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CINEMA/VÍDEO

A busca por Quem o havia chamado

por Luca Marcora
30/10/2012 - O cinema contou em várias versões a vida de São Francisco. O filme da diretora italiana Liliana Cavani fala de um homem em luta. Uma radicalidade quase obsessiva por causa do aparente silêncio de Deus
Mickey Rourke como São Francisco de Assis
Mickey Rourke como São Francisco de Assis

A vida como vocação. A do “pobre de Assis” foi a mais representada pelo cinema italiano do período do cinema mudo à obra, entre outros, de Enrico Guazzoni (1911), Ugo Falena e Mario Cori (1918) e Giulio Antamoro (1927), hoje completamente invisível pelo habitual desinteresse que atinge a história do nosso cinema. Mais conhecidos, ao contrário, São Francisco Arauto de Deus (1950), filme neorrealista de Roberto Rossellini, o colossal filme americano de Michael Curtiz (1961) baseado no romance de Louis de Wohl, Irmão Sol, Irmã Lua (1972), de Franco Zefirelli, ou ainda as recentes ficções produzidas para a telinha.

Liliana Cavani merece um lugar de destaque porque fez pelo menos dois filmes sobre a figura do Santo patrono da Itália: o primeiro é de 1966, em sua primeira experiência atrás das câmeras, quando realizou para a RAI o filme Francisco de Assis “com visão laica”, onde “a sua rebelião antecipa os ideais que animaram o ano de 1968 e a divergência católica” (P. Mereghetti). Vinte e três anos depois retomou o personagem com uma postura diferente, mais concentrada em mostrar não tanto a revolução social nascida com o fransciscanismo, mas aquela que acontece no ânimo do jovem filho de comerciantes que deixou tudo para ir viver no meio dos pobres.

Cavani se mantém longe dos excessos ideológicos que permeavam o filme de 1966 e ao mesmo tempo evita os fáceis efeitos “fantásticos” de um certo tipo de cinema religioso, quanto a pompa do colossal filme holywoodiano: os episódios do lobo de Gubbio ou do sermão aos pássaros são de fato completamente assumidos, enquanto aquele do encontro com o sultão durante a V Cruzada só é evocado na cabeceira do pai moribundo.
O verdadeiro objeto da sua pesquisa é Francisco, feito pelo ator Mickey Rourke absolutamente discreto no papel, muito diferente de seus habituais papeis de símbolo sexual. A diretora mostrou a mudança de um homem que renunciou a todas as suas riquezas para viver entre os pobres e leprosos e registra sua escolha radical, talvez não a compreendendo até o fundo, e a imponência da luta entre a sua perseguição do ideal de viver como Cristo e a contínua tentativa feita por aqueles que estão em sua volta de diminuir, fazer objeções a essa escolha, ou reduzir sua vida à formalidade da regra.

O que Francisco realmente buscava? Não o sucesso de sua ação, nem o aumento do número de frades, muito menos o reconhecimento da Ordem por parte do Papa. O objeto da sua busca era o Outro, aquela presença que o havia chamado, que na última parte de sua vida se torna uma obsessão diante do aparente silêncio de Deus. Mas Deus respondeu dando-lhe os estigmas, isto é, assemelhando-o a Ele. E quando, no fim, Clara lembra os últimos instantes de Francisco (“O amor tornou seu corpo idêntico ao corpo do Amado. Pergunto-me se eu conseguiria amar tanto assim”), Cavani encerra seu filme de um modo quase improvisado, sem uma verdadeira e própria cena final. Diante do Mistério é impossível falar algo mais.

Francesco
Diretora: Liliana Cavani (IT/RFT 1989)
com Mickey Rourke, Helena Bonham Carter, Andréa Ferréol, Nikolaus Dutsch, Peter Berling, Hanns Zischler, Paolo Bonacelli, Fabio Bussotti, Riccardo de Torrebruna, Mario Adorf
DVD: General Video

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