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CINEMA/VÍDEO

Um novo despertar

por Simone Fortunato
27/05/2011 - Um homem vítima de uma grave forma de depressão cai num abismo feito de solidão e álcool. Retomará a vida graças a uma ajuda inesperada: a de um fantoche

Filme bizarro e estranho, não muito fácil de entender à primeira vista. É uma história de feridas, lamentos e desesperos, pelo menos no início. Walter Black (interpretado por Mel Gibson que está excelente num papel não muito fácil para ele) vê tudo desmoronando sob os seus pés. A fábrica de brinquedos herdada do pai está em crise, a família, composta por mulher e dois filhos, está a ponto de desabar. Sobretudo, não tem nenhum amigo, nem mesmo no horizonte, com quem se confrontar e compartilhar as tantas dores. Tudo o que resta é o álcool e a sacada do décimo andar de um hotel decadente de onde poderia se jogar. Ou talvez, não...
O quarto filme de Jodie Foster é, certamente, o seu filme mais pessoal e de sucesso. E também é o mais corajoso: leva a sério um argumento complicado como a depressão e o enfrenta brincando, sem dúvida, com o papel e o carisma de Gibson que, com a depressão, o álcool, os fracassos e o abandono teve e talvez ainda tenha bastante familiaridade. A força do filme, que combina de modo inteligente tons dramáticos e mais leves, é ter enfrentado o tema não de um ponto de vista psicológico, ou pior ainda clínico, mas do ponto de vista dos relacionamentos humanos e do horizonte último para o qual olham os protagonistas, ainda que, em muitos momentos, de maneira inconsciente – ou seja, para a felicidade. A metáfora do castor-fantoche com o qual o protagonista se relaciona está centrada e lembra, guardadas as devidas diferenças entre os dois filmes, o poético A garota ideal no qual o jovem Ryan Gosling mostrava a sua dificuldade de se relacionar com o mundo ficando noivo de uma boneca de silicone. Neste último, a boneca era um pedido de ajuda levado a sério pela comunidade; aqui, o castor, depois das primeiras perplexidades inevitáveis, é aceito pela família. O roteiro de Kyle Killen segue duas histórias que se espelham uma na outra: a de Walter e do relacionamento com a doença, de um lado; e a bastante fina e delicada do filho adolescente, que anota em papeizinhos suas semelhanças com o pai – para tentar, dolorosamente, eliminá-las –, e do seu relacionamento com uma colega de escola, interpretada por Jennifer Lawrence, também ela ferida por tantas dificuldades de família. Em ambas as histórias a solução para o problema não está num prontuário de boas maneiras ou numa lista de remédios, mas num relacionamento sério tendo, no centro, o cuidado do outro. Walter Black renasce no momento em que rompe consigo mesmo e com o fantoche, confiando em quem nunca o havia abandonado verdadeiramente; os dois garotos, por sua vez, se descobrem companheiros de caminho, mais do que namoradinhos, quando decidem levar a sério aquilo que, de fato, marcou, no bem e no mal, as suas vidas. E quando decidem trazer à tona, o preto no branco – que bela a metáfora dos grafites –, aquilo que os une. Como recorda o belo final, “nem tudo dará certo na vida, mas não somos obrigados a ficar sozinhos”.

* Extraído do site Sentieri del Cinema. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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