aventura adquire um sentido grande e precioso.

* Texto extraído do site Sentieri del Cinema. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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