CINEMA/VÍDEO

Apaixonar-se por Samantha 2.0

por Pietro Sincich

02/04/2014 - Num futuro indefinido, um quarentão inicia uma relação com um sistema operacional: seu relacionamento, entre confidências, ciúme e intimidade, será ocasião para aprofundar temas como o amor e as relações humanas

Em um futuro impreciso, a cidade de Los Angeles é o palco para uma inusitada história de amor. Theodore, interpretado otimamente por Joaquin Phoenix, é um solitário quarentão incapaz de estabelecer sólidas relações humanas. Desde que é deixado pela esposa, vive uma vida desiludida filtrada em cada aspecto do relacionamento com a tecnologia, em que os únicos momentos “reais” são as recordações nostálgicas de sua feliz vida de casado. Neste contexto se instaura o seu relacionamento com Samantha, exemplar de uma nova geração de inteligência artificial, criada para dialogar com o homem e apta a evoluir, conforme as experiências, e, portanto, dotada, de verdade, de uma espécie de consciência.

A desconfiança inicial nos confrontos com aquela que parece ser apenas uma voz (a bela voz de Scarlett Johansson) se transforma rapidamente numa ligação mais intensa: joga com ela, faz confidências e se diverte a ponto de atingir uma intimidade quase física que leva ambos a se apaixonarem. Sua idílica relação, ao final, desvendará uma faceta inesperada que levará a dupla a uma escolha dramática.

O mérito principal do diretor Spike Jonze é o de tornar crível e envolvente uma extravagante história de amor contando-a com tal sensibilidade que a torna paradigmática. Se tudo, desde a encenação até a direção, ajuda a transportar a história para uma dimensão longínqua da realidade que nos é mais familiar, ao contrário, a dinâmica dos relacionamentos é a mais realista possível, quase a sublinhar a imutabilidade do coração humano, com seus desejos e sofrimentos, iguais em toda época e contexto.

Por trás do tema da relação com a tecnologia, esconde-se uma obra sofisticada e complexa, embora não imediata na forma, que fala do homem e da sua exigência de ser amado, da confusão que, com frequência, gira em torno desse sentimento único e da liberdade que deriva de um olhar sobre a realidade e seus relacionamentos sem imposições, centrado na aceitação do outro como ele é, único caminho para suportar os inevitáveis problemas relacionados com a escolha de enfrentar o belíssimo desafio de compartilhar a vida com alguém.

Ela (Her)
Direção e roteiro: Spike Jonze
Elenco: Joaquin Phoenix, Scarlett Johansson, Rooney Mara e Amy Adams.

(Texto traduzido do site sentieridelcinema.it)

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