“No stop looking”, não pare de buscar. O que mais um pai pode deixar de herança? E Oskar Shell não quer parar de buscar por nada no mundo, custe o que custar, para encontrar a razão daquilo que aconteceu. Passou quase um ano depois do “dia mais feio”, em que “um homem que não conhece você se despedaça contra um prédio para te matar”, o dia 11 de setembro de 2001. O pai de Oskar, que agora tem 11 anos, estava em uma das Torres Gêmeas. “Dizem que se o sol explodisse, durante oito minutos não perceberíamos. Continuaríamos a ver sua luz e sentir seu calor”. É isso, diz a si mesmo Oskar, eu preciso fazer com que aqueles oito minutos com meu pai não terminem nunca. Sua maneira de exorcizar a dor é congelá-la, e elaborar uma estratégia para dar sentido a ela. “Não pare de buscar”, ensinava-lhe seu pai. Assim, quando Oskar encontra no armário uma chave com o nome Black, se convence de que aquela é a missão secreta que o pai lhe deixou: encontrar a porta que aquela chave abre. E decide ir atrás dos 472 Black de Nova Iorque para testar suas fechaduras. Planeja tudo como um cientista um pouco maluco: nomes, percursos, meses, anos.
Tão forte e Tão Perto é um filme poético e comovente, e se desenrola mais como uma fábula do que como uma história real. Foi tirado do romance homônimo de Jonathan Safran Foer, jovem escritor americano que se tornou famoso com Tudo se Ilumina, onde narra uma viagem dos Estados Unidos para a Ucrânia em busca de sua família exterminada pela Shoah. Em 2005, esteve entre os primeiros que tiveram a coragem de elaborar de forma literária a tragédia das Torres Gêmeas. E usando o esquema das histórias judaicas, uma busca contínua que se torna memória através da memória de outras histórias é o fio condutor também aqui. Stephen Daldry, que também dirigiu Billy Elliot, história de um jovem filho de mineiros com a dança nos pés e no coração que não “para de buscar” de seu sonho, não trai o espírito do livro.
Então, é um filme sobre o 11 de setembro? Sim, mas também não. O é, na reverberação da tragédia nas histórias pessoais, nas feridas de uma Nova Iorque belíssima e invernal, de uma maneira que não vemos normalmente no cinema. Mas, no fundo, também não. Fala de uma dor absoluta, da busca de si mesmo que é a busca de um pai. Oskar é um jovem especial, tem Síndrome de Asperger, um distúrbio similar ao autismo, que misteriosamente parece aguçar, junto com os medos, a inteligência e a sensibilidade. Seu pai também era, digamos, um neurótico, extravagante e que tenta cuidar dos medos do filho inventando para ele desafios complicados e confiando-lhe missões impossíveis, como encontrar o “sexto distrito perdido” de Nova Iorque no Central Park. Mas a doença de Oskar, e as neuroses e fobias de tantos personagens arruinados que encontramos, são o símbolo poético de algo mais profundo: a urgência humana de buscar o sentido da própria vida. Mesmo que a resposta seja, “na teoria”, negada.
Uma das Black que Oskar encontra, reza por ele para que Deus realize o milagre de fazê-lo encontrar o que procura. “Eu não acredito em milagres”, responde ele. De resto, nem mesmo o pai tinha lhe prometido que encontraria alguma coisa. E até o velho “Inquilino” misterioso e mudo que o acompanha pela cidade – um fragoroso Max von Sydow transbordante de humanidade – lhe responde com um gesto: “Não”. Não há milagre, a não ser na descoberta de que os medos podem ser curados, e que as histórias dos outros participam de uma memória coletiva que dá sentido à vida. Uma moral que funda suas raízes no judaísmo. Safran Foer se define ateu, mas diz de si mesmo: “Escrevo como judeu. Mais que tudo, meus romances são judeus”. Nas últimas cenas do filme, a mãe folheia um inacreditável livro pop-up em que Oskar conta sua aventura. No fim há um “flip” com o desenho de um homem que cai da torre atacada pelos terroristas. Mas movendo o joelho, ele dá uma cambalhota e sai seguro. Vivo.
Tão Forte e Tão Perto
Do romance de Jonathan Safran Foer
Direção de Stephen Daldry
Com Tom Hanks, Sandra Bullock, Thomas Horn, Max von Sydow
Credits /
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón